Valor econômico, v.19, n.4567, 14/08/2018. Brasil, p. A2

 

Acordo sobre base de Alcântara com EUA pode sair este ano, diz ministro

Andrea Jubé

Daniel Rittner

14/08/2018

 

 

Ministro Aloysio Nunes e James Mattis (esq.), secretário de Defesa dos EUA

Após uma audiência com o secretário de Defesa dos Estados Unidos, James Mattis, o ministro da Defesa, general Joaquim Silva e Luna, afirmou que o acordo de salvaguardas tecnológicas para o aproveitamento do campo de Alcântara, no Maranhão, pode ser concluído antes do fim do ano.

Segundo o ministro, houve avanço nas tratativas com os americanos. Sem entrar em detalhes, ele mencionou dois aspectos da conversa em relação ao acordo. "Avançamos no primeiro [ponto] como o Brasil queria, estamos ajustando o último, o secretário se comprometeu no mais curto prazo possível a ajustarmos os detalhes para que ficassem de acordo com os nossos interesses", disse Silva e Luna.

Para o general, é preciso que os termos do acordo sejam compreendidos pela sociedade, representada pelo Congresso. Os parlamentares já rejeitaram o último acordo com os Estados Unidos para exploração de Alcântara. No governo da ex-presidente Dilma Rousseff, um tratado foi assinado com a Ucrânia e os dois países criaram uma empresa binacional para explorar a base, mas a parceria não deu certo e o acordo acabou sendo "denunciado" (rescindido unilateralmente) pelo Brasil. Silva e Luna acrescentou que o acordo não trata "do que sai do chão", preocupa-se "com o que está no espaço".

O governo articula com os Estados Unidos a exploração comercial do campo de lançamento de satélites e estima nova receita de cerca de R$ 240 milhões com o aluguel do primeiro sítio.

Silva e Luna disse que o encontro serviu para ajustar com os Estados Unidos as percepções dos dois países sobre a "defesa desta parte do continente americano". Ele relatou que trataram de três temas principais: além do acordo de Alcântara, uma cooperação na área de defesa cibernética e a preocupação com a Venezuela.

O ministro relatou que os Estados Unidos desejam que o Brasil lidere uma força-tarefa de ajuda à Venezuela e se ofereceram para colaborar. E negou que tenha tratado com Mattis do acordo negociado entre a Boeing e a Embraer.

Foi a primeira visita ao Brasil de um secretário de Defesa dos Estados Unidos desde 2012. Mattis também reuniu-se com o chanceler Aloysio Nunes, no Palácio do Itamaraty, mas não fez declarações à imprensa brasileira. Ele iniciou por Brasília um giro pela região que ainda inclui Argentina, Chile e Colômbia.

O governo brasileiro tomou nota da escolha do secretário para o começo do périplo sul-americano. No entendimento do Itamaraty, o americano mandou um sinal claro de que está satisfeito com a cooperação bilateral na área de defesa e de que deseja aprofundá-la. Depois do mal-estar provocado pelo escândalo de espionagem eletrônica, os dois países retomaram projetos conjuntos a partir de 2015 - em um sinal de que o diálogo não é partidário e já ocorria no governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

Os Estados Unidos ficaram para trás em relação a outros países - como França, Suécia, Reino Unido e até Rússia - nas parcerias celebradas com o Brasil em produtos militares. Trata-se de um reflexo da política americana de restringir a transferência de tecnologia, que passou a ser exigida nos projetos brasileiros, como Prosub e o FX-2.