O globo, n. 31342, 30/05/2019. País, p. 13

 

Dodge denuncia Collor no Supremo por peculato

Rayanderson Guerra

30/05/2019

 

 

Senador é acusado de intermediar contratos entre a BR Distribuidora e a Laginha Agro Industrial, em crise financeira; segundo a PGR, dono da empresa manteria relações políticas e de amizade com o parlamentar

A procuradora-geral da República (PGR), Raquel Dodge, denunciou ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) o senador Fernando Collor de Mello (PROS-AL) pelo crime de peculato. Collor é acusado de atuar para que a BR Distribuidora firmasse contratos coma empresa Laginha Agro Industrial, do empresário alagoano JoãoLyra,comquem, segundo a PGR, o parlamentar mantém relações políticas, de amizade e familiares. Collor está licenciado do cargo desde abril.

Essa é a décima denúncia da PGR no âmbito da Lava Jato no STF. Segundo as investigações, o crime teria ocorrido em 2010, ano em que Collor e Lyra disputaram os cargos de governador e deputado federal. Na denúncia, Raquel Dodge diz que os contratos renderam R$ 240 milhões a Lyra, contrariaram regras da subsidiária da Petrobras, ignoraram a crise financeira da empresa alagoana e tiveram uma tramitação atípica.

A denúncia aponta que João Lyra pediu ajuda ao senador em 2010. Collor agendou e acompanhou o empresário numa reunião na sede da BR Distribuidora, no Rio. Os dois relataram dificuldades financeiras decorrentes de enchentes que teriam destruído parte da usina de cana-de-açúcar de Lyra. A proposta apresentada pelo senador e por Lyra era o fechamento de um contrato para a compra de safra futura de álcool no valor de R$ 1 bilhão.

Foram viabilizados três contratos, negociados e firmados em tempo recorde. O primeiro foi assinado em 9 de julho, dez dias após a reunião na BR Distribuidora. José Zônis, então diretor de operações logísticas da companhia estatal, indicado por Collor ao cargo, foi apontado por testemunhas como um dos principais executores das contratações com a usina alagoana.

A Laginha Agro Industrial não cumpriu os contratos, gerando prejuízo milionário à BR Distribuidora, ainda segundo o Ministério Público Federal. Procurado, Collor não foi encontrado.