O globo, n. 31342, 30/05/2019. Economia, p. 21

 

Casa própria

Geralda Doca

30/05/2019

 

 

Caixa fará programa de renegociação de dívidas. Medida beneficia até 600 mil

A Caixa Econômica Federal anunciará dentro de um mês um programa de renegociação de dívidas para os mutuários da casa própria que estão inadimplentes. A medida, segundo fontes do banco, vai beneficiar até 600 mil clientes que estão com as prestações atrasadas há mais de 90 dias e correm o risco de perder a moradia. Estão em estudo várias alternativas para as diferentes faixas de renda, englobando todos os tipos de contratos, desde os enquadrados no programa Minha Casa Minha Vida até aqueles com recursos da poupança e de mercado (acima de R$ 1,5 milhão).

O programa será acompanhado de uma ação educativa para que os beneficiados não voltem aficar inadimplentes. Eles vão receber informativos alertando que o imóvel irá a leilão em caso de atraso no pagamento de duas prestações.

Segundo fontes a pardas discussões, a Caixa não vai dar desconto no valor da prestação, mas avalia isentar o pagamento de multas e demais ônus da cobrança da dívida aderir ao programa. O cliente poderá incorporar no saldo devedor as parcelas em atraso. Elas serão recalculadas obedecendo ao comprometimento de renda do tomador.

Dessa forma, resolve-se o passado e o cliente volta a ter o compromisso de pagar só uma prestação acada mês. Outra possibilidade é o uso do saldo da conta do FGTS para quitar prestações vencidas. Quem está com dificuldades de honrar os pagamentos, mas ainda não está na situação de inadimplente, também poderá negociar uma pausa no pagamento. A extensão do prazo de pagamento do contrato também é possível.

A ideia é esclarecer para os clientes todas as possibilidades de renegociação. A Caixa fará campanha e ampliará a oferta de serviços pela internet, telefone, rede social, agências e pontos de atendimento, replicando as mesmas iniciativas da campanha de renegociação de dívidas de pessoas físicas e jurídicas, lançada na terça-feira.

O programa também pode ajudara melhorar o resultado da Caixa, que fez uma provisão de cerca de R$ 5 bilhões no balanço para perdas esperadas com calote nos financiamentos imobiliários. Além disso, o banco quer evitar aumento no estoque de imóveis retomados por falta de pagamento. Líder no mercado imobiliário, o banco tem 60 mil unidades nessa situação e quanto mais tempo demorar para se desfazer deles, mais crescem as despesas com IPTU e condomínio, além da desvalorização dos imóveis.

No ano passado, a Caixa chegou a anunciar um leilão de imóveis “no atacado”, com a oferta de até 6 mil unidades em todo o país. A iniciativa, porém, não deu certo, pois não apareceram investidores.

Pé no freio no crédito

Segundo o analista Carlos Daltozo, da Eleven Financial, todos os bancos enfrentam problemas com o crédito imobiliário em decorrência da crise na economia, aumento do desemprego, que atinge 13,4 milhões de pessoas no país, e queda na renda. Como esse tipo de financiamento tem garantia real, que é o próprio imóvel, as instituições entram com ações para retomar o bem, embora esta solução não seja a ideal. Ele lembrou que o estoque de bens retomados no setor bancário por falta de pagamento vem subindo desde 2015 e encerrou 2018 em valor correspondente a R$ 18,7 bilhões, sendo que R$ 16,8 bilhões são imóveis.

— Por isso, os bancos vêm realizando feirões e concedendo descontos no valor dos imóveis —disse Daltozo, acrescentando que os valores referentes a bens retomados constam do balanço das instituições, comprometendo a margem para a liberação de novos empréstimos.

Dados divulgados pelo Banco Central (BC) mostram que os bancos estão com o pé no freio nas concessões de crédito imobiliário. Números encerrados em abril mostram uma queda de 7% no número de operações entre abril de 2019 e igual mês de 2018. No mesmo período, o estoque subiu apenas 0,6%. O índice de inadimplência na modalidade passou de 1,2% em dezembro para 1,6% em abril.

O novo programa não é a única iniciativa em curso que deve ajudar a melhorar as contas do banco. Na última terça-feira, a Caixa lançou um programa de renegociação de dívidas chamado de “Você no Azul”, com a oferta de descontos de 40% a 90%. O pagamento, porém, precisa ser feito à vista. A campanha tem como alvo 2,9 milhões de clientes entre pessoas físicas e empresas, que devem à Caixa R$ 28,6 bilhões.

60 mil imóveis retomados por falta de pagamento

Este é o estoque nas mãos da Caixa, que é líder no mercado de crédito imobiliário

R$ 5 bi de provisões para perdas com calotes

É quanto o banco prevê em balanço que pode perder no financiamento de imóveis

-7% Traduzir de financiamentos imobiliários

Foi a queda no número de operações em abril na comparação com igual mês do ano passado

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Guedes diz que crédito emergencial ‘embananou de novo

Manoel Ventura

30/05/2019

 

 

Necessidade de recurso extra diminui de R$ 250 bi para R$ 146 bi. Contas do governo têm pior resultado para abril em 21 anos

O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse ontem que o projeto que permite ao governo abrir um crédito emergencial no Orçamento deste ano “embananou de novo”. A equipe econômica precisa dessa autorização para pagar aposentadorias e benefícios assistenciais a partir do segundo semestre.

Guedes deu a declaração durante abertura de um seminário. Ao explicar a ausência do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), no evento, Guedes afirmou que o senador precisava se reunir com lideranças partidárias para discutir o projeto:

— Ele (Fernando Coelho) ligou e falou: Paulo, estou entre ir ao seminário e ir à reunião com lideranças políticas, porque nós vamos discutir o PLN 4, que embananou de novo.

O PLN 4 é o projeto que precisa ser votado no Congresso e que dá ao governo a autorização especial. Em seguida, aos jornalistas, Guedes explicou que a dificuldade em aprovar o texto ocorre porque, agora, a necessidade de crédito extra mudou. Quando enviou o texto ao Legislativo, o governo pediu permissão para gastar quase R$ 250 bilhões. Mas o número ficou menor, o que fez os parlamentares pisarem no freio.

— Não é sensato botar em risco Previdência, Bolsa Família, Plano Safra, apenas por essa diferença técnica de aprovar o todo ou aprovar parte. Aprova o todo logo que simplifica tudo—rebateu o ministro.

O governo tem até o dia 15 de junho para conseguir aprovar o crédito emergencial. Depois dessa data, os pagamentos começarão a ficar prejudicados.

— Se não for aprovado em meados de junho, dia 15, 16, aí a gente vai começar a ter problemas com algumas despesas. Vai ficar difícil. O Plano Safra poderia ter um problema de atraso — disse o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida.

A restrição nos pagamentos seria a saída para o governo não descumprir a regra de ouro. A norma proíbe a União de se endividar para pagar despesas correntes, como folha de salários. Ele só pode emitir dívida se o dinheiro for destinado a investimentos.

Leis precisam de alteração

Por conta dos sucessivos rombos no Orçamento, no entanto, há hoje um desenquadramento que supera R$ 100 bilhões. Por isso, é preciso aprovar no Congresso uma autorização para emitir dívida e descumprir a regra de ouro.

Essa medida já estava prevista desde o ano passado, mas agora o governo está encontrando dificuldades para conseguir aprovar o projeto. O relator da proposta, deputado Hildo Rocha (MDBMA), resiste a dar parecer favorável. Uma das reclamações é que, atualmente, o valor necessário é bem menor: R$ 146 bilhões para garantir os pagamentos.

A mudança no valor é difícil porque outras duas leis teriam que ser alteradas. A Lei Orçamentária Anual de 2019 e a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2019 foram aprovadas prevendo a necessidade de um crédito de R$ 250 bilhões. O pedido de um aval especial precisa ser aprovado pela maioria absoluta em uma sessão conjunta do Congresso —257 deputados e 41 senadores.

O Tesouro também informou ontem que as contas do governo fecharam o mês de abril deste ano com o pior resultado desde 1998. O saldo ficou positivo em R$ 6,5 bilhões. Mesmo no azul, o número foi o menor para o mês de abril em 21 anos.