Correio braziliense, n. 20416, 14/04/2019. Política, p. 4

 

Oposição na arquibancada

Leonardo Cavalcanti

14/04/2019

 

 

Sem estratégia definida, os partidos adversários do Planalto assistem ao governo se atrapalhar com os próprios erros

 

Ao ser questionado sobre o papel da oposição nos 100 primeiros dias do governo Jair Bolsonaro, um prefeito de partido contrário ao Planalto reagiu com bom humor: “Aqui, da poltrona, eles não precisam de oposição, se atrapalham sozinhos. Nesses casos, a estratégia política recomendada é a de não partir para cima”. É uma meia-verdade. De fato, os recém-integrantes da Esplanada produziram todas as dificuldades enfrentadas até agora. Acabaram se sabotando, perdendo tempo e energia para resolver os problemas. Mas, ao mesmo tempo, o pessoal das legendas adversárias ainda está perdido, sem qualquer estratégia de enfrentamento — ao contrário, a guerra entre PT e demais agremiações só mostra a ausência de força.

Na Câmara dos Deputados, a oposição ao governo Bolsonaro soma 149 dos 513 parlamentares. No Senado, 20 dos 81. O número é insuficiente para qualquer ação mais efetiva de vetar uma proposta como a da Previdência que, entre os deputados, precisa de 308 votos. No papel, os adversários perderiam todas as batalhas contra o governo. Os integrantes da oposição sofrem com o racha dentro das próprias legendas. “Eles têm as próprias demandas, pois falta protagonismo”, afirma o cientista político Leonardo Barreto, da Capital Político. No caso do PT, a equação é um pouco mais difícil de ser resolvida por causa das denúncias de corrupção. “Os partidos de oposição têm uma dificuldade a mais em relação à reforma por causa da Previdência, pois existe uma dependência entre os governadores dessas legendas com a União”, diz Barreto.

Parte das siglas paga o preço por causa do protagonismo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Novas lideranças foram aniquiladas no caso do PT, e a bancada atual pode ser definida como “geração de gabinete”. “A oposição ao governo Fernando Henrique Cardoso era totalmente diferente da de hoje, em que a maior parte dos líderes veio da burocracia partidária.” O agravante é que, desde 2013, com as manifestações, os petistas perderam o monopólio das ruas. Dos candidatos do ano passado, enquanto Fernando Haddad (PT) hesita em assumir os mais de 47 milhões de votos em 2018, Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Guilherme Boulos (PSol) buscam um maior espaço — por sua vez, o PSB tenta se firmar como uma legenda de força no Congresso e nos estados.

O fato é que, em relação à Previdência — o mais importante projeto em discussão no Brasil —, a oposição e o próprio governo estão reféns do Centrão, o grupo formado por DEM, MDB, PRB, PSD, PP e PR. Com a aprovação da reforma na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), o texto vai entrar na fase de mudanças mais fortes antes de chegar ao plenário. Levantamento da Levels Inteligência, a pedido do Correio, mostra a dificuldade da oposição em ganhar espaço no debate sobre a mudança nas regras de aposentadoria. “As pautas da oposição ou as críticas ao governo não tiveram a capacidade de gerar um impacto duradouro no governo. O governo tem gerado seus próprios desgastes”, aponta o relatório sobre crises. Um exemplo é o vídeo pornográfico divulgado por Bolsonaro no carnaval.