Valor econômico, v.19 , n.4581 , 01/09/2018. Especial, p.F3

 

Depois da recessão, alumina dá sinais de recuperação

 

 

 

Juan Garrido

01/09/2019

 

 

 

Após três anos de recessão começam a aparecer sinais de uma gradativa recuperação do segmento de alumina (óxido de alumínio), produto extraído da bauxita por processo químico. Segundo Luiz Jorge Pinheiro Leal Nunes, diretor do negócio de produtos primários da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA) - ligada ao grupo Votorantim -, em 2018 houve um pequeno aumento de demanda por alumina nos segmentos de tratamento de água, de abrasivos, cerâmicas e vidro. "Em relação à bauxita, mantivemos a destinação para consumo próprio."

O Brasil possui uma das maiores reservas de bauxita do mundo. E, diferentemente de outras cadeias minerais metálicas, a maior parte da produção - algo como 75% - é destinada à transformação para consumo doméstico de alumina, alumínio primário, produtos semimanufaturados e manufaturados. Nunes afirma que para 2018 a previsão de produção própria de alumina na CBA é de 700 mil toneladas e 1,2 milhão de toneladas de bauxita - além da aquisição de outras 660 mil toneladas do minério. Ele explica que a bauxita processada na fábrica integrada da companhia no município de Alumínio (SP) é proveniente de três unidades próprias de mineração, localizadas em Minas Gerais, e de uma mina fornecedora de Barro Alto (GO). "Também em Barro Alto possuímos uma mina própria em processo de licenciamento", diz, acrescentando que na planta paulista a CBA produz tanto a alumina quanto o alumínio líquido.

Os novos investimentos da CBA na área de alumina e mineração de bauxita para os próximos cinco anos devem alcançar R$ 600 milhões em iniciativas de eficiência e preservação ambiental. É o caso do Projeto Filtro Prensa, cujo objetivo é evitar a construção de uma nova barragem na fábrica paulista por meio da disposição de resíduos a seco. "Como consequência, recuperamos água e soda cáustica para o processo produtivo", afirma o executivo.

De seu lado, John Thuestad, vice-presidente executivo da Norsk Hydro, revela que no segmento de mineração de bauxita e no de alumina, a companhia está investindo mais de R$ 10 bilhões no país e gerando compras anuais dos fornecedores da ordem de R$ 920 milhões. A norueguesa Hydro é uma empresa global de alumínio com produção, vendas e atividades comerciais em toda a cadeia produtiva, desde a lavra de bauxita, refino de alumina, geração de energia até a produção de alumínio primário, produtos laminados, extrudados e reciclagem.

Maior parte da produção de bauxita é destinada à transformação para consumo doméstico

No Estado do Pará a partir de 2011 a companhia se tornou majoritária nas operações da mina de bauxita da Hydro Paragominas - considerada a maior refinaria de alumina do mundo -, da Hydro Alunorte, e também da Albras (fábrica de alumínio primário), ambas localizadas em Barcarena. No caso da bauxita e da alumina, Thuestad comenta que a Hydro investiu primordialmente em segurança das operações e melhoria da produtividade. Ao lado disso, a multinacional vem investindo mais de R$ 1,5 bilhão em novas tecnologias consideradas estado da arte de depósitos de rejeito sólido, tanto em Paragominas quanto na Alunorte, aumentando o nível de segurança dos mesmos. "Também estamos reduzindo a área necessária para armazenamento e, consequentemente, a pegada ambiental."

Thuestad afirma que os segmentos de bauxita e alumina são bastante relevantes para a Hydro já que representam o início de toda a cadeia de alumínio. "Por isso, a média de investimentos do grupo Hydro como um todo tende a crescer nos próximos anos, especialmente no desenvolvimento dessas duas áreas no Brasil."

A americana Alcoa, por sua vez, atua no Brasil desde 1965 em toda a cadeia produtiva do metal, desde a mineração da bauxita até a produção de pó de alumínio e químicos. Em 2017 a companhia, que mantém operações produtivas em Minas Gerais, Maranhão e Pará, produziu 8,5 milhões de toneladas de bauxita e 2,12 milhões de toneladas de alumina.

Sobre a debatida questão regulatória, a diretora de relações governamentais da Alcoa, Janaina Donas, entende que muitas das mudanças promovidas no novo Código de Mineração - bem como a criação da Agência Nacional de Mineração (ANM) - são positivas, uma vez que se buscou a atualização de uma legislação editada há mais de 50 anos, e que carecia de adequação à nova realidade econômica e social do país.

"Mas ainda é preciso endereçar soluções para temas que são fundamentais à manutenção da competitividade do setor, como a necessidade de um tratamento que não penalize aquelas empresas que investiram na área de transformação", diz ela.

Janaina salienta ainda que no ano passado a Alcoa realizou um processo de revisão de seus objetivos estratégicos, com destaque para a questão da sustentabilidade. Segundo ela, as principais premissas que norteiam as ações são a geração de valor compartilhado para comunidades onde a empresa está presente e a redução dos impactos das operações. "Estamos buscando diálogo transparente e regular com as comunidades, governos, mídias e outras partes interessadas para assegurar uma compreensão mútua das questões e oportunidades em cada região onde atuamos."