Título: Espanha resiste a cortes
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Fonte: Correio Braziliense, 11/09/2012, Economia, p. 15
Apontado como beneficiário de novo plano de socorro do Banco Central Europeu, governo espanhol tenta estabelecer limites para novas medidas de austeridade e afirma que não reduzirá pensões
Madri — O primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, disse ontem que não vai aceitar imposições com relação aos setores em que deverá fazer ajustes orçamentários em troca de um eventual programa de resgate da economia do país. Ele afirmou ainda que não vai cortar aposentadorias e pensões, reiterando compromisso que assumiu ao ser nomeado para o cargo. "Não posso aceitar que nos digam onde temos ou não que reduzir gastos", declarou à estatal TVE, na primeira entrevista em um programa de televisão desde que chegou ao poder, em dezembro. "Se há algo no qual não tocarei são as pensões", acrescentou
A Espanha vem sendo apontada como candidata ao apoio financeiro do Banco Central Europeu (BCE), que anunciou na semana passada um novo plano de compra de títulos públicos de países da Zona do Euro que enfrentam dificuldade para se financiar no mercado. Rajoy, no entanto, ainda não admitiu que vá pedir socorro, preocupado, ao que tudo indica, em negociar as condições antes de fechar um eventual acordo.
"A instituição tomou uma decisão muito importante e, logicamente, o governo tem que estudá-la muito bem", afirmou Rajoy, pedindo prudência. Ele afirmou que tem recebido mensagens conflitantes dos líderes europeus, alguns encorajando-o a solicitar resgate, outros manifestando opinião contrária.
Condições O BCE deixou claro que a compra dos papéis deverá ter, como contrapartida, a implementação de medidas severas de ajuste, a serem monitoradas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI). Rajoy disse acreditar que as autoridades europeias serão razoáveis ao tratar das condições da ajuda, caso a Espanha decida solicitá-la. O governo espanhol, que lançou um draconiano plano de austeridade para economizar 102 bilhões de euros até 2014, já teve, pelo menos uma vez, que aceitar exigências da Comissão Europeia e do FMI, como o aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), ao qual havia resistido durante muito tempo.
"As condições não são feitas pelo BCE sem o conjunto dos países da União Europeia", recordou Rajoy, aludindo aos próximos encontros com o Conselho Europeu dos próximos dias 18 e 19 de outubro. Ele garantiu também que o país cumprirá as meta de reduzir o deficit público para 6,3% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e para 4,5% em 2013.
Recessão O ajuste fiscal adotado pelo governo na tentativa de recuperar a confiança dos credores tem cobrado um alto preço social dos espanhóis, que enfrentam a maior taxa de desemprego de toda a Europa — 24,6% dos trabalhadores economicamente ativos, sendo que, entre a população com até 25 anos, o índice sobe para 53,3%.
Desde o estouro da bolha imobiliária, em 2007, 210.120 empresas tiveram que fechar as portas, segundo dados da Seguridade Social, citados ontem pelo jornal El País. Há cinco anos, havia 1,4 milhão de companhias inscritas como contribuintes do sistema previdenciário, número que caiu para 1,2 milhão em junho passado. O pior ano para a economia espanhola foi 2009, quando 93,8 mil empresas deram baixa. No período de12 meses até julho passado, 46,6 mil fecharam as portas. A maioria das pessoas jurídicas que saiu do mercado desde o início da crise era do setor de construção civil.