O globo, n. 31340, 28/05/2019. País, p. 4

 

Horror em Manaus

Aline Ribeiro

28/05/2019

 

 

Massacre em quatro prisões deixa 55 mortos em dois dias

Um dos maiores massacres em presídios da História do país começou por volta das 11h30m do domingo no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj), em Manaus, e se estendeu ao longo do dia de ontem.

Diante dos familiares que visitavam os detentos, 15 homens foram mortos anteontem — asfixiados pelas mãos de seus rivais ou por perfurações feitas com escovas de dente afiadas. No início da noite de ontem, o governo do estado contabilizou outras 40 mortes, totalizando 55 assassinatos em decorrência de conflitos entre detentos.

Somente na segunda-feira, a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (Seap) havia confirmado 25 mortes no Instituto Penal Antônio Trindade (Ipat); seis na Unidade Prisional do Puraquequara (UPP); cinco no Centro de Detenção Provisório de Manaus (CPDM1); e outras quatro no Compaj, todos em Manaus.

No domingo, a briga ocorreu em dois pavilhões do Compaj. O conflito foi confirmado pela Seap às 12h30m (horário local). O Instituto Médico Legal (IML) foi acionado para fazer a remoção de corpos.

Helicópteros da polícia sobrevoavam o Compaj para evitar fugas. Familiares dos detentos afirmaram que os policiais atiraram contra presos de cima da aeronave.

A Seap negou as acusações e disse que os tiros efetuados não foram direcionados a pessoas e serviram apenas para contenção.

"Briga de internos"

Já passava das 18h30m quando os familiares receberam os nomes dos 15 mortos. Depois de horas de espera por informações, a lista passou de mão em mão e foi fotografada pelos parentes. Alguns comemoraram; outros se desesperaram.

Em coletiva à imprensa, o secretário de Administração Penitenciária, coronel Marcus Vinícius Oliveira de Almeida, tratou o episódio como uma “briga de internos”, e não como uma rebelião. Ele disse que não houve reféns, agentes feridos ou fuga de detentos.

Almeida não informou oficialmente a causa da briga. Segundo ele, uma investigação foi aberta para apurar as razões da matança. Enquanto isso, as visitas à unidade estão suspensas.

—O estado não reconhece facções. Estamos investigando o que teria motivado isso. As câmeras internas registraram todos os crimes e vamos encaminhar as informações à Justiça —disse.

Ainda no domingo, o secretário de Segurança Pública do Amazonas, coronel Louismar Bonates, determinou o reforço em outras unidades do sistema, por medida de precaução.

Em nota, a Seap afirmou que o governador do Amazonas, Wilson Lima, enfatizou a “atuação precisa” do Grupo de Intervenção Prisional (GIP) no domingo.

“Em 45 minutos houve uma pronta resposta da nossa polícia. Inclusive de um grupo que foi criado no início do governo, de pronta resposta a convulsões no sistema prisional. Em 45 minutos a situação estava controlada”.

Os 40 detentos assassinados ao longo do dia de ontem também morreram por asfixia e perfurações. Dessa vez, não havia visitantes. Os homens foram mortos dentro de suas celas, estrangulados por lençóis.

O Compaj — onde ocorreram 19 das 55 mortes — é a mesma unidade prisional onde, em janeiro de 2017, outros 56 detentos foram assassinados numa rebelião, o maior massacre em presídios no Amazonas.

A procuradora-geral de Justiça, Leda Albuquerque, teme que o massacre repercuta fora dos presídios.

— Executaram uma pessoa no bairro do Coroado e talvez seja a primeira das muitas mortes lá fora —afirmou Leda.

As unidades do Amazonas que registraram homicídios

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Força-tarefa federal de intervenção será enviada ao estado

28/05/2019

 

 

O ministro da Justiça, Sergio Moro, anunciou que enviará tropas da Força-Tarefa de Intervenção Penitenciária (FTIP) para reforçar a estrutura de segurança do Complexo Penitenciário Anísio Jobim, no Amazonas. Segundo a assessoria do ministro, o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) espera apenas a formalização do pedido do governo do Amazonas para mandar o reforço.

O envio das tropas da força-tarefa foi acertado entre Moro e o governador Wilson Lima (PSC), que conversou com Moro na tarde de ontem.

“Acabei de falar com o ministro Sergio Moro, que já está mandando uma equipe de intervenção prisional para o estado do Amazonas, para que possa nos ajudar neste momento de crise e um problema que é nacional: o dos presídios. A qualquer momento a equipe de intervenção do Ministério da Justiça desembarca no Estado para nos ajudar” afirmou o governador em nota.

Uma equipe foi para Manaus na noite de ontem para fazer uma análise prévia e verificar se a força-tarefa de agentes penitenciários atuará apenas no Anísio Jobim ou em outras unidades do estado também. O reforço é para auxiliar os agentes locais. O Ministério da Justiça informou ainda que detentos serão transferidos para presídios federais de segurança máxima. Mas não há detalhes.

A FTIP foi criada em janeiro de 2017. “Na atual gestão, o Depen passou a coordenar, exclusivamente, a força-tarefa em apoio aos governos estaduais em situações extraordinárias de crise no sistema penitenciário para controlar distúrbios e resolver outros problemas”, afirma a nota divulgada pelo Ministério da Justiça.

A força é formada por agentes federais de execução penal dos 26 estados da federação e do Distrito Federal. Tropas da Força Nacional de Segurança Pública (FNSP), responsável pela segurança da área externa do presídio, deverão permanecer na mesma função.