Valor econômico, v.19, n.4599, 28/09/2018. Brasil, p. A2

 

Setor vive clima otimista para último leilão do pré-sal sob Temer

André Ramalho

Rodrigo Polito 

Cláudia Schüffner

28/09/2018

 

 

Anders Opedal, da Equinor no Brasil: eleições não têm influência no leilão

A Agência Nacional de Petróleo (ANP) realiza hoje a 5ª Rodada do pré-sal, com uma expectativa de arrecadação de R$ 6,8 bilhões em bônus de assinatura, caso todas as quatro áreas oferecidas sejam arrematadas. A licitação é a última rodada do governo Michel Temer. Com a postergação do megaleilão dos excedentes da cessão onerosa, para 2019, a 5ª Rodada ganha ainda mais importância dentro da estratégia das petroleiras, pois pode ser a última oportunidade de aquisição de blocos no polígono do pré-sal nos próximos anos, a depender da política do próximo governo para o setor.

Entre os agentes, o clima é de otimismo com a rodada. O diretor-geral da ANP, Décio Oddone, disse que espera que os quatro blocos sejam arrematados. Ele estima que as áreas, que têm reservas estimadas em 2,4 bilhões de barris de petróleo recuperáveis, vão render R$ 180 bilhões em impostos e participações governamentais ao longo dos 35 anos de concessão.

O presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, também prevê que a disputa será bem-sucedida. Durante cerimônia de encerramento da Rio Oil & Gas, ontem, Monteiro destacou que a presença de executivos das grandes petroleiras mundiais no evento reforça o sentimento de "retomada do otimismo da indústria" e que o aumento da concorrência com outras petroleiras é "salutar".

"A Petrobras se sente confortável competindo", afirmou.

Ao todo, 12 petroleiras estão inscritas para participar da rodada: Petrobras, ExxonMobil, Chevron, Total, BP, Shell, Equinor, Ecopetrol, as chinesas CNOOC e CNPC, a alemã Wintershall e a qatariana QPI. Serão oferecidas quatro áreas nas bacias de Santos e Campos: Saturno, Titã, Pau Brasil e Sudoeste de Tartaruga Verde (a única pela qual a Petrobras exerceu direito de preferência na aquisição). Saturno e Titã estavam incluídas na 15ª Rodada de concessões, mas foram retiradas daquela licitação pelo Tribunal de Contas da União (TCU), que considerou que elas eram áreas estratégicas e que deveriam, portanto, ser licitadas sob o regime de partilha.

O presidente da Shell no Brasil, André Araújo, disse que a decisão da companhia de participar ou não da 5ª Rodada do pré-sal será tomada "técnica e comercialmente", independentemente do fato de o leilão ser o último antes de uma mudança na Presidência.

"Nosso comportamento na 5ª Rodada será o mesmo das demais rodadasĀ… Não vamos tomar uma decisão porque pode ser que o cenário ficará mais fácil ou difícil. É uma decisão amparada economicamente, geologicamente, tecnicamente e comercialmenteĀ… Vamos avaliar a 5ª Rodada pela 5ª Rodada", disse.

Já o presidente da Equinor no Brasil, Anders Opedal, disse que questões de curto prazo, como indefinições políticas relacionadas às eleições, não têm impacto na decisão. "Nossos investimentos são de longo prazo. Temos uma visão positiva para o Brasil", disse. O executivo também afirmou que o gás natural será parte importante da transição energética da empresa no país. Ele disse esperar por iniciativas regulatórias que ajudem a aumentar o acesso ao gás no país.

Ele disse ainda que, independentemente das questões políticas, a companhia vem estudando as oportunidades das próximas rodadas, marcadas para 2019-2020.

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Fim de subsídio ao diesel preocupa distribuidoras 

Cláudia Schüffner

André Ramalho 

Rodrigo Polito 

28/09/2018

 

 

As distribuidoras de combustíveis estão preocupadas com a forma como vai terminar o pagamento de subsídio para o óleo diesel. O presidente da Raízen, Luis Henrique Guimarães, acha que o governo atual e o próximo deveriam começar a discutir uma fórmula de saída para os preços do diesel, lembrando que o subsídio termina dia 31 de dezembro.

Ele lembrou que algumas projeções sugerem que o petróleo pode chegar a custar US$ 100 o barril (atualmente está na faixa de US$ 81) e isso trará pressão adicional sobre os preços coincidindo com o fim do subsídio.

Ele defendeu uma saída gradual para a volta da liberdade de preços. O subsídio dado para encerrar a greve dos caminhoneiros em maio é de R$ 0,30 por litro, sem considerar a redução adicional de R$ 0,16 do PIS/Cofins que reduz o preço em R$ 0,46. Uma retirada rápida desse valor, segundo Guimarães, pode fazer com que haja uma transferência bilionária de resultado de um elo da cadeia para o outro de um dia para outro.

Sobre as mudanças em estudo pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), Guimarães disse que o regulador deve ter cuidado na construção de um novo modelo para um mercado complexo como o de combustíveis. "É preciso entender primeiro aonde se quer chegar."

A Raízen planeja investir R$ 2 bilhões nos próximos dois anos, e Guimarães disse que está "olhando com cautela para entender" a direção que o setor vai tomar. Segundo ele, a preocupação é com propostas de saída do subsídio de preços do diesel. "Se vai ser neste ano ou no ano que vem [não sabemos]. Se for no ano que vem, será preciso obviamente ter um compromisso de quem for eleito em outubro."

Essa também é a expectativa do presidente da BR Distribuidora, Ivan de Sá. "A partir de 1º de janeiro a gente está entendendo que volta a sistemática anterior, com preços livres. Obviamente estamos preocupados em saber qual é o nível de preço que vai estar na virada do ano. E temos visto o petróleo subindo, o câmbio subindo. E isso causa uma preocupação", disse Sá.

A BR reivindica receber cerca de R$ 25 milhões por perdas com importação devido ao programa de subvenção do diesel. "Temos um período de transição que está sendo discutido [com o governo] como resolver esse valor. Estamos mostrando aos órgãos competentes quais são as perdas decorrentes disso", disse Sá, após participar do evento "O posto para além do combustível", na Arena Valor do Conhecimento, promovido pelo Valor e pelo Instituto Brasileiro do Petróleo na Rio Oil & Gas.