Valor econômico, v.19, n.4594, 21/09/2018. Brasil, p. A3

 

Investimento baixo afeta metade das rodovias até 2025, prevê FDC

Ligia Hougland 

21/09/2018

 

 

"Até 2025 cerca de 50% do tráfego rodoviário estará operando em condições de regular a ruim, se ficarmos restrito a um cenário moderado de investimentos", afirma Paulo Resende, coordenador do Núcleo de Logística, Supply Chain e Infraestrutura da Fundação Dom Cabral (FDC) e autor de um projeto-piloto da Plataforma para Infraestrutura em Logística de Transporte (PILT) apresentado a investidores e especialistas, ontem, no Banco Interamericano de Desenvolvimento, em Washington.

De acordo com o "Diagnóstico e Projeções para a Infraestrutura de Logística de Transportes no Brasil", se o atual ritmo de investimento for mantido, 57,5% do tráfego das rodovias brasileiras poderá chegar a condições inadequadas até 2035.

Segundo Resende, em cenário moderado de investimentos na rede de transporte multimodal, em 2025, o custo total de transporte será da ordem de R$ 208,9 bilhões. No caso do cenário otimizado, o custo seria reduzido para R$ 192,5 bilhões. A economia anual projetada para 2035 é de R$ 23,3 bilhões, com custo otimizado de R$ 222,55 bilhões.

Um dos principais objetivos da PILT é facilitar o planejamento e, particularmente, as relações entre os investidores e o governo. Segundo os especialistas, a falta de planejamento e visão de longo prazo prejudica a infraestrutura de transportes no Brasil e na América Latina.

"O setor público da região nos anos 1990 e 2000 perdeu capacidade de planejar e estruturar bons projetos de infraestrutura. É preciso provocar os novos governadores e o novo governo federal para que entendam a importância de reconstruir essa capacidade de planejar e estruturar projetos", disse Alexandre Rosa, vice-presidente para países do BID.

Uma das conclusões do estudo é que o custo médio de transporte (R$/TKU) dos modais ferroviário, hidroviário e dutoviário é mais competitivo devido às longas distâncias que os produtos - especialmente agrícolas - precisam percorrer.

Com a exceção do minério de ferro, que opera a custos bastante baixos, a transferência das cargas das rodovias para outras modalidades geraria uma redução significativa dos custos de transportes.

Para Antônio Gobbo, gestor da construtora Queiroz Galvão, a ampliação das rodovias precisa ser observada por seu valor social adicionado. "Hoje a infraestrutura mais cara que existe é aquela que é necessária e não está disponível", afirmou.

"Em um cenário otimizado para 2035, o custo de transporte seria, a preços de hoje, 10% menor", disse Ramon Victor César, especialista da FDC e coautor do projeto. De acordo com os modelos da PILP, o custo do transporte rodoviário pode cair com melhorias à infraestrutura.

Os participantes destacaram a importância de o governo reformular posturas em relação a parcerias com empresas privadas, adotando visão no longo prazo que vá além da concessão para o desenvolvimento de projetos para que haja um real e contínuo avanço da infraestrutura.

O setor privado assina contrato e vira adversário do setor público, disse César Borges, presidente da Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR). "O setor público quer a participação do privado, mas quer impor uma camisa de força."

O projeto conclui que o país "requer planejamento de longo prazo, com projetos estruturantes assumidos e protegidos pela sociedade e inseridos numa agenda de Estado para a infraestrutura. Somente assim será possível criar um ambiente seguro e confiável para o investimento privado em parceria com o setor público".

A FDC quer apresentar o projeto aos candidatos à Presidência que chegarem ao segundo turno.