Título: Gastos de R$ 1,3 tri
Autor: Maineti , Mariana
Fonte: Correio Braziliense, 02/09/2012, Economia, p. 14

O supervisor de academia Renato Gonçalves Bernardino, 28 anos, é um exemplo de consumidor que usa a renda, em vez de crédito, para consumir. Nos últimos dois anos, ele conseguiu dobrar seus ganhos com a organização financeira que herdou do pai, Eudes, 63. "Não gosto de dívidas", garante Renato. O controle é tão rigoroso que ele não tem nenhum tipo de cartão de crédito e os custos com alimentação, lazer e vestuário são pagos à vista. "Planejo antecipadamente quando desejo comprar alguma coisa. Assim, sei para onde está indo o meu dinheiro", diz. Seu principal gasto, além das despesas básicas, é com shows, cds e dvds das bandas favoritas. Com o aumento da renda, agora ele pode destinar R$ 500 a esses itens. O comportamento de Renato ainda não é regra, sobretudo entre os integrantes da nova classe média. Por isso, a diretora da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, Diana Grosner, considera ser preciso que o governo invista em políticas voltadas para educação financeira e em qualificação profissional, para que os 57% dos brasileiros incluídos nos últimos anos no mercado de consumo avancem financeiramente. Melhor: consumam com consciência. Estima-se que somente a classe C despeje R$ 1,3 trilhão no mercado.

Demissão Para Diana, além de satisfazerem as necessidades de consumo, os consumidores devem se preocupar com o futuro e preciso poupar. Uma pesquisa realizada pela SAE mostra que 34% da população reserva para dos rendimentos para tempos de escassez. "Apesar das dificuldades enfrentadas para honrar os compromissos relacionados às dívidas, os consumidores conseguem ter mais poupança por estarem mais receosos em relação aos riscos associados ao futuro, como ser demitido", afirma Diana.

O estudo revela ainda que o Brasil está menos desigual, a exemplo da inserção dos negros na classe média. Em 2009, a participação da população negra registrou aumento de 51%, em oito anos. Já os brancos registraram acréscimo de 14%. Levando-se em conta a renda por região, o maior crescimento aconteceu no Nordeste: 64%. Em segundo lugar, no Norte, e em terceiro, no Centro-Oeste, com 36% e 31%, respectivamente. "As políticas adotadas pelo governo nos últimos anos garantiram que 25 milhões de pessoas saíssem da extrema pobreza e entrassem na classe média", lembra Diana.

Segundo ela, a estimativa do governo é de que, em 2022, mais de 22 milhões de pessoas de baixa renda mudem de classe social. "No entanto, precisamos diminuir a rotatividade nos postos de trabalho e garantir uma política para formação de poupança", conclui. De olho nesse novo público consumidor, o presidente do Instituto para Desenvolvimento do Varejo (IDV) Fernando de Castro afirma que o comércio está abrindo mais pontos de venda. E foi justamente essa estratégia que ajudou a impulsionar o faturamento do setor no primeiro semestre.