Valor econômico, v.19, n.4584, 07/09/2018. Política, p. A10

 

Ana Amélia minimiza divisão no PP

Fernando Taquari

07/09/2018

 

 

Candidata a vice-presidente da República na chapa do ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), Ana Amélia encara com naturalidade a decisão de correligionários do PP de apoiarem outros candidatos na disputa pelo Palácio do Planalto. Aos 73 anos, a senadora considera as "traições" como uma estratégia de sobrevivência eleitoral diante do pragmatismo político que cerca os interesses regionais.

"Toda escolha tem um risco. Cada um tem que ser cobrado pelo que faz", afirma Ana Amélia ao lembrar que, no caso dela, deixou uma reeleição praticamente garantida ao Senado pelo Rio Grande do Sul para compor com o tucano. "Não abri mão de um novo mandato pensando em poder. Se fosse assim, iria pelo certo, e não pelo duvidoso. Foi uma convocação e não me senti em condições de dizer não", acrescenta.

Sua decisão, no entanto, dividiu no PP gaúcho, sobretudo na ala ligada ao deputado Luiz Carlos Heinze, que pretende apoiar a candidatura de Bolsonaro. O próprio presidente da sigla, o senador Ciro Nogueira (PI), provocou um constrangimento interno ao receber em seu Estado o candidato a vice do PT, Fernando Haddad. "Trata-se de que questão de sobrevivência eleitoral para os que agem por pragmatismo", diz.

Ana Amélia observa que as divisões internas não são uma exclusividade do PP. Ressalta que os senadores do MDB, como Eunício Oliveira (CE) e Renan Calheiros (AL), que concorrem à reeleição neste ano, vão apoiar o candidato petista na corrida presidencial, a despeito da candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.

"Todos os partidos vivem os mesmos dilemas e contradições. Esse cenário revela a situação de falência do sistema", diz a candidata que ainda recorda que o deputado Onyx Lorenzoni (RS), apesar da aliança do DEM com Alckmin, é um dos principais coordenadores da campanha de Bolsonaro.

Nascida em Lagoa Vermelha, no interior do Rio Grande do Sul, a senadora acredita que sua interlocução com os setores da saúde e da agropecuária podem abrir novas frentes para o tucano. "Imagino que isso possar ter um significado para a nossa campanha", afirma Ana Amélia, que procura manter a tranquilidade diante da dificuldade da chapa em fazer frente aos principais concorrentes nas sondagens.

"Não estou preocupada com o que vai acontecer. Estou fazendo meu trabalho com afinco e dedicação. Farei isto até o último dia da eleição". A candidata a vice ainda minimiza os levantamentos ao destacar que a pesquisa de boca de urna na disputa pela Prefeitura de Porto Alegre, em 2016, apontou Nelson Marchezan (PSDB) com nove pontos percentuais a menos do que registrou nas urnas. O tucano acabou eleito depois no segundo turno.

Na visão da senadora, Alckmin deve atacar as contradições que permeiam o discurso do candidato do PSL e seguir com a estratégia de enfatizar a necessidade de um empoderamento das mulheres, segmento onde o deputado enfrenta resistência. "Bolsonaro não é um outsider. Ele é parte do sistema que critica. Ninguém fica 27 anos em uma atividade sem fazer parte disso", afirma Ana Amélia ao tratar do período do adversário como deputado federal.