Valor econômico, v.19, n.4584, 07/08/2018. Especial, p. A16

 

Lugar de mulher também é no navio 

João Luiz Rosa

07/08/2018

 

 

Do quadro de 80,3 mil homens da Marinha, 8,5 mil na verdade são mulheres - o equivalente a 10,6% das tropas. Foi só em 1980 que as mulheres foram admitidas na Marinha, mas essa lacuna de 158 anos, desde que a Força foi criada, em 1822, tem sido preenchida rapidamente.

É na Marinha que está a primeira - e até agora, única - oficial-general das Forças Armadas brasileiras, a contra-almirante Dalva Maria Carvalho Mendes. Promovida em 2012, a médica integra, desde então, o mais alto escalão da hierarquia militar do país. Pelo menos mais uma oficial está em posição de disputar o almirantado nos próximos meses.

A participação feminina ganhou reforço em 2014, com a criação da primeira turma de aspirantes femininas na Escola Naval. Antes disso, a única chance de elas ingressarem na Marinha era nos quadros técnicos, para os quais eram contratadas com profissão definida, como médicas, engenheiras e advogadas. A mudança passou a permitir que decidissem seguir a carreira militar sem essa exigência, como sempre ocorreu com os homens.

No ano passado, outra barreira caiu, com a autorização para que as mulheres passassem a embarcar em navios, de forma mais regular, e integrar forças de combate, inclusive a tropa de fuzileiros navais.

"Onde há mulheres e homens, o ambiente é mais saudável do que onde só há um ou outro. É mais respeitoso", afirma o almirante de esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, comandante da Marinha do Brasil.

São raros os casos de assédio sexual, diz o almirante. "Existe. E é enfrentado. Mas é muito menos do que inicialmente se pensava que ocorreria."

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País comanda única força naval da ONU

João Luiz Rosa 

07/08/2019

 

 

Pouca gente sabe, mas o Brasil comanda a única força-tarefa marítima das Nações Unidas no mundo. Criada em outubro de 2006, a força vigia a costa do Líbano. Nos primeiros cinco anos, houve um revezamento de comando entre os países integrantes. Mas desde 2011, quando assumiu a direção pela primeira vez, o Brasil permanece à frente da missão, composta de mais cinco países: Alemanha, Bangladesh, Grécia, Indonésia e Turquia.

"Está sendo uma experiência especial porque treinamos nosso pessoal em um cenário real", diz o almirante de esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira, comandante da Marinha. "Mas é um esforço de logística muito grande."

Leva um mês para percorrer os 10 mil quilômetros que separam o Brasil do Líbano pelo mar. Contando ida e volta, os marinheiros ficam embarcados durante oito meses - dois do trajeto, mais seis em missão. Atualmente, a tripulação brasileira conta com 200 marinheiros, além de um Estado-Maior de 18 pessoas. A capacidade do navio é para 240 tripulantes, mas o efetivo foi reduzido a pedido da ONU, para reduzir despesas.

O trabalho consiste em evitar a entrada de armamentos, diz o contra-almirante Claudio Henrique Mello de Almeida, que comandou a força-tarefa entre fevereiro de 2016 e 2017. Durante uma fase da Guerra do Líbano, Israel montou um bloqueio naval para impedir a entrada de armas que pudessem ser usadas contra seu exército. O bloqueio foi mantido após o cessar-fogo, o que dificultava a entrada de outros produtos, como combustível. "Até o sistema bancário libanês foi afetado", afirma o contra-almirante. A pedido do Líbano, a ONU criou a missão para substituir os navios israelenses.