O globo, n. 31339, 27/05/2019. País, p. 10

 

Em Minas, risco de rompimento é iminente

27/05/2019

 

 

Velocidade de deslocamento do paredão em mina alcança 20cm por dia em alguns pontos críticos. Na terça-feira, o movimento era de 9cm por dia; município de Barão de Cocais permanece em estágio de alerta máximo

A cidade de Barão de Cocais (MG) permanece em estágio de alerta máximo devido ao risco iminente de rompimento da barragem Sul Superior da Vale. A velocidade de movimento do talude norte da Mina Gongo Soco chegou ontem a 15,8cm por dia em média e 20cm por dia em alguns pontos críticos. Na terçafeira da semana passada, esse número era de 9cm por dia. Segundo a Agência Nacional de Mineração, a movimentação começou a ser identificada em 2012, mas, até abril, era de no máximo 10cm por ano.

O talude é um paredão que fica acima da cava de mineração na mina, que está cheia de água. Seu rompimento pode causar uma reação em cadeia por abalos e desencadear o colapso da barragem. Outra preocupação é que a água da cava transborde e atinja rios da região da mina.

Segundo o Corpo de Bombeiros, 30 militares estão de prontidão na cidade. As equipes estão distribuídas em pontos estratégicos para acompanhar a situação na mina e orientar a população, que passou por dois treinamentos de simulação de situação de emergência, caso a barragem se rompa. No primeiro, 60% dos moradores participaram da ação. No segundo, a adesão foi de 26%. Se a barragem se romper, cerca de 30 mil pessoas podem ser atingidas.

A economia de Barão de Cocais está praticamente parada. As ruas estão quase vazias — meios-fios pintados de laranja indicam os locais em que a mancha de lama com rejeitos de minério pode chegar —, agências bancárias não estão funcionando e não há mais dinheiro nos caixas eletrônicos. Por isso, a prefeitura e a Defesa Civil fizeram um apelo para que os serviços sejam retomados hoje.

Caso haja mesmo o rompimento da barragem Sul Superior, a previsão é que o primeiro lugar atingido pela lama seja o povoado de Socorro, em apenas seis minutos. Depois, chegaria a três municípios: Barão de Cocais, em pouco mais de uma hora, Santa Bárbara e São Gonçalo do Rio Abaixo.

Povoado esvaziado

Socorro foi esvaziado em fevereiro. Mais de 400 pessoas foram obrigadas a evacuar o vilarejo, fundado há cerca de 280 anos. Desde então, as casas foram visitadas apenas por profissionais da Vale por pelo menos 20 dias, quando animais de estimação foram resgatados e alimentados. Nas portas das casas, há placas informando a data da última vistoria, bem como o nome do proprietário de cada uma e os animais que foram retirados delas.

Mesmo assim, há moradores driblando o bloqueio das autoridades, como o motorista de ônibus Amarair Paulo de Morais, que voltou ao local recentemente para buscar roupas de frio para a neta, Sofia, além de outros pertences deixados por lá.

Nos próximos dias, ele e outros moradores planejam furar novamente o bloqueio para dar um abraço coletivo na igrejinha branca e azul do povoado, cujas obras de arte sacra foram retiradas e levadas para a Igreja Matriz de Barão de Cocais. O medo é que mais peças sejam retiradas do santuário, caso a ameaça de rompimento da barragem persista.