O globo, n. 31338, 26/05/2019. País, p. 6

 

Entre retaliações e reformas, Maia atua no limite das crises

Bruno Góes

Natália Portinari

26/05/2019

 

 

Em jantares com deputados do centrão, ele articula 230 parlamentares

Quando o PSL descumpriu um acordo e ameaçou a conclusão da votação na Câmara da Medida Provisória (MP) 870, o que poderia elevar de 22 para 29 o número de ministérios, integrantes de siglas do centrão (PP, PR, DEM, SD) estavam prestes a alimentar o incêndio. Quem precisou encontrar uma saída para evitaro desgaste foi Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara. É ele quem tem o poder de tocar a pauta do parlamento e, quando a corda estica demais, ainda que puxada inicialmente por ele próprio, procura dosar a medida para evitar crises institucionais.

O centrão, que elegeu Maia para a presidência em fevereiro, é hoje a força mais relevante da Câmara. Arthur Lira (PP-AL), Wellington Roberto (PR-PB) e Paulinho da Força (SD-SP) são líderes do grupo que já fizeram parte da base de governos anteriores de diferentes matizes ideológicas. Agora, porém, não querem conversa com o presidente Jair Bolsonaro.

Foram excluídos da articulação política e da indicação de cargos , além de serem atacados pelo presidente em seus discursos. Na quarta-feira, uniram-se com a oposição para tirar o Conselho de Controle e Atividades Financeiras (Coaf ) da alçada do ministro Sergio Moro (Justiça). Maia não é apenas mediador entre o centrão e outras forças políticas. Ele sempre reúne esses líderes para jantar em sua casa após as votações, participa de um grupo de WhatsApp restrito com eles e chancela retaliações quando convém. Juntos, eles controlam ao menos 230 deputados. Unidos com a esquerda, não há derrota possível.

A última quarta-feira foi o ápice do confronto entre os dois poderes. Nesse dia, já no fim da votação, o líder do DEM, Elmar Nascimento (BA), subiu à tribuna para fazer o discurso mais forte do dia contra o governo. Durante a análise de assunto crucial para o Planalto, o deputado vocalizou a insatisfação da maioria contra a “demonização da política”. Foi aplaudido de pé por deputados de vários partidos, tão díspares como PT, PCdoB, DEM e PSDB.

O momento tinha tudo para desencadear uma retaliação ao PSL e ao governo: a MP poderia perder a validade. Assim, a estrutura do governo seria desfigurada. Maia suspendeu a sessão e passou a trabalhar, na madrugada, para encontrar uma solução. Na ocasião, só faltava o plenário analisar um destaque sobre o papel de auditores fiscais. O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), queria limitar a investigação dos auditores. Já o líder na Câmara, Major Vitor Hugo (PSLGO), pregou o contrário. Maia conseguir convencer o centrão a abandonara visão de Bezerra e aprovar a MP.