O globo, n. 31338, 26/05/2019. Economia, p. 26

 

Educação agrava cenário econômico do Rio

Cássia Almeida

26/05/2019

 

 

Aprendizado de português e matemática de alunos fluminenses desabou, enquanto o PIB do estado recuou 7,32% entre 2015 e 2016. Em sete anos, taxa de desemprego subiu para 15,3%. Secretário aposta em novos professores

A educação no Estado do Rio desabou nos últimos anos. O estado, que figurava no4ºlug arno Índice de Desenvolvimento do Ensino Básico (Ideb) do ensino médio em 2013, caiu para 20º em 2017, de acordo com estudo feito pelo Instituto Ayrton Senna no sistema educacional em cada estado. O Rio foi o que mais piorou nesse quesito. A deterioração da educação contribuiu para o quadro de crise econômica. Entre 2015 e 2016, o Produto Interno Bruto (PIB) recuou 7,32%. Com oc ons e quência, a taxa de desemprego subiu de 8,5% para 15,3% de 2012 a 2019. Taxa superior aos 12,7% da média brasileira.

—O Rio perdeu 14 posições (no Ideb) em apenas quatro anos. Isso significa dizer que três estado sacada ano ultrapassaram o Rio. Certamente não foi crise fiscal, porque teve um monte de estado em crise que não deu nisso. É uma desorganização que todo mundo sabe que aconteceu no Rio de Janeiro no último governo — afirma Ricardo Paes de Barros, que coordenou o estudo do Ayrton Senna.

—O Rio esse período. Não conseguiu mobilizar e desmontou muito da estrutura que existia. Vários estados que tiveram crises financeiras violentas, como Rio Grande do Sule Minas Gerais, não chegaram ao nível( deperda na educação) do R iode Janeiro. Maria Luiza Pereira, de 19 anos, viveu acrise na educação doestado, aponto de desistir do ensino médio na rede pública. Depois de ficar quase um ano sem aulas, com greves alternadas, viu que seria aprovada sem ter estudado nada.

— Saí. Às vezes, tinha dois tempos de aula — conta a jovem, que preferiu se inscrever no EJA do Colégio São Vicente, no Cosme Velho, para completar o ensino médio.

—Na primeira aula que tive de matemática, não estava entendendo nada. Segunda maior economia do país, o Rio caiu de sétimo para 17ºlugar na proficiência em matemática. Também caiu de 3ª para 14ª posição em língua portuguesa. Em ambos os indicadores, foi o estado que mais piorou de 2013 a 2017. Maria Luiza, moradora da Gamboa, Zona Portuária, diz que colegas de escola e vizinhos estão abandonando os estudos, por gravidez precoce, pressão familiar para trabalhar ou envolvimento com crime:

— De uns 20 colegas que saíram, dois tentaram voltar e só um conseguiu. Amenina engravida, tem que cuidar da criança, trabalhar. É difícil continuar estudando. Mas me formo este ano. Quero fazer Medicina ou Educação. Na verdade, gosto de cuidar das pessoas. Acho que quero mesmo é dar aula no EJA. No fluxo escolar, o Rio está estagnado na 18ª posição na taxa de aprovação. O diagnóstico do Aryton Senna sobre o Rio foi entregue ao governo estadual e está nas mãos do secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes.

—A primeiro avaliação que fizemos foi muito ruim, e esse resgate deve demorar uns dois anos. Tivemos 33% de reprovação no ensino médio. Isso é muito grave. Contratamos horas extras de nove mil professores, resolvendo a falta de professor, que explicava até parte da evasão, com o desânimo de não ter o aprendizado em si —diz o secretário. Segundo Fernandes, somente 5% das escolas tinham agrade de professores preenchida no início do ano, e só 8% tinham equipe pedagógica completa.

—Hoje, temos 90% das escolas com agrade completa e 62% coma equipe pedagógica montada—diz.

Um dos motivos apontados por Paes de Barros para a piora no Rio foi o fim dos sistemas de avaliação. Fernandes diz que eles vão voltar reformulados. O secretário promete também aclimatar 100% das salas este ano. Segundo ele, apenas 5% têm ar-condicionado funcionando:

—Queremos também aumentar o salário dos professores, assim que a situação fiscal permitir.