Título: No rastro de Tiririca, o vale-tudo pelo eleitor
Autor: Mello, Alessandra
Fonte: Correio Braziliense, 09/09/2012, Política, p. 4

No rastro de Tiririca, o vale-tudo pelo eleitor

De norte a sul do país, candidatos a vereador apelam para o bom humor e abusam das esquisitices no horário eleitoral na televisão. Nem sempre a estratégia dá certo

"Pior que está não fica, não." É assim que Sebastião Belmiro Nunes, 47 anos, pede voto em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, segundo maior colégio eleitoral do estado. À primeira vista, pode soar estranho para o eleitor. Mas Sebastião, cujo nome nas urnas, é Anão, referência à sua estatura, não escolheu esse slogan por acaso. Usando o mesmo mote, Tiririca (PR-SP) foi eleito o deputado federal mais votado de todo o Brasil nas eleições de 2010. "Pior que está não fica, não. (...) Estou aqui para pedir seu voto porque eu quero ser deputado federal para ajudar os mais "necessitado" (sic), inclusive a minha família", repetia Tiririca no horário eleitoral gratuito, vestido com uma roupa de palhaço.

Com cerca de 1,3 milhão de votos, Tiririca só não conseguiu bater o recorde do lendário e já falecido Enéas, do Prona, que depois de disputar a Presidência da República por três vezes, foi eleito, em 2002, deputado federal por São Paulo, com 1,5 milhão de votos, o maior quantitativo já registrado no Brasil.

"Dos males, o menor. Quero falar sério com você. Não prometo nada, ou melhor, prometo acabar com a pobreza. A minha é claro", é o que afirma o Anão, que disputa pelo PTC, em uma gravação de 25 segundos. Com a mesma estratégia de Tiririca, o Anão tenta mais uma vez se eleger vereador. Nas duas últimas eleições, ele participou da disputa sem sucesso.

Mas ele não é o único a adotar a estratégia de usar o humor, o escárnio ou até mesmo a bizarrice para tentar se eleger. Em todo o Brasil, centenas de candidatos adotam o mesmo recurso. Mesmo que não sejam eleitos, eles garantem pelo menos alguns minutos de fama na internet, onde circulam dezenas de vídeos com perfomances nada convencionais de alguns postulantes a uma cadeira de vereador.

Boxeadores Em Ituiutaba (MG), William Menezes Oliveira, 47 anos, comerciante, aparece no horário eleitoral usando luvas de boxe e imitando uma luta. "Vou bater sem dó para nocautear as drogas, os corruptos e a miséria", afirma o candidato, que nas urnas usa o nome de William Popó, referência ao boxeador Acelino de Freitas, o Popó, que em 2010 foi eleito deputado federal pela Bahia.

Em Belo Horizonte, o delegado Antonio Marcos Pereira, 57, disputa , também pelo PTC, com o nome nas urnas e nos santinhos de Toninho Pipoco. "Se você quer segurança, Pipoco neles", é o mote do candidato, no horário eleitoral. No You Tube, ele também divulgou um vídeo de campanha no qual sugere extermínio. Ele exibe uma série de fotos de supostos bandidos e na sequência repete o slogan. Na gíria policial, pipoco é tiro.

Também não faltam referências a super-heróis. O tucano Thiago Batman, 28 anos, biólogo, pede votos no horário eleitoral de Ituiutaba usando uma fantasia de Batman. Em Piracicaba, São Paulo, tem o Geraldo Wolverine, que aparece no horário eleitoral com a mesma barba e garras do super-herói mutante. "Quem poderá nos defender?", pergunta o candidato, imitando o slogan do anti-herói do seriado mexicano Chaves. No Acre, tem o Pirulito do Amor, que pede votos ao lado de uma bela moça. Ele já tentou se eleger deputado estadual pelo PSol em 2010 e agora tenta uma vaga na Câmara de Rio Branco pelo PTC. Tem também a Pequena Manteguinha. Seu nome verdadeiro é Marli Gomes de Araújo, 43 anos, que promete durante o horário eleitoral "botar pra derreter". "E vou provar que para ajudar o povo não precisa ser doutor."

"Uso da máquina" O PSDB voltou a rebater o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff em que ela ataca a administração do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ontem, foi a vez de o presidente do partido, deputado Sérgio Guerra (PE), criticar a presidente. "Se não bastassem as dificuldades de o PT conviver com o contraditório, seus principais representantes no governo federal agora se valem da máquina pública para atacar adversários", afirmou Guerra, por meio de nota. Segundo ele, as declarações de Dilma eram uma tentativa para reduzir o desgaste sofrido por causa das condenações no julgamento do mensalão. Além disso, conforme o deputado, o pronunciamento ajudaria os candidatos da base aliada nas eleições municipais deste ano.