Valor econômico, v.19, n.4605, 08/10/2018. Política, p. A13

 

Nomes tradicionais não se elegem para o Senado 

Raphael Di Cunto 

08/10/2018

 

 

 Recorte capturado

A onda antipolítica e anti-PT que tomou o país derrubou alguns dos principais líderes do Senado Federal, inclusive seu presidente, Eunício Oliveira (MDB-CE), ex-governadores que almejavam chegar ao Legislativo e até a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Dos 54 senadores eleitos ontem, só 8 disputavam a reeleição (taxa de 15%). Os outros 25 que buscavam continuar no cargo saíram derrotados.

O MDB, até então líder inconteste em número de senadores, perderá parte significativa de sua bancada - de 18 para 12 parlamentares. Mas continuará a ser o maior do Senado, onde a tradição é que o maior partido indique o presidente. O atual, Eunício Oliveira, foi derrotado mesmo após articular, com apoio do governador Camilo Santana (PT) e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a retirada das candidaturas dos adversários mais fortes. Acabou perdendo para um novo na política, o empresário Eduardo Girão (Pros), ex-presidente do clube de futebol Fortaleza, que venceu por 17,1% a 16,9%. A outra vaga em disputa ficou com o ex-governador Cid Gomes (PDT), eleito com 41,61% dos votos válidos.

Outros dos principais senadores do MDB, como o ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão (MA) e o ex-presidente do Senado Garibaldi Alves (RN), estavam derrotados. Líder dos governos Lula, Dilma e Temer, o presidente do MDB, Romero Jucá, enfrentava eleição acirrada - estava em terceiro, mas ainda poderia reverter o resultado até o fim da apuração. Entre os emedebistas, só os ex-presidentes do Senado, Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA), além de Eduardo Braga (AM), tiveram sucesso ontem. Calheiros e Barbalho tiveram o auxílio de seus filhos, que terminaram em primeiro lugar na disputa pelos governos locais.

O PSL do presidenciável Jair Bolsonaro elegeu quatro senadores: seu filho, o deputado estadual Flávio (RJ), o deputado major Olímpio (SP), a ex-juíza Selma Arruda (MT) e a advogada Soraya Thronicke (MS). Apesar do salto, é só o 9º partido, o que indicará que Bolsonaro precisará negociar para formar maioria caso eleito. Um dos principais aliados dele, o senador Magno Malta (PR-ES), foi derrotado, mas o eleito é Marcos do Val (PPS), um consultor de segurança que faz sucesso nas redes sociais e tem perfil parecido com o presidenciável.

A coligação de Bolsonaro terá apenas 5% do Senado. Está bem longe da maioria da Casa (41), quiçá da base de apoio suficiente para aprovar mudanças na Constituição Federal (49 senadores). O presidenciável terá que negociar com outras legendas, mas também conta com aliados em outros partidos, como Jorginho Mello (PR-SC), Luís Carlos Heinze (PP-RS) e Arolde de Oliveira (PSD-RJ), três deputados federais eleitos com apoio dele. Ainda assim, a força inicial dele seria muito menor do que na Câmara.

O resultado é péssimo para o PSDB, que diminuiu de 12 para 8 senadores e viu seus principais líderes com derrotas fragorosas. Quatro vezes governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB) acabou com meros 7% dos votos válidos para o Senado. Ex-governador do Paraná por duas vezes, Beto Richa (PSDB) ficou com 3%. Ambos foram alvos de operações da polícia durante a campanha.

Os líderes do PSDB no Senado, Paulo Bauer (SC), e da Câmara dos Deputados, Nilson Leitão (MT), foram derrotados por aliados de Bolsonaro. Em Santa Catarina, Bauer acabou em quinto, derrotado por um aliado de Bolsonaro, o deputado federal Jorginho Mello (PR). Leitão perdeu a vaga para a ex-juíza Selma Arruda, espécie de Sergio Moro local.

O PT apostava na candidatura de Dilma e no ex-senador Eduardo Suplicy (SP), que lideraram as pesquisas durante toda a campanha, mas caíram no final. Dilma foi a candidata a senadora que mais gastou na campanha, com despesas de R$ 4,17 milhões - o teto para o cargo era R$ 4,2 milhões. Alvo de um impeachment há dois anos que seu partido acusou como um golpe, ela terminou em quarto lugar, com 15,35% dos votos válidos. Os petistas ainda perderam dois de seus mais simbólicos representantes no Senado, Lindberg Farias (RJ) e Jorge Viana (RJ). Só dois foram reeleitos: Paulo Paim (RS) e Humberto Costa (PE). A sigla caiu de 9 para 6 senadores. Foi ultrapassada pelo PSD, com 7, e está empatada com o PP.

Uma das novidades da disputa foi a eleição de cinco senadores do Rede, partido da presidenciável Marina Silva. Além da reeleição de Randolfe Rodrigues (AP), que recebeu o maior percentual de votos do país, a sigla elegeu novatos como o ex-delegado-geral da Polícia Civil de Sergipe, Alessandro Vieira, e o capitão Styvenson (RN), famoso por gravar blitz da Lei Seca e que se recusou a fazer campanha para Marina.

O Senado tem 81 senadores, três por Estado, com mandatos de oito anos. Nesta eleição tiveram que renovar seus mandatos dois terços da Casa (54). Os outros 27 ficarão até 2023 - e, por isso, o MDB manteve ligeira vantagem, já que tinha mais parlamentares em meio de mandato. O Legislativo, contudo, saiu com maior fragmentação partidária, o que costuma dificultar a negociação do presidente eleito. Atualmente, 17 partidos têm representante no Senado - e um dos senadores, Reguffe (DF), não está filiado a nenhuma sigla. O número aumentou para 21 e Reguffe, com a chegada de legendas como PSC, Pros, PHS e SD.

Parte dos novos senadores nunca teve mandato eletivo e significará uma renovação no Legislativo, como a ex-jogadora de vôlei Leila (PSB-DF) e o empresário Oriovisto Guimarães (Pode), ex-presidente do grupo Positivo. Outros são deputados, como Marcos Rogério (DEM), algoz do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ) no Conselho de Ética, e Irajá Abreu (PSD-TO), filho de Kátia Abreu (PDT). Um dos reeleitos, é o presidente do PP, Ciro Nogueira (PI).