Valor econômico, v.19, n.4606, 09/10/2018. Internacional, p. A10

 

Estudo de mudança climática recebe o Nobel de Economia 

Delphine Strauss

09/10/2018

 

 

Os economistas americanos William Nordhaus e Paul Romer ganharam o prêmio Nobel de Economia deste ano por seus trabalhos sobre inovações tecnológicas e mudanças climáticas.

A comissão do Nobel disse que a dupla "aproximou-nos consideravelmente de responder à questão de como podemos alcançar crescimento econômico sustentável e prolongado" por meio do desenvolvimento de modelos que explicam como a economia de mercado interage com a natureza e o conhecimento.

Nordhaus, professor na Universidade Yale, ganhou reconhecimento por seu trabalho pioneiro na integração das mudanças climáticas à análise macroeconômica de longo prazo. Ele começou a trabalhar com o conceito de "contabilidade verde" nos anos 70 e foi o primeiro a criar um modelo quantitativo descrevendo a interconexão mundial entre economia e clima.

Paul Romer, professor da Stern School of Business, da Universidade de Nova York, e ex-economista-chefe do Banco Mundial, foi premiado por seu trabalho que preparou a base para a teoria do crescimento endógeno.

Uma de suas primeiras grandes contribuições foi mostrar que as "ideias" eram o ingrediente que faltava no crescimento econômico, contribuindo tanto quanto os insumos tradicionais - de mão de obra, capacitação e capital físico - e que isso pode ajudar a explicar a grande variação no crescimento e nos padrões de vida entre países similares.

Romer mostrou ainda que a regulação ou intervenções políticas - sobre, por exemplo, leis de patentes, concorrência ou subsídios para pesquisa e desenvolvimento - são vitais para encorajar os atores de uma economia de mercado a produzir as ideias necessárias para impulsionar o crescimento de longo prazo.

"É difícil subestimar a importância do trabalho de Nordhaus e Romer", escreveu Joshua Gans, professor da Universidade de Toronto e que anteriormente esteve envolvido na política australiana para meio ambiente e inovação. "Eles estavam presentes em todas as discussões sobre políticas e direcionavam a tendência para a ação nos casos em que havia barreiras e obstáculos significativos."

"Uma coisa que o Bill [Nordhaus] e eu defendemos fortemente e acreditamos profundamente é... o poder do mercado como mecanismo de descoberta", afirmou Romer.

Nordhaus foi um dos primeiros defensores de um imposto sobre o carbono, mas a comissão observou que os modelos que ele desenvolveu também permitem às autoridades calcular o caminho quantitativo para o melhor imposto, mostrando como eles dependem de hipóteses sobre a sensibilidade climática às emissões de carbono ou a extensão dos danos causados pela mudança climática.

Seu trabalho foi amplamente citado no último relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês), que alertou nesta semana que a temperatura na Terra deve subir 3°C até o fim deste século e pediu aos governos mudanças "sem precedentes" para limitar esse aquecimento.

Comentando o prêmio, Romer afirmou que a mensagem a ser tirada da escolha deve ser que "mesmo agora é inteiramente factível começar a reduzir a trajetória das emissões" e que "para nós é inteiramente possível termos melhores padrões de vida no futuro previsível". O perigo dos alertas alarmistas, acrescentou, é que fazem as pessoas se "sentirem apáticas e sem esperança".

Em alguns momentos, Romer gerou polêmica, como quando deixou sua posição no Banco Mundial logo após acusar publicamente a instituição de falta de integridade profissional.

"Não quero procurar brigas nem ser repreendido", disse Romer, acrescentando que o que o incomodava não era a crítica, mas "a pretensão de que você pode ser um bom membro da comunidade científica se não estiver disposto a se envolver com pessoas que não concordam com você".

Ele é um defensor de uma comunicação clara, tendo no passado acusado os economistas rivais de excessiva "mathiness" (termo cunhado por Romer sobre o uso indevido da matemática na análise econômica) e emitido decretos sobre gramática para o pessoal do Banco Mundial.