Valor econômico, v.19, n.4611, 17/10/2018. Brasil, p. A3

 

País é 72° em ranking de competitividade 

Assis Moreira 

17/10/2018

 

 

O Brasil tem um setor público que impõe a maior sobrecarga de regulações entre 140 países, e é um dos menos preparados ("future-ready") para adaptar sua economia à nova revolução tecnológica. É o que aponta o Relatório Global de Competitividade, publicado pelo Fórum Econômico Mundial, que coloca o Brasil em 72º lugar, numa queda de três posições em relação ao levantamento anterior.

O mapa da competitividade é feito com base em metodologia que tenta capturar a capacidade de governos prepararem a economia para transformações que começam a ocorrer rapidamente, com novos modelos de negócios, e terão impacto no futuro do crescimento econômico e da produtividade.

Além de 98 indicadores, o fórum utiliza mais de 12 mil respostas dadas por grandes executivos, o que ajuda a mostrar a percepção sobre o país.

O Brasil se destaca pelo pior desempenho do setor público no item "sobrecarga de regulações pelos governos", ou seja, na 140ª posição quanto ao excesso de autorizações e exigências burocráticas que travam negócios.

Para o fórum, sobrecargas desnecessárias de regulações criam espaços para a corrupção e decisões arbitrárias, provocam atrasos, aumentam os custos de transações, reduzem a prestação de contas ("accountability") e penalizam de forma desproporcional o cidadão médio e as empresas menores.

Dessa forma, no pilar "instituições" em geral, o Brasil aparece na 97ª posição devido ao fraco desempenho do setor público e à percepção sobre altos níveis de corrupção no país.

A América Latina é vista como a região mais corrupta do mundo, e a Venezuela é considerada o país mais corrupto.

O relatório procura medir ainda a rapidez com que os países adaptam suas legislações a novos modelos digitais de negócios (comércio eletrônico, economia compartilhada, fintechs); como os governos respondem efetivamente a mudanças (mudança tecnológica, tendências sociais e demográficas, desafios de segurança e econômica, necessidades de qualificação etc.) e qual a sua visão de longo prazo.

Nesse cenário, os governos de Brasil (129ª posição), Grécia (135º lugar) e Venezuela (140º) são percebidos como entre os "menos preparados para o futuro", diz o relatório do Fórum Econômico Mundial.

No extremo oposto, de acordo com o levantamento, estão os governos de Cingapura, Luxemburgo e Estados Unidos.

O Brasil lidera a América do Sul em capacidade de inovação (40ª posição geral), mas a avaliação é de que continua bem abaixo de seu potencial.

Para o fórum, a fraca integração de políticas e a falta de coordenação entre setores público e privado estão entre os fatores que inibem a performance do país nesse setor.

No item de qualificação da população, outro critério de adaptação às novas exigências da economia, o Brasil ficou na 125ª posição. O relatório avalia também que reformas aprovadas no governo Michel Temer para flexibilizar o mercado de trabalho ainda estão por produzir os efeitos desejados.

No pilar de macroeconomia, o país fica na 122ª posição, com o fórum avaliando que Turquia, Brasil e Argentina "continuam voláteis".

O relatório enfatiza o argumento de que políticas redistributivas, investimentos em capital humano e taxação progressiva visando reduzir a desiguldade não comprometem o nível de competitividade de um país.

Ou seja, é possível compatibilizar competitividade e inclusão. E isso resulta, por exemplo, em trabalhadores das dez economias mais competitivas trabalhando cinco horas a menos por semana, em média, do que trabalhadores de três economias Brics - Brasil, Rússia e Índia.

No ranking geral, em que o Brasil aparece na 72ª colocação, o fórum aponta EUA, Cingapura, Alemanha, Suíça e Japão como as economias mais competitivas. Entre os Brics, a China fica na 28ª posição, a Rússia, no 43º lugar, a Índia, em 58º lugar, e a África do Sul, em 67º.