Valor econômico, v.19, n.4611, 17/10/2018. Política, p. A8

 

Simone Tebet é opção a Renan no Senado 

Vandson Lima 

17/10/2018

 

 

A renovação recorde do Senado para o próximo ano, com ascensão de uma grande leva de novatos ligados ao presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) adiantou as discussões para a escolha do próximo presidente da Casa e do Congresso Nacional.

Na busca de um nome consensual, que mantenha a tradição de o Senado ser comandado pela maior bancada da Casa, mas não crie conflitos com a tropa bolsonarista, a indicação da senadora Simone Tebet (MS), do MDB, tem conquistado adeptos em diferentes frentes.

Nome mais cotado em um eventual governo de Fernando Haddad (PT), Renan Calheiros (MDB-AL) tem se movimentado, ligado para os pares mas, segundo interlocutores, é ciente de que hoje sofre resistências - a leitura é que, em um cenário de mudança tão intensa, a maioria, inclusive no MDB, não quer botar a digital para elegê-lo de imediato.

Dos poucos cabeças da Casa que resistiram à enxurrada que retirará do Senado em 2019 nomes como o atual presidente, Eunício Oliveira (MDB-CE) e Romero Jucá (MDB-RR), Renan trabalha em diferentes frentes: jogador hábil, tenta se cacifar para, ao menos, ocupar desde já um outro posto de destaque, como a liderança do MDB, ou a presidência de uma comissão influente.

Como a presidência das casas legislativas é trocada a cada dois anos, sem a possibilidade de o presidente em exercício buscar a reeleição dentro da mesma legislatura de quatro anos, Renan vislumbraria igualmente retornar fortalecido ao posto de presidente do Senado, pela quinta vez, a partir de 2021, a depender dos desdobramentos de um eventual governo Bolsonaro.

Um episódio ocorrido no último encontro de senadores antes do primeiro turno, quando a liderança de Bolsonaro estava clara e crescente, foi uma mostra para os parlamentares de que movimentos estranhos às tradições do Senado, o poder moderador, poderiam estar em curso. Aliado de primeira hora de Bolsonaro, Magno Malta (PR-ES), que concorreu à reeleição, ouviu de alguns colegas que tinha com a escolha "perdido a chance" de ser vice-presidente do Brasil. A eles, respondeu em tom de desafio: "Sem problema nenhum. Eu serei o próximo presidente do Senado". Questionado se isso não iria ferir as práticas da Casa, já que seu partido não faria maioria, respondeu, segundo relatos: "Isto não é uma regra. Não está escrito em lugar algum".

Malta, surpreendentemente, não se reelegeu, apesar do vínculo com Bolsonaro. Mas o alerta ficou. Na semana passada, a primeira de atividades após o primeiro turno, uma ala do MDB se reuniu e passou a tratar do tema. A senadora Marta Suplicy (SP) defendeu abertamente que o partido trabalhe o nome de Tebet. Houve boa acolhida. A senadora passou a receber gestos de senadores que permanecerão na Casa e que apoiam Bolsonaro, como Lasier Martins (PSD-RS). Siglas como o PSDB, DEM, Rede e Podemos, por exemplo, também lhe prestam simpatia: preferem a manutenção da tradição, pois isso lhes garantiria postos em comissões e na mesa-diretora.

Filha do ex-presidente do Senado Ramez Tebet, morto em 2006, Simone Tebet é a primeira mulher a liderar o MDB no Senado e seria a primeira mulher a comandar o Senado Federal, se eleita.