Título: Atrás das pistas do contador
Autor: Mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 09/09/2012, Política, p. 8

MP recebe denúncias sobre o paradeiro do funcionário de Cachoeira, que teria passado por três estados desde a fugaNotíciaGráfico

O Ministério Público Federal recebeu informações de que Geovani Pereira da Silva, contador da quadrilha do bicheiro Carlinhos Cachoeira, passou por três estados diferentes nos últimos cinco meses: Bahia, Goiás e, mais recentemente, Rio de Janeiro. Ele está foragido desde 29 de fevereiro, quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Monte Carlo e prendeu a cúpula da organização criminosa. Menos o homem responsável pelas transações financeiras milionárias do bando.

A pista mais consistente chegou no fim de maio. Sob proteção de um coronel da Polícia Militar, ele teria se refugiado em uma fazenda na cidade de Catalão (GO), a 320km de Brasília. Os procuradores do MP pediram à PF uma diligência no endereço. Os agentes federais confirmaram que o imóvel pertencia ao PM em questão, mas Geovani não estava na fazenda. Uma chácara de propriedade do próprio Cachoeira, em Anápolis, município goiano e berço da quadrilha, também foi apontada como esconderijo, no fim de junho.

A primeira informação sobre o paradeiro do contador foi passada em março, logo após a prisão do bicheiro e seus aliados. Na ocasião, os procuradores do MP receberam uma denúncia de que o contador estava na Bahia. Não se descobriu, no entanto, em qual município. Há menos de um mês, Geovani teria sido visto no Rio de Janeiro. A ausência de detalhes, mais uma vez, impediu o início de uma busca no estado.

"As investigações mostram que, mesmo antes da prisão dos integrantes da quadrilha, Geovani costumava não manter residência no mesmo lugar por muito tempo. Esse é um dos aspectos que dificulta a captura dele. Além disso, ele guardava muitas informações na cabeça e conseguiu fugir com o computador onde devem estar armazenados dados importantes a respeito de suas atividades", informou um integrante do MP que participou da investigação.

Escutas A paralisação dos trabalhos da CPI instaurada para apurar as relações de Cachoeira, até depois do período eleitoral, deve retardar ainda mais a localização do homem que aparece em escutas telefônicas falando sobre movimentações de fartas quantias que abasteceram empresas fantasmas. Integrante da CPI, o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) se mostrou inconformado com o sumiço do contador, que já dura mais de 180 dias: "Hoje, não existe mais foragido no planeta. Ou a PF está prestes a capturá-lo, a qualquer momento, ou já o alcançou e está negociando as informações que ele tem. Pode tê-lo colocado no programa de proteção a testemunhas", especula o parlamentar.

Apesar das informações de posse do MP, os procuradores e a PF não descartam que Geovani esteja no exterior, embora o único rastro do contador seja seu passaporte, entregue à Justiça pelo advogado dele, Calisto Abdalla Neto. Ele garante que seu cliente não saiu do país, sempre esteve em Goiás. Reafirma que Geovani só se entregará caso o pedido de prisão dele seja revogado. O MP já recusou a proposta. "Estamos aguardando revogação da prisão. Não tenho tido contato com ele", afirmou Abdalla, negando que o contador tenha participado de ações da organização criminosa. "Ele prestava serviços para o Cachoeira, mas não tinha conhecimento das ilegalidades." O advogado afirmou ainda ter conhecimento que os telefones dele e de seu cliente estão grampeados ilegalmente. "Não tenho dúvida de que estamos sendo monitorados, só não sei por quem."

"Hoje, não existe mais foragido no planeta. Ou a PF está prestes a capturá-lo, a qualquer momento, ou já o alcançou e está negociando as informações que ele tem" Miro Teixeira (PDT-RJ), deputado federal e integrante da CPI