Correio braziliense, n. 20427, 25/04/2019. Brasil, p. 6

 

Mais baixas no ICMBIO

Luiz Calcagno

25/04/2019

 

 

Meio ambiente/ Além de ter tido três presidentes desde que a nova gestão assumiu o ministério, Instituto Chico Mendes perdeu diretores inconformados com declarações do ministro. Lugares vagos serão ocupados por policiais militares

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem pela frente a missão de resolver uma crise na pasta que, nos moldes do que ocorreu no Ministério da Educação, foi provocada pelo próprio gestor. Nos últimos 10 dias, o Instituto Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade (ICMBio) passou por três presidentes. Dois deles se demitiram em consequência de declarações e atos do próprio Salles, e um foi descartado sem maiores informações. Além dos presidentes, dois diretores também pediram exoneração. Ontem, Salles disse ao Correio, após a reunião do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que as demissões foram “uma consequência natural da troca do presidente (do ICMBio)” e que não há crises ou disputas internas. “Agora vamos avançar com os planos de reestruturação do órgão”, afirmou.

“Consequência natural” não é, dizem, nos bastidores do ministério, no Sindicato dos Servidores Públicos Federais (Sindsep) e na Associação Nacional de Servidores da Carreira de Meio Ambiente (Ascema). A reportagem apurou que Régis Pinto de Lima, que havia assumido o cargo de presidente interino do órgão; Luiz Felipe de Luca de Souza, da Diretoria de Criação e Manejo de Unidades de Conservação; Leandro Mello Frota, da Diretoria de Administração e Logística e Gabriel Henrique Lui, da Diretoria de Ações Socioambientais e Consolidação Territorial em Unidades de Conservação, teriam pedido exoneração após Salles demitir o chefe do Parque Nacional Lagoa do Peixe, no Rio Grande do Sul, Fernando Weber.

Sobre a demissão de Weber, o ministro argumentou que “todos os cargos de confiança são cargos de livre provimento e escolha do chefe do executivo, e esse não é exceção”. A ação ocorreu 10 dias após o ministro pedir, em uma palestra para ruralistas do Rio Grande do Sul, a investigação de fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) que atuam no combate a irregularidades na área de preservação ambiental. À época, o chefe da pasta de Meio Ambiente foi aplaudido pelos presentes. Um dia depois (em 15 de abril), o então presidente do ICMBio, Adalberto Eberhard, se demitiu.

Após a saída de Eberhard se deu, ainda, um caso curioso. Em 17 de abril, a comunicação do ministério divulgou um texto informando que o coordenador-geral de Proteção, o coronel da reserva do Exército Antônio César de Oliveira Mendes ocuparia a presidência interina do ICMBio. Cinco dias depois, porém, Salles colocou Regis no cargo e a nota informando a nomeação de Mendes foi apagada do site da pasta, embora continuasse nos registros do Google. A substituição levantou suspeitas de uma disputa interna.

PM no comando

Sobre o episódio, o ministro disse que não há disputas. “Quem trouxe os militares para dentro do ministério fui eu. Vários deles estão aqui e continuarão. É um alinhamento nosso desde o início”, garantiu. Apesar de preterir o coronel reformado, a afirmação do ministro condiz com as novas nomeações. Salles indicou como novo presidente do ICMBio, o coronel da Polícia Militar Ambiental de São Paulo, Homero de Giorge Cerqueira, que ainda não assumiu. E no lugar dos diretores exonerados, o ministro anunciou, pelo Twitter, os policiais militares de São Paulo, coronel Fernando Lorencini, tenente-coronel Marcos Simanovic, major Marcos Aurélio Venâncio e o também major Marcos José Pereira.

Diretor do Sindsep e funcionário aposentado do Ibama, Francisco Machado disse que o clima entre funcionários do ICMBio, do Ibama e do próprio ministério é de medo. “Ele (Salles) já passou o serviço florestal para a Agricultura. Agora, indica pessoas que simplesmente não conhecemos, que não são da área. Desse jeito, vão comprometer as unidades de conservação e o meio ambiente”, alertou. A Ascema publicou uma carta aberta em que critica o ministro por atacar o próprio corpo de servidores “através de publicações em redes sociais e de declarações na imprensa baseadas em impressões superficiais (...), como em postagem no Instagram ao dizer que pretendia fortalecer o ICMBio ‘com gente séria e competente’ e não com ‘bicho grilo chuchu beleza’ que ‘já tá provado que não funciona’”.