Valor econômico, v.19, n.4620, 30/10/2018. Brasil, p. A6

 

Militares querem impedir alta do desmatamento 

Ribamar Oliveira 

30/10/2018

 

 

Os militares da reserva que assessoram o presidente eleito, Jair Bolsonaro, foram os primeiros que resistiram à ideia do então candidato à Presidência da República de fundir o Ministério da Agricultura com o Ministério do Meio Ambiente, segundo informou ao Valor um dos coordenadores do programa do novo governo. Na área ambiental, a principal preocupação dos militares está relacionada com o desmatamento da região Amazônica.

Com base em estudos climáticos realizados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), pela Universidade de São Paulo (USP) e por outras universidades, eles observam que, se o desmatamento afetar mais 7% da floresta Amazônica, o clima das regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul será irreversivelmente afetado.

"Para eles, é uma questão de segurança nacional", disse a fonte. "Na discussão sobre a fusão da Agricultura com o Meio Ambiente, eles fizeram chegar ao Bolsonaro essa preocupação", acrescentou. Os militares consideram que os dois ministérios têm atribuições e esferas de atuação diferentes.

Os estudos técnicos mostram que partes das regiões Centro-Oeste e Sudeste do Brasil estão no mesmo paralelo geográfico onde estão localizados desertos ou áreas de savanas em outras regiões do mundo.

Isto não ocorreria no Brasil, de acordo com os estudos, por causa da influência da floresta Amazônica no sistema climático, regulando as chuvas nas áreas onde está localizada a maior parte da população brasileira. A umidade da bacia amazônica é carregada pelos ventos para o Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil, sob a forma de vapor de água, ocasionando os chamados "rios voadores".

O desmatamento da Amazônia foi realizado, em grande medida, nos últimos anos, para a abertura de áreas destinadas à pecuária. A posição dos militares que assessoram Bolsonaro entra em choque, portanto, com um grupo também de grande influência com o presidente eleito formado por pecuaristas e representantes do agronegócio.

Para deter o desmatamento e atender aos seus assessores militares, Bolsonaro terá que incentivar programas de melhoria da produtividade da pecuária já existente, evitando, assim, a abertura de novas áreas, acredita a fonte consultada.

O "núcleo militar" foi montado pelo próprio candidato, muito antes do lançamento de sua candidatura à Presidência da República.

Bolsonaro procurou pessoalmente alguns generais que estavam na reserva, entre eles Augusto Heleno, possível ministro da Defesa no próximo governo, e Oswaldo Ferreira. Disse a eles que ia ser candidato à Presidência e que precisava da ajuda deles para montar o seu programa de governo.