Valor econômico, v. 20, n. 4786, 05/07/2019. Especial, p. A16

 

No mundo, 10% dos trabalhadores recebem 50% dos salários

Catherine Bosley

05/07/2019

 

 

A parcela da renda mundial canalizada para os trabalhadores encolheu "significativamente" neste século. Além disso, os que auferem maior renda estão ficando com uma parte maior do bolo, de acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

Nova pesquisa da OIT mostra que os trabalhadores de baixa renda de economias avançadas foram especialmente afetados, e que apenas 10% dos trabalhadores recebem quase 50% dos salários mundiais. Os 20% mais baixos ganham menos que 1% da renda total do trabalho.

Os resultados vão alimentar o debate sobre a desigualdade de renda, com a discrepância entre os ricos e os pobres tendo sido responsabilizada pela fúria contra o capitalismo e pela ascensão de políticos populistas, como o presidente dos EUA, Donald Trump. Ray Dalio, o bilionário fundador do maior fundo hedge do mundo, o Bridgewater Associates, qualificou a desigualdade de renda nos EUA de "emergência nacional".

Em relatório publicado ontem, a OIT revela que, entre 2004 e 2017, a parcela da renda da classe média (definida aqui como o segmento central de 60% da distribuição dos trabalhadores) caiu para 43%, dos 44,8% anteriores. Ao mesmo tempo, os 20% de maior renda elevaram sua participação média de 51,4% para 53,5%.

Além disso, a OIT calcula que um aumento de 1% na parcela dos 5% de maior ganho está associado à queda de 1,6% ocorrida no percentil mais baixo.

"A evolução da distribuição de renda do trabalho entre 2004 e 2017 segue um formato de 'taco de hóquei'", observou o órgão. "São perdas significativas para as classes média e média-baixa e grandes aumentos para o topo."

O estudo encontrou evidências da incidência desse padrão em países como a Alemanha, os EUA e o Reino Unido.

No total, a parcela da renda apropriada pelos trabalhadores está em queda. Nas Américas, ela caiu em 1,6 ponto percentual entre 2004 e 2017, enquanto na Europa o recuo foi de mais de 2 pontos percentuais. Isso implica que uma fatia maior da renda agregada ficou com o capital, afirma o documento da OIT.