Valor econômico, v.19, n.4613, 19/10/2018. Política, p. A8
Temer mantém silêncio sobre indiciamento feito pela PF
Carla Araújo
Andrea Jubé
19/10/2018
Após conversas com auxiliares e ministros sobre o relatório da Polícia Federal, que pede seu indiciamento por três crimes, o presidente Michel Temer decidiu não se pronunciar oficialmente até que a Procuradoria-Geral da República se manifeste.
A ideia é evitar que qualquer fala do presidente seja interpretada como uma forma de pressionar Raquel Dodge, procuradora-geral, a não formalizar a denúncia contra ele. Ontem, Temer viajou para São Paulo para se encontrar com seu advogado, Antonio Claudio Mariz de Oliveira.
Nesta semana, a PF enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF) o relatório que indicia Temer por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. O ministro Luis Roberto Barroso encaminhou para que a PGR se manifeste em 15 dias. A defesa do presidente já protocolou uma petição que pede a Barroso nulidade do indiciamento imposto, alegando que a PF não tem competência para isso.
Segundo auxiliares do presidente Temer, a inclusão no relatório da PF da descrição de diálogos entre o braço-direito de Raquel, Alexandre Camanho, com o ex-assessor de Temer, Rodrigo Rocha Loures, foi uma "explícita tentativa da PF de pressionar Raquel". "Eles quiseram colocar a faca no pescoço para que ela denuncie", afirmou uma fonte. Loures foi filmado em abril do ano passado recebendo uma mala com R$ 500 mil de um executivo da J&F.
O relatório da Polícia Federal apontou "haver indícios para se acreditar no pagamento de cerca de R$ 5,9 milhões diretamente para o Excelentíssimo Senhor Presidente da República, decorrente desta relação com o setor portuário". Agora, os advogados do presidente irão dissecar o relatório, mas já acreditam que ele contém uma série de falhas, não apresenta materialidade, documentos ou provas.
O relatório - de mais de 800 páginas - foi discutido em reunião convocada pela manhã pelo presidente Temer no Palácio da Alvorada. Participaram do encontro os ministros Moreira Franco (Minas e Energia), Carlos Marun (Secretaria de Governo) e Torquato Jardim (Justiça).
Além disso, estavam presentes o marqueteiro Elsinho Mouco; o secretário de Comunicação Social da Presidência da República, Márcio Freitas; e o advogado Brian Alves Prado.
Ao Valor, Torquato afirmou que eles fizeram uma revisão técnica jurídica do relatório e uma avaliação de governo e da imagem do presidente. "Como não há fato novo relevante, aguarda-se a decisão da PGR. Depois, decide-se como prosseguir", disse o ministro da Justiça.
Ainda segundo o ministro da Justiça, Temer como político é acostumado a conviver com a adversidade. "Mas o coração do pai sangra - a agressão à família não devia ser parte", afirmou Torquato, em referência ao indiciamento também da filha do presidente Temer, Maristela.
Temer chamou o relatório novamente de "peça de ficção", se mostrou incrédulo e disse que vai trabalhar para desmontar a "farsa" feita pela PF supostamente em conjunto com Barroso.