Valor econômico, v.19, n.4613, 19/10/2018. Política, p. A10

 

Datafolha mostra Bolsonaro com 50% dos votos totais e Haddad com 35%

Cristiane Agostine 

19/10/2018

 

 

O candidato Jair Bolsonaro (PSL) mantém a liderança na disputa pela Presidência da República e tem ampla vantagem, com 50% dos votos totais, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Datafolha. O presidenciável do PT, Fernando Haddad, tem 35%.

A pesquisa tem margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos. Votos em branco e nulo somam 10% e eleitores indecisos ou que não responderam são 5%.

Na contagem dos votos válidos, Bolsonaro soma 59% e Haddad, 41%. Para calcular os votos válidos são excluídos os votos em branco, nulo e os eleitores que se declaram indecisos. O procedimento é o mesmo usado pela Justiça Eleitoral para divulgar o resultado oficial da eleição. Para vencer, o candidato precisa de 50% dos votos válidos mais um.

Em relação à pesquisa divulgada no dia 10, Bolsonaro oscilou um ponto para cima e Haddad, um ponto para baixo.

No primeiro turno, Bolsonaro alcançou 46% dos votos válidos e Haddad teve 29%.

A vantagem de Bolsonaro sobre Haddad continua maior entre os homens (58% a 32%) do que entre as mulheres (43% a 39%).

A exemplo do resultado do primeiro turno, o candidato do PT só aparece à frente do presidenciável do PSL no Nordeste, tradicional reduto petista. Na região, Haddad tem 53% das intenções de voto e Bolsonaro registra 31%.

Em todas as outras regiões, Bolsonaro vence Haddad com vantagem. No Sudeste, o candidato do PSL tem 55% e Haddad, 29%. Na região Sul, Bolsonaro está com 61% e o petista, 27%.

A rejeição a Haddad superou a de Bolsonaro e 54% dos eleitores afirmaram que não votariam no petista de jeito nenhum, enquanto 41% rejeitam o candidato do PSL.

Os eleitores do candidato do PSL são mais convictos do que os seguidores de Haddad. Dos entrevistados, 95% afirmaram estar totalmente decididos em votar em Bolsonaro e 89% em Haddad.

O instituto também perguntou aos eleitores sobre a importância da participação dos candidatos em debates e 67% afirmaram que é "muito importante"; 13% disseram que é "um pouco importante", 19% consideram "nada importante" e 2% não souberam responder.

Bolsonaro já afirmou que não deve participar de nenhum confronto público com Haddad.

A pesquisa do Datafolha foi contratada pela TV Globo e pelo jornal "Folha de S. Paulo" e está registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob o protocolo BR 07528/2018. O instituto ouviu 9.137 eleitores entre quarta e ontem em 341 municípios. O nível de confiança é de 95%.

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DEM pode manter-se no governo em 2019

Fernando Taquari

19/10/2018

 

 

Com 29 deputados federais eleitos e seis senadores na próxima legislatura, o DEM negocia nos bastidores a sua adesão a um eventual governo de Jair Bolsonaro (PSL). As tratativas ainda são preliminares e ocorrem por meio de emissários. O primeiro passo para um acordo, no entanto, já foi dado. O presidenciável declarou-se neutro na disputa pelo governo do Rio entre Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM).

Nas conversas, o DEM já fez chegar a Bolsonaro o desejo de compor sua equipe ministerial, independentemente do Centrão. Essa participação, explicaram dirigentes da legenda, não inclui a ida do deputado eleito Onyx Lorenzoni (DEM-RS) para chefiar a Casa Civil. A escolha do parlamentar gaúcho, um dos coordenadores políticos da campanha do PSL, será da cota pessoal do próprio presidenciável.

Oficialmente, o DEM considera o debate prematuro. O presidente do partido e prefeito de Salvador, ACM Neto, afirma que Bolsonaro, caso eleito, assume com o desafio de compor "uma boa equipe" e construir um novo formato de relação com o Legislativo. "Não pode ser o toma-lá-dá-cá", diz ACM Neto, que ao contrário do partido, que ficou neutro, declarou apoio ao candidato do PSL no segundo turno da corrida presidencial.

Segundo o dirigente, Bolsonaro não deve fazer do governo um balcão de negócios, mas precisa estabelecer uma relação que lhe dê segurança e maioria para aprovar reformas impopulares, mas necessárias. "Até porque, em um primeiro momento, vai haver uma lua-de-mel com as urnas. Só que depois de eleito, pesa nos ombros a responsabilidade de governar. Aí o buraco é mais embaixo", afirma.

Outro aspecto que pode determinar o governismo do DEM é a eleição para a presidência da Câmara. Com a segunda maior bancada a tomar posse em fevereiro, o PSL reivindica o cargo, a despeito do atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que já articula sua recondução. Bolsonaro, por ora, tem evitado tratar do assunto, ainda que Maia tenha feito acenos em sua direção ao indicar que pode contar seu apoio.

"Acho que este é um tema para ser tratado depois. Rodrigo tem tido o cuidado de não abrir essa discussão. É um cara experimentado. Sabe que na política você trabalhar no tempo certo é o mais importante", aponta ACM Neto, antes de destacar que as qualidades do correligionário o credenciam para o posto. "O Brasil inteiro conhece a condução responsável, de diálogo e harmonia que ele empreendeu como presidente da Câmara. Seja na posição que for, terá um papel importante na sucessão".

De olho no futuro, o prefeito de Salvador entende que o DEM, em sua opinião fortalecido pelo resultado das urnas, deve começar a trabalhar, tão logo acabe o segundo turno, em torno de um projeto nacional de poder com vistas a 2022. "Tivemos um certa inserção com a pré-candidatura de Rodrigo Maia neste ano. Foi algo em cima da hora. Está mais do que provado que um projeto viável tem que ser trabalhado com antecedência", diz.

O próprio ACM Neto tem sido apontado por interlocutores, a depender do desempenho de um governo Bolsonaro, como uma possibilidade na próxima corrida presidencial. O prefeito, porém, desconversa. "Seria precipitado demais falar agora em nomes". A prioridade, afirma ele, é concluir o mandato. "É óbvio que tenho projetos políticos. Deixando a prefeitura, vou começar a enxergar o papel que devo ter em 2022".

Ao fazer um balanço da campanha de 2018, ACM Neto não mostra arrependimento pelo apoio a Geraldo Alckmin (PSDB), embora classifique como "desastroso" o desempenho do ex-governador paulista. Em sua análise, não se pode atribuir a derrota apenas à performance pessoal de Alckmin.

O resultado, conforme o prefeito, tem a ver com fatores externos, como a facada a Bolsonaro, e outras questões internas, como o desgaste do PSDB, a incapacidade da campanha em separar os passivos do governo Michel Temer e a falta de engajamento do aliados. "Na hora que o PSDB abriu a porteira, a boiada inteira passou. Ninguém mais se sentiu comprometido", diz ao lembrar a adesão de integrantes do centrão à candidatura do PSL.

ACM Neto não acredita no fim do PSDB. Os tucanos, argumenta, vão precisar se reinventar e "calçar as sandálias da humildade". "O PSDB vai sentar no divã e gastar muito tempo com terapia de grupo. Terão que fazer uma autocrítica pesada e reconhecer a possibilidade de apoiarem outros projetos. Ou seja, permitir que outros parceiros assumam um protagonismo maior, sem que isso represente um demérito", conclui.