Título: BC avisa que o corte de juros está no fim
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 07/09/2012, Economia, p. 9

Com inflação em alta, acima de 5% em 12 meses, Comitê de Política Monetária indica que Selic pode cair, no máximo, de 7,5% para 7,25%

O Banco Central, sob o comando de Alexandre Tombini, deixou a porta aberta para pelo menos mais um corte na taxa básica (Selic) em outubro. É o que indica a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem. O documento, no entanto, aumentou a divisão no mercado entre os que acreditam em um novo ajuste, que seria de 0,25 ponto percentual, de 7,5% para 7,25% ao ano, e os que apostam que o ciclo de reduções se encerrou. No governo, uma parada não seria vista com receio, principalmente se garantir que, em 2013, não haverá necessidade de voltar a subir a taxa. A continuidade, porém, agradaria a presidente Dilma Rousseff, que, pelo segundo ano consecutivo, entregará um crescimento minguado, quadro que ela pretende reverter o mais rapidamente possível.

Técnicos da equipe econômica argumentam que o crescimento, depois de um primeiro semestre fraco, assumiu um ritmo satisfatório e que a inflação deve convergir para taxas menores que as atuais nos próximos meses. Na avaliação deles, a atividade já estaria mais robusta se comparada à do segundo trimestre do ano. Para eles, mesmo com esse ritmo maior, os preços têm se mantido sob controle, com altas pontuais em produtos cuja oferta diminuiu por problemas climáticos. "Somos tentados a olhar a economia pelo retrovisor, o que é natural pela defasagem dos dados, mas já estamos em setembro e o cenário de crescimento divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na semana passada se referia a abril", argumentou um dos técnicos.

Nesse cenário, defende uma ala do governo, não seria problema, desde que com a "máxima parcimônia", incrementar um pouco mais o desempenho do país no próximo ano. O combustível extra seria dado com pelo menos mais um corte na Selic de 0,25 ponto nos juros em outubro. A decisão acerca desse ajuste, porém, ficou condicionada à evolução da atividade. Analistas ponderam que, com a inflação do ano praticamente dada, acima de 5%, o BC vai olhar para a economia e decidir. "No meu cenário, o BC vai se decepcionar com o crescimento e continuar a cortar os juros", disse Mauro Schneider, economista-chefe do Banco Banif. Ele aposta em mais dois cortes de 0,25 ponto, para 7%.

Evento extremo O Itaú Unibanco também acredita na continuidade da queda da Selic. Mas aposta em apenas mais uma baixa de 0,25 ponto. "A retomada da economia percebida pelo Copom e a inflação mais alta no curto prazo sugerem a proximidade do fim do ciclo", justificou Ilan Goldfajn, economista-chefe da instituição. Segundo a ata do Comitê, a instituição deve continuar a monitorar atentamente os preços dos alimentos, que têm incomodado o consumidor no curto prazo. A autoridade monetária, inclusive, reconheceu no documento que problemas climáticos vêm pesado no custo de vida do brasileiro, mas garantiu que essas pressões, sobretudo as vindas do tomate, da batata, das carnes e dos grãos, devem se reverter. Para a instituição, esse "choque de oferta" será menos intenso do que o observado em 2010/2011. O BC ainda enfatizou que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deve voltar a convergir para um número mais próximo do objetivo definido pelo governo, uma inflação de 4,5%.

O BC destacou ainda que diminuíram as chances de ocorrer um "evento extremo" na economia internacional. Mas reforçou que a incerteza ainda persiste em função da dificuldade de se encontrar uma solução permanente para os problemas na União Europeia. A menor demanda global, explicou o Copom, mantém um viés desinflacionário sobre a economia brasileira, que, ressalte-se, ainda não se concretizou.

O RECADO ESTÁ DADO

Entenda o que a instituição quis dizer na ata da última reunião do Copom

» A autoridade monetária deixou as portas abertas para pelo menos mais um corte da taxa de juros em outubro, provavelmente de 0,25 ponto percentual.

» As condições para que a redução da Selic se concretize são: dados ainda fracos da atividade econômica e índices de inflação mais confortáveis.

» O BC está abrindo mão de manter a inflação muito próxima do centro da meta, de 4,5% em 2012. Admite que, no ano que vem, também o IPCA ficará distante desse objetivo, assim como no início de 2014.

» O consumo das famílias e os investimentos produtivos devem crescer a taxas mais fortes nesta segunda metade do ano, influenciados pelos estímulos dados pelo governo e pela expansão do crédito.

» O cenário internacional, sobretudo a crise na Europa, continuará a ter influencia sobre o Brasil e deverá colaborar para a redução do custo de vida.

» A alta de preços de alguns alimentos é temporária e ocorreu em função de problemas climáticos e da quebra de safras tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos.

» O governo, mais precisamente a presidente Dilma Rousseff e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, já admite que o BC pode não cortar mais os juros em outubro, mantendo a Selic inalterada por um longo período.