Título: BCE tenta salvar o euro
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Fonte: Correio Braziliense, 07/09/2012, Economia, p. 13
Autoridade monetária europeia anuncia programa de compra de títulos públicos para evitar insolvência da Espanha e da Itália
Com a oposição isolada da Alemanha, o Banco Central Europeu (BCE) anunciou ontem um programa de compra de títulos públicos para reduzir os custos de financiamento de países da Zona do Euro e aliviar a crise financeira da região. Bem recebido pelos investidores, o plano tem endereço certo: evitar a insolvência da Itália e da Espanha, que vêm sendo obrigadas a pagar juros excessivos para rolar suas obrigações no mercado, num processo que ameaça levar o bloco monetário ao colapso.
O programa autoriza a instituição a adquirir no mercado secundário bônus com até três anos de prazo, mas não fixa limite financeiro para as operações. Ou seja, a autoridade monetária poderá gastar o que for necessário para evitar a quebra e restaurar a confiança dos mercados nas economias mais fragilizadas.
O presidente do BCE, o italiano Mario Draghi, que no início de agosto havia prometido fazer tudo ao seu alcance para salvar o euro, saiu como grande vitorioso de um embate que se arrastava há meses. Por entender que a medida equivale a financiar governos soberanos com base em emissão de moeda, o que tem efeito inflacionário e iria contra os estatutos da organização — o governo alemão se opunha tenazmente ao projeto, mas foi derrotado pelo crescente apoio que a proposta recebeu dos demais países do bloco. "Outras autoridades veem uma urgência maior para ajudar a Espanha e a Itália e impedir um aprofundamento da crise da Zona do Euro", resumiu o presidente do Banco Central alemão, Jens Weidmann, em nota distribuída após a reunião mensal do BCE, em que foi voto vencido.
Exigências Segundo Draghi, o programa vai evitar a desagregação do euro. "Sob condições apropriadas, teremos uma escora completamente efetiva para impedir cenários potencialmente destrutivos", disse. Ele observou, no entanto, que os países terão que cumprir algumas exigências para serem socorridos. Só receberão ajuda aqueles que concordarem em implementar ajustes econômicos severos para equilibrar suas contas — o que, entretanto, espanhóis e italianos já vêm fazendo. Além disso, a compra de títulos será feita de forma coordenada com o fundo de resgate da Zona do Euro e o Fundo Monetário Internacional (FMI) poderá ser chamado a monitorar a aplicação do plano.
Numa concessão para aliviar os temores alemães, o presidente do BCE informou que todas as aquisições serão "esterilizadas", com o recolhimento dos bancos de volumes equivalentes de recursos para evitar risco de inflação. Disse também que a instituição abrirá mão do status de credor preferencial sobre os títulos que comprar, recebendo o mesmo tratamento dos investidores privados em caso de inadimplência