Valor econômico, v.19, n.4603, 04/10/2018. Política, p. A7

 

Bolsonaro lidera com 32%; Haddad tem 23%, diz Ibope 

Ricardo Mendonça 

04/10/2018

 

 

O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, alcançou 32% das intenções de voto, conforme pesquisa Ibope realizada nos dias 1º e 2 de outubro. Ele é seguido por Fernando Haddad (PT), com 23%; Ciro Gomes (PDT), 10%; Geraldo Alckmin (PSDB), 7%; e Marina Silva (Rede), 4%.

As diferenças em relação à última pesquisa Datafolha, inteiramente realizada no dia 1º e divulgada dia 2, são mínimas. No Datafolha, Bolsonaro tinha os mesmos 32%; Haddad, 21%; Cirro, 11%; Alckmin, 9%; Marina, 4%.

Em relação à pesquisa anterior do mesmo Ibope, realizada nos dias 29 e 30 de setembro, os candidatos apenas oscilaram dentro da margem de erro, de dois pontos mais ou para menos. Bolsonaro oscilou um ponto para cima; Haddad oscilou dois pontos para cima. Ciro e Alckmin oscilaram um ponto para baixo, cada um. Marina não registrou alteração.

Atrás de Marina Silva na pesquisa mais recente aparecem João Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB), cada um com 2% das intenções de voto; Alvaro Dias (Podemos) e Cabo Daciolo (Patriota) têm 1% cada. Os outros quatro candidatos a presidente não pontuaram. Votos em branco e nulos somam 11%; outros 6% não responderam ou não souberam responder.

Em votos válidos (a conta que desconsidera votos em branco e nulos), Bolsonaro fica com 38% ante 28% de Fernando Haddad. Para vencer no primeiro turno, marcado para o próximo domingo, dia 7, um postulante precisa superar 50% dos votos válidos.

O Ibope fez quatro simulações de segundo turno. No cenário mais provável, Haddad alcança 43% ante 41% de Bolsonaro. É uma situação de empate técnico. Nesse caso, votos em branco e nulo são 12%; outros 3% não responderam.

Ciro Gomes é o único candidato que venceria Bolsonaro num confronto direto: 46% a 39%. Para o público que rejeita Bolsonaro, o candidato do PDT vem pregando o chamado voto útil em seu nome. A tendência é que intensifique esse tipo de apelo.

Num segundo turno entre Bolsonaro e Alckmin, o placar seria 41% a 40% para o tucano. Trata-se, também, de uma situação de empate técnico.

Contra Marina Silva, Bolsonaro marca 43%, a candidata do Rede alcança 39%. Nesse caso, o empate técnico ocorre no limite máximo da margem de erro.

Bolsonaro e Haddad também lideram no quesito da rejeição: 42% dos eleitores afirmam que não votariam no candidato do PSL de jeito nenhum. A taxa apurada para Haddad é de 37%.

Nesse teste, o entrevistado pode indicar mais de um nome. Por isso, a soma das taxas de rejeições supera 100%. Marina Silva vem em seguida, rejeitada por 23% do eleitorado; Alckmin, marca 17%; Ciro Gomes, 16%.

O Ibope ouviu 3.010 eleitores em 209 municípios. O intervalo de confiança do levantamento é de 95%. O estudo foi contratado pela TV Globo e pelo jornal O Estado de S. Paulo. O registro da pesquisa no Tribunal Superior Eleitoral é BR 08245/2018.

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Como identificar uma fraude eleitoral?

Guilherme Russo 

04/10/2018

 

 

A legitimidade das eleições brasileiras vem sendo atacada nos últimos tempos. Em 2014, o presidenciável Aécio Neves solicitou ao TSE uma auditoria dos votos.

Recentemente, Jair Bolsonaro tem dito que se perder a eleição será por fraude da urna eletrônica. Segundo ele, "a grande preocupação agora não é perder no voto, é perder na fraude. Essa possibilidade de fraude no segundo turno, talvez até no primeiro, é concreta."

A desconfiança em relação à urna não parece estar restrita a certas elites políticas. Segundo a pesquisa "A Cara da Democracia", a maioria dos cidadãos diz não acreditar que a contagem de votos seja feita de maneira honesta.

No entanto, a descrença não é baseada em qualquer evidência de favorecimento para um ou outro candidato. Além de todas as análises técnicas apontarem que a urna eletrônica é confiável, uma análise matemática simples dos votos também mostra que não há evidências de fraude nos resultados eleitorais.

A ideia para esta análise, inspirada em um artigo publicado por Bernd Beber e Alexandra Scacco na revista acadêmica americana, "Political Analysis", em 2012, é de que por que somos ruins em criar aleatoriedade, resultados fraudulentos por intervenção nos resultados das eleições são perceptíveis em larga escala.

Isto é, se eu lhe pedisse para falar um número qualquer entre um a 100, você provavelmente não diria um, 99 ou 100. Entretanto, um sorteio perfeito há de dar a mesma chance para todos os números possíveis. O mesmo acontece com o último dígito dos votos de candidatos competitivos a presidente. Em uma eleição sem interferência humana, o último dígito do número de votos em cada urna deve variar de maneira uniforme entre 0 e 9. Se um ser humano for criar os números, porém, é provável que um algarismo ocorra com maior frequência que outros.

Por exemplo, é possível que a pessoa crie muitos números que terminem em 0, como foi o caso da eleição presidencial de 2003 na Nigéria, e de 2007 em Senegal. Talvez a pessoa queira justamente evitar números terminados em 0 e acabe sistematicamente diminuindo a frequência deste algarismo.

Analisando os votos para os três principais candidatos da corrida presidencial de 2014 em cada uma das quase 430 mil urnas, a distribuição beira a uniformidade esperada, com 10% para cada algarismo.

O trabalho de Beber e Scacco também sugere outras duas maneiras de perceber a interferência. Primeiro, tendemos a subestimar a repetição de um mesmo algarismo (por exemplo, 1-1 e 4-4). Segundo, utilizamos pares de algarismos sequenciais mais do que o acaso criaria (por exemplo, 2-3 e 7-8).

A repetição de um mesmo algarismo em um sorteio deve acontecer em 10% das vezes, já que a chance do segundo algarismo ser igual ao primeiro é sempre a mesma.

No caso das eleições de 2014, a frequência de algarismos repetidos nos dois últimos dígitos é 9,9996% nos votos de Dilma no 1º turno e 10,045% para Aécio. Ou seja, são praticamente perfeitos.

Já a existência de pares com algarismos consecutivos deve acontecer 20% das vezes em um sorteio, já que há duas entre dez possibilidades de que o segundo algarismo seja vizinho do primeiro (considerando 9 e 0 como vizinhos). Outra vez, os números reais da eleição de 2014 são equivalentes ao que esperaríamos: números consecutivos aconteceram 19,82% entre os votos de Dilma e 20,02% entre os votos de Aécio.

Os resultados para o segundo turno são equivalentes. Isto indica que não há sinal de interferência nas eleições de 2014.

É importante reconhecer que estes testes detectam apenas um tipo de fraude: a produção de números na contagem de votos de números grandes. Com algoritmos inversos, pode-se mudar os votos de outros modos. Porém, para que tenham impacto substantivo na eleição presidencial, outros tipos de alterações nos resultados teriam de ser feitas em quase todas as urnas e de forma que não alertassem outros mecanismos de checagem. 

Portanto, fazer alegações sobre fraude eleitoral sem evidências passa a ser nada mais que um desfavor para a legitimidade da democracia brasileira.