Valor econômico, v.19, n.4603, 04/10/2018. Política, p. A8

 

Bolsonaro terá maioria, prevê Planalto 

Carla Araújo 

Fernando Exman 

04/10/2018

 

 

Autoridades do Palácio do Planalto consideram a vitória do candidato do PSL à Presidência da República, deputado Jair Bolsonaro, o cenário mais provável como desfecho da eleição que decidirá o sucessor do presidente Michel Temer. A projeção difere do que vinha sendo esperado pela cúpula governista no início do campanha.

Da mesma forma, passaram a afirmar agora que o capitão reformado do Exército conseguirá formar uma maioria congressual, apesar da sua reduzida coligação. Mas assim como os seus adversários, advertem essas fontes, Bolsonaro deve ter dificuldades para pacificar o país. "Se ele ganhar, não tenho dúvida de que ele vai ter maioria", afirmou uma dessas autoridades, lembrando que a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) anunciou recentemente apoio a Bolsonaro - notícia antecipada pelo Valor PRO, o serviço de informações em tempo real do Valor.

Para a fonte, essa maioria não evitará que precisem ser construídos processos de negociação a cada votação. Isso porque essa coalizão não foi construída a partir de um acordo programático anterior ao pleito. "Alguém vai ter que mudar, ou muda o Congresso ou muda ele. Terá que estabelecer um processo de negociação política", acrescentou.

Nos últimos dias, institutos de pesquisa apontaram um crescimento das intenções de voto de Bolsonaro, o que autoridades do governo consideram um "ajuste" nas estatísticas nesta etapa final da campanha eleitoral e que ainda devem crescer até domingo. Não se arriscam, no entanto, a palpitar se a vitória do candidato do PSL deve se dar no primeiro turno, marcado para domingo, ou no segundo.

Em paralelo, Bolsonaro foi recebendo apoios públicos de candidatos a deputado federal e governador de partidos que não integram sua coligação. Esse movimento, aliás, foi considerado por integrantes de sua campanha uma demonstração de que ele não teria apenas uma base de apoio considerável no Congresso para aprovar projetos, mas também votos suficientes para barrar eventuais pedidos de impeachment. A frente parlamentar da agropecuária, por exemplo, tem cerca de 260 parlamentares.

"O que lamento é que hoje não temos resultado pacificador. Nenhum resultado para o Brasil é pacificador... Isso é muito mais sério", destacou uma outra autoridade, enquanto o governo permanece preparando a transição para a próxima administração, o que se dará geograficamente no edifício do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), a cerca de cinco quilômetros do Palácio do Planalto. "O problema maior é que não temos solução pacificadora. O país não vai sair do buraco que está. Eu não vejo fresta de pacificação."

Na visão de auxiliares do presidente Temer, essa eleição ganhou um caráter plebiscitário e evidenciou que o modelo de campanha baseado na televisão está ultrapassado e as redes sociais ganharam de vez o protagonismo do embate político. Nesse cenário, argumentam, Bolsonaro soube se posicionar desde o início da disputa.

"Os equívocos que foram cometidos na campanha são muito sérios e não se resolveram na televisão, pioraram", pontuou uma das fontes. "O Geraldo Alckmin, por exemplo, que achava que virava tudo na televisão. Ninguém se distanciou mais de si mesmo do que o Alckmin. Ele é o PSDB, racional, sofisticado, com resultados para apresentar. O que é a campanha do Alckmin? Bater no Bolsonaro."

Com isso, concluiu a fonte, Alckmin entrou no terreno em que Bolsonaro foi forjado. "Os caras chamaram o Bolsonaro para a briga de rua e ele é craque nisso. Não pergunta pra ele como ele vai resolver o problema do desemprego, ai ele vai se atrapalhar. A campanha do Alckmin desceu para o terreno que interessa para o adversário dele, que é o bate-boca. E no bate-boca ninguém ganha do Bolsonaro. Ele é craque nisso. Faltam outras coisas para ele, mas ele é bom nisso."

Em relação ao candidato do MDB, partido do presidente Michel Temer, integrantes do governo consideram que Henrique Meirelles, embora com tempo de TV e recursos, fez uma boa campanha - mas nos moldes convencionais. "Eu quero saber qual o partido, fora PT, que é só Lula, que teve candidato sendo impulsionado pelo partido? Ciro [Gomes] é do Ciro, não do PDT. O Alckmin não conseguiu segurar o PSDB. A Marina [Silva, Rede] foi para o que é o desempenho dela. Houve uma transformação que o pessoal não se deu conta", sublinhou uma das autoridades. "O Meirelles começou com 2%, gastou não sei quanto, teve equipe excelente e vai ficar com menos de 2%. Então, alguma coisa está errada no modelo."

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Candidato descarta participação em debate 

Cristiane Agostine 

04/10/2018

 

 

Líder nas pesquisas de intenção de voto, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) tenta blindar-se de novas polêmicas às vésperas das eleições e descartou participar hoje do debate da TV Globo, o último antes do primeiro turno. Até domingo, os pronunciamentos de Bolsonaro serão controlados e devem ser limitados às redes sociais.

Ontem, o médico responsável pelo tratamento de Bolsonaro, o cirurgião Antônio Macedo, vetou a participação do candidato no debate presidencial, sob a justificativa de que Bolsonaro "não tem condições físicas de passar "muito tempo discutindo". O cirurgião visitou Bolsonaro, na residência do candidato, no Rio de Janeiro, e disse que contra-indicou a participação "em debates ou em qualquer atividade que pudesse cansá-lo, obrigá-lo a falar por mais de dez minutos". O debate da Globo terá duração de cerca de três horas.

Macedo afirmou ainda que Bolsonaro "não irá porque é extremamente obediente" aos médicos.

No entanto, na semana passada, quando ainda estava no hospital, Bolsonaro deu longas entrevistas, veiculadas na televisão, na internet e no rádio. Na segunda-feira da semana passada, falou por 25 minutos com o jornalista Augusto Nunes, da Jovem Pan. Na sexta-feira, concedeu duas entrevistas: uma com quase 50 minutos ao apresentador José Luiz Datena, da TV Bandeirantes, e outra a Boris Casoy, de 25 minutos, veiculada na RedeTV News. No hospital, o médico afirmou que Bolsonaro teria condições de ir ao debate.

O candidato teve alta no sábado, depois de 23 dias de internação. Bolsonaro levou uma facada no dia 6, em Juiz de Fora (MG) e foi submetido a duas cirurgias. Em casa, tem falado ao vivo pelas redes sociais todos os dias, desde segunda-feira, em transmissões com duração de cerca de 20 minutos. Macedo, no entanto, insiste que o candidato está "convalescente", mas que dentro de sete a dez dias estará "completamente recuperado".

A cúpula da campanha tenta minimizar abalos à candidatura. O vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão (PRTB) e o economista da campanha, Paulo Guedes, foram enquadrados pelo candidato, que os proibiu de fazer declarações. Mourão, no entanto, continuou falando a empresários, investidores e à imprensa. Na terça-feira, voltou a criticar o 13º salário.

Na reta final da campanha, Bolsonaro recebeu uma onda de apoios de parlamentares, empresários e líderes evangélicas. Depois de a Frente Parlamentar do Agronegócio, que reúne cerca de 40% do Congresso, ter declarado voto, líderes das bancadas evangélica e da bala anunciaram o apoio.

Ontem, em mensagem transmitida pelo Facebook, o candidato defendeu o voto útil e pediu apoio para vencer no 1º turno.

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PT amplia ofensiva contra empresas que apoiam PSL 

Luísa Martins 

Isadora Peron

Cristiane Agostine 

04/10/2018

 

 

A coligação do candidato Fernando Haddad (PT) entrou com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para investigar suposto abuso de poder econômico na campanha de seu principal rival na eleição, Jair Bolsonaro (PSL).

O caso envolvendo o militar diz respeito à empresa Komeco, do setor de ar condicionado, localizada na região metropolitana de Florianópolis (SC). A coligação afirma que o presidente da companhia, Denisson Freitas, gravou um áudio pedindo que todos os seus funcionários usassem camisetas e adesivos de apoio a Bolsonaro durante a semana que antecede as eleições.

Empresas têm sido alvo de representações judiciais por tentar coagir funcionários a votarem em Bolsonaro, ameaçando, por exemplo, fechar lojas e demitir pessoal. Ontem, o juiz do Trabalho Carlos Alberto de Castro proibiu o empresário Luciano Hang, dono das lojas Havan, de promover novos atos para influenciar o voto dos empregados, sob pena de multa de R$ 500 mil. Também será investigada a rede de supermercados Condor, do Paraná, cujo dono enviou carta aos colaboradores explicitando o voto no militar.

No caso da Komeco, o PT afirma que se trata de um apoio financeiro "não compatibilizado nos gastos" de campanha registrados no TSE. O financiamento empresarial é vedado por lei, mas as companhias têm tentado de outras formas manter sua influência na política nacional.

Para a coligação petista, as campanhas das empresas para Bolsonaro configuram abuso de poder econômico, com potencial suficiente para desequilibrar as eleições.

No caso da Havan, o empresário divulgou imagens nas redes sociais de um "ato cívico" em favor de Bolsonaro, do qual os funcionários foram obrigados a participar, uniformizados com camisetas alusivas ao candidato. Provocada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que viu assédio moral e conduta abusiva por parte de Hang, a Justiça afirmou que ele adotou "conduta flagrantemente amedrontadora" e reeditou o "voto de cabresto" - aquele em que alguém se utiliza de seu poderio para impor sua opção de voto a determinados grupos de pessoas. A sentença terá de ser fixada em murais de todas as unidades da Havan, para reforçar a ideia de que os funcionários têm liberdade de voto e não sofrerão retaliações por razões políticas.

Em outra frente contra a Havan, o Ministério Público Eleitoral (MPE) defendeu no TSE que o proprietário seja multado por propaganda eleitoral irregular. A manifestação se deu em uma representação apresentada pela coligação do candidato Geraldo Alckmin (PSDB). No Twitter, Hang escreveu que é ele quem está sendo coagido. "Órgãos do governo querem me calar. Não querem que eu defenda o Brasil."

Este tipo de ação é a mesma julgada em 2017 em relação à chapa de Dilma Rousseff e Michel Temer, que acabou absolvida. Se Bolsonaro for eleito e vier a ser condenado nos primeiros dois anos de mandato, serão convocadas novas eleições.

Diante da acusação de abuso de poder econômico, Bolsonaro fez ontem uma "recomendação" a empresários e comerciantes para que não peçam voto a ele dentro de estabelecimentos comerciais. Em mensagem transmitida pelo Facebook ao vivo, Bolsonaro disse que a legislação eleitoral proíbe esse tipo de ação e quem responde é o candidato.