Título: Esplanada redesenhada para Haddad
Autor: Lyra, Paulo de Tarso ; Mascarenhas, Gabriel ;
Fonte: Correio Braziliense, 12/09/2012, Política, p. 2

Marta Suplicy deixa o Senado e assume a vaga de Ana de Hollanda, demitida do Ministério da Cultura. Mudança é a quarta promovida por Dilma com o intuito de fortalecer o candidato petista na disputa pela prefeitura de São Paulo

Uma semana depois de participar pela primeira vez da campanha do petista Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo e a 25 dias das eleições municipais paulistanas, a senadora Marta Suplicy (PT-SP) é premiada pela presidente Dilma Rousseff com o Ministério da Cultura, na vaga de Ana de Hollanda. É mais uma mudança na Esplanada para cacifar a candidatura do ex-ministro da Educação. Dilma já dera o Ministério da Pesca para o PRB de Marcelo Crivella; a Educação para Aloizio Mercadante, segurando o ímpeto dele em disputar as prévias do PT; e a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades para Osvaldo Garcia, ligado ao deputado Paulo Maluf (PP-SP).

No caso de Crivella, a estratégia naufragou. O Planalto conseguiu estancar a debandada dos votos evangélicos no Congresso, mas não impediu que Celso Russomanno (PRB) mantivesse a candidatura à prefeitura de São Paulo. Na época em que o senador fluminense foi empossado, em março de 2012, o candidato do PRB à prefeitura era visto como um azarão, que "desidrataria quando o horário eleitoral começasse". Hoje, Russomanno tem mais de 30% das intenções de votos e está praticamente assegurado no segundo turno das eleições.

Os petistas esperam que a nomeação de Marta Suplicy também atrapalhe a candidatura de José Serra (PSDB). O PR, legenda do suplente da petista, Antônio Carlos Rodrigues, apoia o tucano (leia mais na página 4). "No mínimo, eles ficarão constrangidos de ter conseguido uma cadeira a mais no Senado e não apoiar o nosso candidato em São Paulo", torce um parlamentar petista.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, elogiou a indicação de Marta. "Ela tem todas as condições de exercer o cargo. A Cultura foi uma das principais marcas da gestão dela como prefeita", declarou ao Correio. Em entrevista no Senado, a futura ministra, que será empossada amanhã, negou que a nomeação esteja ligada ao apoio à candidatura de Haddad. "Minha ida não tem relação com a campanha do Haddad porque, desde o começo, eu disse que na hora que fosse fazer diferença, eu entraria (na campanha). E entrei. Vou continuar trabalhando, participando dos comícios, como combinei com ele", anunciou Marta, que tem grande influência no eleitorado paulistano, em especial na periferia.

"Soldada" Apesar de um desgaste crescente com o PT e com o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Marta sempre viu em Dilma uma aliada confiável. Quando assumiu o mandato de senadora, ela prometeu "ser uma soldada da presidente no Senado Federal". Dilma reconheceu isso na nota oficial na qual confirmou a substituição de Ana de Hollanda. "Dilma Rousseff manifestou confiança de que Marta Suplicy, que vinha dando importante colaboração ao governo no Senado, dará prosseguimento às políticas públicas e aos projetos que estão transformando a área da Cultura nos últimos anos", diz trecho da nota.

Foi a presidente quem comunicou, no fim do ano passado, o pedido do ex-presidente Lula para que Marta abrisse mão de disputar as prévias internas do PT para a prefeitura de São Paulo. O encontro aconteceu na área vip presidencial do Aeroporto de Congonhas (SP). Na época, a presidente foi bastante clara ao dizer que "contava com Marta no Congresso, no cargo de vice-presidente da Casa, para continuar ajudando o governo no Senado".

Em março, mesma época em que Dilma indicou Crivella para a Pesca e o deputado Pepe Vargas (PT-RS) para o Ministério do Desenvolvimento Agrário, Dilma sondou Marta para a Cultura, já insatisfeita com o bombardeio que Ana de Hollanda sofria. Educadamente, Marta recusou a oferta, dizendo que nos seus planos estava a pasta das Cidades.

As duas novamente se aproximaram há 20 dias, quando Dilma convenceu Marta a participar da campanha de Haddad. Disse que a senadora deveria entrar no momento em que a candidatura estava em ascensão, e a presença dela ainda seria importante para ajudar na eleição do colega petista. Marta topou. De lá para cá, foram mais três ou quatro encontros, a sós, nos quais o retorno à Esplanada começou a se consolidar. A mudança se cristalizou com a divulgação de uma carta na qual Ana de Hollanda reclamava da falta de recursos na pasta. O Planalto desconfia que ela própria vazou o documento para pressionar o governo.

Ontem, no Senado, Marta tentou demonstrar surpresa com o convite. "Não estava no programa. Acabei de falar com a presidenta. Não há como dizer não (a um convite de Dilma). E estou à disposição do governo, fico honrada com o convite. O Ministério da Cultura é extremamente importante, porque a identidade brasileira é a cultura. Vou enfrentar o desafio."

Irmã do compositor Chico Buarque, Ana de Hollanda foi comunicada da demissão por Dilma, em reunião que durou cerca de 25 minutos no Palácio do Planalto. Para evitar constrangimentos, a presidente a orientou a sair pelo elevador privativo. Ela e Marta reuniram-se à noite para acertar a transição.

>> perfil Marta Suplicy

A sexóloga do poder A paulistana Marta Teresa Smith de Vasconcelos Suplicy, 67 anos, está de volta à Esplanada dos Ministérios quatro anos após deixar a pasta do Turismo. À época, passou pelo constrangimento de criar o bordão "relaxa e goza" ao ser questionada sobre o que dizer aos passageiros de avião diante do caos aéreo que assolava o país.

Psicóloga especializada em sexologia e mãe de três filhos — entre eles o cantor Supla —, a ex-mulher do senador Eduardo Suplicy assume agora a pasta da Cultura, mais uma aquém das pretensões que nutria. Ela preferia Educação ou Cidades. O primeiro, uma pasta com a cara do PT e com visibilidade para planos políticos futuros. O segundo, um ministério com orçamento polpudo e capilaridade pelos diversos municípios brasileiros. Em suma, outra grande vitrine.

Marta volta à Esplanada em um momento classificado por ela mesmo como um dos melhores da carreira política. Senadora de destaque e vice-presidente da Casa, conseguiu reverter a imagem de rejeição que o PT lhe carimbara para justificar não tê-la escolhido para concorrer a um novo mandato na prefeitura de São Paulo, posto que ocupou entre 2000 e 2004.

Ao tentar a reeleição, perdeu para o tucano José Serra, que deixou o cargo um ano e três meses depois para ser candidato a governador de São Paulo. Se em 2000 Marta teve o apoio de Mário Covas (PSDB) para derrotar o malufismo, hoje apoia Fernando Haddad, o mesmo candidato de Paulo Maluf. Uma configuração que ainda não foi digerida pela nova ministra. (PTL)