Valor econômico, v.19, n.4627, 09/11/2018. Brasil, p. A4

 

Sindicatos perdem 2 milhões de associados 

Bruno Villas Bôas

09/11/2018

 

 

A perda de empregos com carteira assinada no país afetou a representação sindical nos últimos anos. Dados divulgados ontem pelo IBGE mostram que os sindicatos brasileiros tinham 16,3 milhões de associados no ano passado, quase 2 milhões a menos do que dois anos antes (18,2 milhões em 2015). É o nível mais baixo desde 2012, primeiro ano de realização da pesquisa.

"De 2015 para 2016, o país perdeu mais 1 milhão de ocupações e a perda foi maior entre pessoas de carteira assinada, que costumam ter maior peso de sindicalizados. Já no ano passado, a recuperação do emprego ocorreu nas ocupações sem carteira, menos sindicalizadas", disse Adriana Beringuy, analista da Coordenação de Trabalho e Rendimento do IBGE.

Desta forma, a taxa de sindicalização dos trabalhadores (empregados e não empregados) recuou de 13,1% em 2015 para 11,5% em 2017. Foi também o menor patamar da série histórica da pesquisa do IBGE, iniciada em 2012. Se considerados apenas os trabalhadores empregados, a taxa de sindicalização recuou de 15,8% em 2015 para 14,4% em 2017, menor da série.

A desfiliação sindical foi maior na indústria (-547 mil), na agricultura (-336 mil) e na administração pública (-175 mil) de 2015 a 2017. Todas as grandes regiões do país tiveram redução no número de sindicalizados, com destaque para Sudeste (-682 mil sindicalizados), Nordeste (-591 mil) e Sul (-551 mil) no período analisado.

Para o IBGE, a reforma trabalhista não teve ainda influência sobre os resultados de 2017. A lei afetou a atividade sindical ao determinar o fim da obrigatoriedade do imposto sindical, entre outras medidas. A analista lembrou que lei entrou em vigor no fim de novembro do ano passado e a pesquisa foi a campo em diferentes trimestres de 2017.

A pesquisa mostrou ainda que, 3,2 milhões de pessoas desenvolveram suas atividades na própria residência no ano passado, 443 mil a mais do que em 2016. O crescimento estaria relacionado ao maior número de trabalhadores por conta própria.

Já o número de brasileiros que trabalham em vias ou áreas públicas - como camelôs, vendedores de quentinhas, distribuidores de panfletos - também cresceu, embora em ritmo mais modesto. Em 2017, 2,07 milhões de pessoas trabalhavam em vias ou área públicas, 15 mil a mais do que no ano anterior.

A surpresa da pesquisa veio do campo. Apesar da safra recorde de 2017, o total de trabalhadores ocupados em fazendas, granjas, sítios ou chácaras ficou menor. Eram 8,17 milhões de pessoas ocupadas nesses locais naquele ano, 274 mil pessoas a menos do que em 2016, conforme os dados do IBGE.

De acordo com a técnica, a redução foi mais intensa no Norte e Nordeste do país, regiões caracterizadas pela existência da agricultura familiar. "Não estamos falando do grande agronegócio, que bateu recorde em 2017, mais concentrado no Centro-Oeste", disse Adriana, lembrando que a região Nordeste sofreu com a seca ao longo do período.

Os dados do IBGE que mostram as mudanças no mercado de trabalho brasileiro chegam um dia após o presidente eleito, Jair Bolsonaro, confirmar que o Ministério do Trabalho e Emprego será extinto. A notícia continuou suscitando reações. O Fórum Nacional de Secretarias do Trabalho (Fonset) atacou a proposta: "Seria um erro histórico". A atual equipe da pasta pretende apresentar argumentos e propostas para tentar reverter a decisão. Ontem, servidores do ministério fizeram uma manifestação em defesa da permanência da pasta. Segundo a administração do edifício-sede do ministério, cerca de 600 servidores abraçaram o prédio, numa demonstração de repúdio à extinção do órgão.