O Estado de São Paulo, n. 45797, 08/03/2019. Política, p. A8

 

Laudo diz que autor de facada é doente mental

Naira Trindade

08/03/2019

 

 

Peritos indicados pela Justiça atestaram que Adelio Bispo de Oliveira, autor do atentado a faca contra o então candidato Jair Bolsonaro, em setembro de 2018, sofre de doença mental. O laudo pode levar Adelio, que já é réu, a ser considerado inimputável.

Peritos indicados pela Justiça Federal atestaram, em laudo, que o autor do atentado a faca contra o presidente Jair Bolsonaro ainda durante a campanha eleitoral, Adelio Bispo de Oliveira, sofre de doença mental. O documento pode evitar que Adelio, que é réu neste caso, seja julgado perante a Justiça Criminal.

De acordo com o laudo, Adelio tem “transtorno delirante permanente paranoide” e é inimputável. Ao ser avaliado, ele disse que, se deixar a cadeia, voltará a tentar matar Bolsonaro. As informações foram reveladas pelo G1 e confirmadas pelo Estado.

O documento serve de subsídio para a Justiça decretar a condição de Adelio. Os inimputáveis são pessoas consideradas incapazes de discernir se um determinado ato é ou não uma infração e, portanto, não podem ser culpadas criminalmente nem enquadrados na legislação penal. A eles são aplicadas penas de isolamento em instituição psiquiátrica. Adelio ainda pode ser semi-imputável e ter redução de pena, ou imputável e julgado criminalmente.

 

Preso. Adelio está preso desde 6 de setembro, quando golpeou com uma faca o abdome do então candidato à Presidência pelo PSL em Juiz de Fora (MG). Ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal em Minas Gerais por “atentado pessoal por inconformismo político” e enquadrado na Lei de Segurança Nacional. A Justiça recebeu mas ainda não julgou a ação.

Desde o atentado surgiram versões, não comprovadas, de que Adelio pode não ter agido sozinho. Ao prestar depoimento ainda na delegacia de Juiz de Fora, horas depois de ser preso, Adelio disse que agiu “a mando de Deus”. A defesa do réu confesso chegou a ser alvo de busca e apreensão mas a investigação, foi suspensa pelo desembargador Néviton Guedes, do Tribunal Regional Federal da 1.ª Região (TRF-1).

Em fevereiro, ainda no hospital, onde se recuperava de uma das três cirurgias às quais foi submetido como consequência da facada que recebeu, Bolsonaro cobrou a Polícia Federal para que apresentasse uma “solução” para o caso.

Duas semanas depois, em uma reunião com o presidente, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, informou que o inquérito, ainda em andamento, aponta para a ausência de evidência da participação de outras pessoas além de Adelio no atentado. Na reunião, Moro estava acompanhado do o diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, do superintendente da PF em Minas, Cairo Costa Duarte, e do delegado responsável pelo caso, Rodrigo Morais.

O Estado revelou, no entanto, que na mesma reunião a PF apresentou a Bolsonaro áudios que sugeriam um suposto interesse do Primeiro Comando da Capital (PCC) no atentado. As conversas foram captadas pelo setor de inteligência e sustentam uma das linhas de investigação do inquérito que apura o atentado.

 

Planalto

O Palácio do Planalto não se pronunciou, até a conclusão desta edição, sobre o resultado do laudo que aponta que Adelio Bispo de Oliveira, agressor do presidente Jair Bolsonaro, sofre de doença mental. A Polícia Federal já havia dito ao presidente da República que Adelio agiu sozinho no atentado a faca.