O globo, n. 31336, 24/05/2019. País, p. 6

 

Bolsonaro desaprova ato contra Congresso e STF

24/05/2019

 

 

Para presidente, quem defender nas ruas o fechamento de instituições estará no lugar errado: ‘Isso é manifestação a favor de Maduro, não de Bolsonaro’. Sobre políticos, afirma que se incluiu ‘no bolo’ ao criticar a classe nesta semana

O presidente Jair Bolsonaro criticou ontem quem pretende defender o fechamento do Supremo Tribunal Federal (STF) ou do Congresso em manifestações de rua. Em café da manhã com jornalistas — O GLOBO não foi convidado — ele disse que quem tem essas pautas “estará na manifestação errada”.

—Isso é manifestação a favor de (Nicolás) Maduro, não de Bolsonaro — afirmou, em referência ao regime comandado pelo presidente da Venezuela, segundo o site Poder 360, que participou do encontro com jornalistas.

Nada impede, segundo o presidente, que no domingo, dia 26, quando estão programadas manifestações pró-governo, apareça “um infiltrado defendendo essas ideias e usando a camisa amarela”.

Bolsonaro também tentou explicar uma frase polêmica dita esta semana. Após dizer que “o grande problema" do Brasil” é a nossa classe política”, o presidente disse que se inclui “no bolo”:

—Gente, eu estou no bolo, eu sou político.

A declaração, adiantada pelo blog da jornalista Andréia Sadi, no G1, também foi feita no café da manhã com jornalistas no Palácio do Planalto, na manhã de ontem.

— A classe política somos todos nós, estamos no poder desde depois de (João) Figueiredo (último presidente do regime militar). Estou no bolo, estou me incluindo no bolo —disse o presidente.

O novo decreto que flexibilizou o porte de armas no Brasil também foi assunto do presidente no encontro. Bolsonaro afirmou que, para ele, não há problema em uma criança de 8 a 10 anos praticar tiro esportivo, desde que seja acompanhada por um responsável.

O novo decreto sobre armas e munição, publicado anteontem, no entanto, estabelece uma idade mínima de 14 anos para praticar tiro esportivo e exige uma autorização de dois responsáveis do adolescente ou de um só, na ausência do outro.

Bagagem

O decreto anterior, porém, não previa um limite de idade. Bolsonaro disse aos jornalistas, segundo o G1, que recuou em alguns pontos para não perder todas as mudanças estabelecidas pelo primeiro decreto, já que há questionamentos na Justiça em relação à medida.

Privatizações

Ao comentar a decisão do Congresso ontem à noite, que aprovou ontem a franquia de bagagem até 23 quilos em voos domésticos, o presidente disse ainda que o “coração manda” manter assim o texto da Medida Provisória. Ele não deu uma resposta definitiva sobre se iria vetar o trecho, porém.

Os jornalistas também perguntaram sobre os planos do governo para futuras privatizações de empresas estatais. Em resposta, o presidente disse que deu “sinal verde” para privatizar os Correios e afirmou que a Caixa Econômica Federal e o Banco do Brasil não serão privatizados.

Na mesma semana em que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM/RJ) afirmou ter cortado relações com o líder do governo na Casa, Major Vitor Hugo (PSL-GO), Bolsonaro disse, no mesmo encontro, que ele permanecerá com a função.

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Radares móveis vão acabar, afirma presidente

Gustavo Maia

24/05/2019

 

 

Bolsonaro diz que está conversando com Moro para dar fim a ‘armadilhas para pegar motoristas’

O presidente Jair Bolsonaro disse ontem que conversou com o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, para “acabar” com radares móveis em rodovias. Isso porque a Polícia Rodoviária Federal (PRF) é subordinada à pasta de Moro. A conversa com jornalistas e apoiadores no Paraná foi divulgada pela Secretaria de Comunicação da Presidência.

—Tô agora conversando com o Sergio Moro, que a PRF tá no comando dele. Nós queremos acabar com os radares móveis também, que é uma armadilha para pegar os motoristas — disse o presidente, repetindo a decisão já anunciada de não renovar radares fixos nas estradas.

—Tomei a decisão, entrei em contato com o ministro Tarcísio (Freitas), que é da Infraestrutura. Quando conversei com ele, por coincidência, tinha oito mil e poucos novos pedidos de radar em rodovias federais do Brasil todo. Nós engavetamos aquilo lá.

O presidente disse ainda que acertou com o ministro que qualquer radar ou “pardal” federal no país não será revalidado ao término do prazo de validade dos contratos. Ele também citou a redução de acidentes em rodovias no feriado da Semana Santa — de 11% em relação ao mesmo período do ano passado — para argumentar contra os radares:

— Você tem que estar preocupado com a sinuosidade da estrada, e não se um tem um pardal escondido atrás da árvore.

Mais pontos na carteira

O presidente reiterou que deve se encontrar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para acertar mudanças no Código de Trânsito, entre as quais o aumento do número de pontos necessários para perder carteira e validade da carteira de habilitação. A ideia, segundo ele, é passar de 20 para 40, mas “o ideal” seria 60. Ele admitiu, contudo, que enfrentaria dificuldades nessa hipótese.

Bolsonaro afirmou que pretende acabar também com os simuladores usados no processo de habilitação.

— É um absurdo gastar quase R$ 2 mil pra uma carteira de motorista — reclamou o presidente.