Correio braziliense, n. 20463, 31/05/2019. Política, p. 2

 

Com economia retraída, foco em agenda positiva

Rodolfo Costa

Maria Eduarda Cardim

31/05/2019

 

 

Poder » Bolsonaro não cita queda do PIB, mas diz que faz o dever de casa e coloca ministro do Desenvolvimento Regional para anunciar ações de geração de empregos, como mudanças no Minha Casa, Minha Vida, medidas de conclusão de obras e investimentos em infraestrutura

O governo não deu o braço a torcer e, sem mea-culpa, minimizou o recuo de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Sem sequer citar o resultado, o presidente Jair Bolsonaro disse, pela manhã, nas redes sociais e, à noite, em transmissão ao vivo em uma dessas mídias, que “faz o dever de casa”. Afirmou que ele e os presidentes dos demais Poderes terão a “oportunidade ímpar” de fazer história ao lado da população brasileira. As mensagens foram bem-avaliadas por congressistas — com quem o Palácio do Planalto divide a responsabilidade de aprovação das agendas econômicas — pela postura de tentar evitar o tensionamento com o parlamento.

A resposta de Bolsonaro à estagnação econômica foi articulada por conselheiros e ministros palacianos. Enquanto o titular do Ministério da Economia, Paulo Guedes, declarou que trabalha para liberar recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) (leia reportagem na página 4), o Planalto procurou apresentar medidas de curto prazo e não deixar toda a carga sobre a reforma da Previdência. Colocou a máquina estatal para, nas entrelinhas, anunciar benfeitorias que o governo planeja para a geração de empregos e a distribuição de renda. O porta-voz escolhido foi o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto.

Em cerimônia no Planalto, o ministro anunciou que o governo vai apresentar mudanças no programa Minha Casa, Minha Vida na semana que vem. A ideia é ampliar quatro faixas de financiamento dessa ação, que é uma das principais políticas públicas de Estado. É bem-vista politicamente e socialmente, por atacar o deficit habitacional e gerar empregos na indústria da construção civil. A associação da imagem de lançamentos de unidades imobiliárias a deputados e senadores aliados ao governo é uma prática comum desde a criação do programa, em 2009.

Dentro da estratégia de Canuto está, também, o anúncio de um novo nome para o programa. “É um novo governo, um novo programa. Ele está sendo reformulado. Então, não apenas mudar o nome por mudar. É uma nova visão”, justificou. O aumento do número de faixas e de categorias para atender a diferentes demandas é uma das metas do ministro. Ele avaliou que, após 10 anos de execução, o programa apresenta uma série de problemas que precisam ser corrigidos, como comercialização irregular de lotes, invasão das unidades por facções criminosas e conflitos sociais nos condomínios.

Estímulo

Os detalhes do “novo Minha Casa, Minha Vida” serão apresentados por Canuto durante audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados, na terça-feira. Os anúncios foram feitos em cerimônia de lançamento da Política Nacional de Desenvolvimento Regional que, por sinal, também gera bônus ao governo, por prever investimentos em obras no Nordeste, no Centro-Oeste e na Amazônia. “A gente quer investir em infraestrutura, educação e inovação. Há muitas cadeias produtivas que já existem nessas regiões. A gente quer identificar qual é o investimento prioritário para que essa cadeia produtiva tenha maior agregação de valor, gere mais renda, mais riqueza”, destacou.

As mudanças na política habitacional, bem como as medidas de entrega e conclusão de obras e investimentos em infraestrutura — a exemplo do Programa de Parceria de Investimentos (PPI) —, são respostas que o governo tenta dar de estímulo à economia, enquanto a reforma da Previdência não é aprovada na Câmara. Sem a aprovação, a líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), disse ser “absolutamente compreensível” o resultado do PIB. “Nós sabemos que, para gerar emprego e ter investimento, a gente tem de destravar o país. E o primeiro passo é a nova Previdência”, justificou.

Confiança

Na tradicional live, Bolsonaro classificou a articulação pela aprovação da reforma da Previdência como uma “encruzilhada”, mas ressaltou que, mesmo sem a aprovação da matéria, a confiança do investidor está aumentando. Ele disse que a Scania está investindo R$ 1,4 bilhão em São Bernardo do Campo (SP); a Hyundai, R$ 125 milhões em Piracicaba (SP); a General Motors (GM), R$ 10 bilhões em fábricas paulistas; o Carrefour, R$ 2 bilhões no atacado e no varejo; a Honda, R$ 500 milhões em fábrica de motos em Manaus.