Correio braziliense, n. 20463, 31/05/2019. Política, p. 4

 

Do risco Venezuela ao Argentina

31/05/2019

 

 

Para justificar a necessidade de aprovação da reforma da Previdência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, disse que a eleição do presidente Jair Bolsonaro fez com que o Brasil fugisse da possibilidade de virar “uma Venezuela”, mas não do risco de se tornar uma Argentina. Ele destacou, porém, que os parlamentares demonstram estar empenhados em aprovar uma proposta que economize, pelo menos, R$ 1 trilhão nas contas públicas, o que ajudaria a retomar a confiança e o crescimento do país.

Na opinião de Guedes, o país está economicamente estagnado há quase uma década e poderá voltar para uma crise caso as reformas sejam deixadas de lado. “O governo (Mauricio) Macri (da Argentina) entrou e não fez as reformas com a profundidade necessária. Então, a inflação está acima de 30%, e situação fiscal, dramática. Com a nossa reforma da Previdência, nós temos 10, 15 ou 20 anos de clareamento. O Brasil não vira mais a Argentina. Pelo contrário, vai começar a crescer”, frisou.

O Brasil está “sem horizonte fiscal”, segundo o chefe da equipe econômica e, por isso, os parlamentares estão compreendendo a necessidade de aprovação da proposta. “Nós estamos tendo apoio decisivo da classe política. E o Congresso, apoiando as reformas, vai fazer o Brasil retomar o crescimento econômico. De julho em diante, o Brasil começa a decolar”, repetiu.

Guedes disse que a atividade econômica pode ficar pior se a reforma da Previdência do governo não for aprovada. “Nós estaríamos no caminho da Argentina ou até da Venezuela”, destacou. “As pessoas têm de entender que nós precisamos fazer as reformas exatamente para retomar o crescimento. A Previdência é a primeira delas, que garante as aposentadorias e, ao mesmo tempo, vai criar um estímulo para a formação de poupança no Brasil”, disse.

Mas os sinais de curto prazo não são positivos. Para o economista-chefe da Nova Futura Investimentos, Pedro Paulo Silveira, caso o país tenha uma alta modesta de 0,1% no segundo trimestre de 2019 — como preveem parte dos economistas —, precisará de duas altas de 1% nos dois últimos trimestres do ano para o PIB fechar em 1%.

“Como são dados bastante otimistas, é possível considerar esse cenário como o limite superior de nossas estimativas”, avaliou o especialista. “O quadro geral mostra que a economia brasileira ainda está sem impulso, apesar da queda dos juros e da percepção de risco ocorrida nesse período de posse do novo governo”, declarou. “Os dados vieram dentro de nosso intervalo, por isso, mantemos nossa estimativa para o PIB de 2019 em 0,7%, com viés de baixa.”

O ministro da Economia defendeu que Brasil deveria estar crescendo, pelo menos, 2% ou 3% ao ano. “Houve um otimismo. Todo mundo achou que a economia já fosse crescer 2% ou 3% neste primeiro ano, pela potência da plataforma liberal. Esse sonho do crescimento está a alcance da nossa mão. Basta implementarmos a reforma”, argumentou Guedes. “Os investimentos de fora vão começar a entrar à medida que o Brasil implemente essas medidas. Estamos absolutamente seguros de que, fazendo essas reformas estruturais, o país vai retomar o crescimento sustentável”, acrescentou. (HF)