Correio braziliense, n. 20463, 31/05/2019. Economia, p. 9

 

Queda do PIB sinaliza risco de nova recessão

Rosana Hessel

31/05/2019

 

 

O Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre de 2019 recuou 0,2% em relação ao trimestre anterior, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O resultado foi puxado pelas quedas generalizadas na indústria, na agropecuária e nos investimentos, confirmando que a economia está estagnada, com risco de entrar em nova recessão.

O dado ficou em linha com a mediana das estimativas do mercado. Apesar de o IBGE ter mantido a taxa do PIB do quarto trimestre em 0,1%, o risco de recessão técnica (quando o PIB cai por dois trimestres consecutivos) continua no radar, podendo acontecer ainda neste semestre. Logo, o país segue firme para concluir mais uma década perdida. De 2011 a 2018, o PIB brasileiro cresceu, em média, 0,6%, o pior resultado desde 1901, segundo dados da Fundação Getulio Vargas (FGV).

O cenário nada animador do ponto de vista econômico e político fez com que especialistas aumentassem as apostas de que o PIB deste ano não vai crescer mais do que o do ano passado, quando repetiu a taxa de 2017, e avançou apenas 1,1%. As revisões para baixo já começaram e é crescente o número de previsões inferiores a 1% ou até negativas.

“Não podemos descartar a possibilidade de uma retração também no segundo trimestre. Com isso, o segundo semestre precisará apresentar uma recuperação expressiva para garantir um PIB melhor do que do ano passado ou mesmo positivo em 2019. Os riscos são altos”, afirmou a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria.

Luka Barbosa, economista do Itaú Unibanco, também não descartou o risco de uma recessão técnica no primeiro semestre. “Maio está vindo muito fraco e, pelas nossas simulações, o PIB do segundo trimestre está rodando em 0,1%, com forte risco de ser negativo. A economia precisará acelerar muito no segundo semestre para o PIB ficar em 1%, mas isso não está acontecendo”, lamentou.

Retrocesso

“O resultado do primeiro trimestre fez o PIB voltar ao patamar do primeiro semestre de 2012. Além disso, está 5,3% abaixo do pico do primeiro trimestre de 2014” informou a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio. Ela preferiu usar o termo “resultado negativo” para o PIB do trimestre em vez de queda, e ainda fez um alerta sobre a desaceleração do principal motor do crescimento, que cresceu 0,5%, no quarto trimestre de 2018, e perdeu força nos primeiros três meses de 2019. “O consumo das famílias está perdendo tração e isso preocupa”, disse.

As pressões sobre o Banco Central para que ele reduza a Selic (taxa básica da economia) devem aumentar, mas especialistas alertam que o impacto no PIB deste ano será nulo e tal medida poderá comprometer a credibilidade da autoridade monetária se a reforma da Previdência não avançar como é esperado pelo mercado.

Na avaliação da economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics e diretora do Programa de Estudos Latino-Americanos da Johns Hopkins University, as chances de o Brasil ter um PIB negativo neste ano não podem ser descartadas e, para piorar, a tendência é que 2020 tenha uma expansão de, no máximo, 1%. “Essa é a taxa que o Brasil consegue crescer e o governo não entendeu ainda o que precisa fazer para mudar esse quadro. O PIB não cresce apenas com expectativas”, resumiu ela.

Monica alerta que o Brasil atravessa uma “estagnação secular”, forma rebuscada de definir a perda de dinamismo da economia no longo prazo. “Isso é resultado de uma produtividade baixa, que precisa ser resolvida, assim como a baixa taxa de crescimento populacional, que acaba comprometendo o sistema previdenciário”, explicou.

Revisão

Mesmo se houver queda de juros ou novos saques do PIS-Pasep e no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS), conforme anunciou ontem o ministro da Economia, Paulo Guedes, o ano de 2019 está perdido na avaliação do economista-chefe da MB Associados, Sergio Vale. Ele acaba de cortar de 1,1% para 0,9% a estimativa para o PIB deste ano e manteve a de 2020 em 2%, mas apontou “riscos crescentes”, como as dificuldades políticas do governo no cenário internacional. “2019 está de certa forma perdido. O que não se sabe é se o presidente conseguirá aplacar sua instabilidade política nos próximos meses”, resumiu.

“O nosso cenário base está muito incerto e está difícil fazer projeções. Não descartamos um crescimento do PIB neste ano menor do que o ano passado. Tudo pode acontecer, porque a confiança do empresário está diminuindo e o consumo não dá sinais de melhorara, porque o desemprego é elevado e a informalidade está aumentando”, alertou a pesquisadora Luana Miranda, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (Ibre FGV).

O secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachisida, justificou o “pibinho” do primeiro trimestre com as “políticas equivocadas dos últimos anos” e afirmou que uma reversão vai exigir “elevado esforço” do governo e da sociedade. “Tal resultado deixa claro que a economia se depara com importantes desafios”, disse ele ao Blog do Vicente.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

Brasil entre os piores

31/05/2019

 

 

 

 

O recuo de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) no primeiro trimestre na comparação ao mesmo período do ano anterior manteve o Brasil na lanterna global, de acordo com levantamento da Austin Rating. A agência de classificação de risco nacional elencou 47 economias que já divulgaram o resultado das respectivas contas nacionais ou tiveram suas estimativas computadas pela Austin, e o Brasil ficou na 45ª posição. O país ficou à frente apenas de Rússia, cujo PIB também cresceu 0,5% no primeiro trimestre, e da Itália, que registrou variação de apenas 0,1% na atividade econômica na mesma base de comparação.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin, prevê recessão técnica (quando há dois trimestres seguidos de queda no PIB) no Brasil ainda neste semestre. “Os dados preliminares de maio não são animadores. Fizemos um ajuste nas nossas estimativas e estamos esperando recuo de 0,41%, o que caracteriza uma recessão técnica”, explicou.

Conforme os dados da Austin, o desempenho do PIB brasileiro ficou abaixo da média geral e da dos países do Brics, grupo das economias emergentes integrado também por Rússia, Índia, China e África do Sul, no trimestre, ambas de 2,6%. Venezuela e Argentina, que atravessam forte crise financeira, ainda não divulgaram os dados do PIB. Os países latino-americanos que ficaram melhor posicionados no ranking da Austin foram Peru (em 23º lugar), com alta de 2,3% no trimestre, e Chile (34º), com avanço de 1,6%. México, com alta de 1,2% no PIB trimestral, ficou na 40ª posição.

Ranking

A liderança do ranking ficou com a Armênia, que surpreendeu ao registrar alta de 7,1% no PIB no primeiro trimestre do ano em relação ao mesmo período de 2018, superando a China. O PIB do gigante asiático avançou 6,4%. A Índia, em terceiro lugar, ainda não divulgou os resultados, mas a estimativa da Austin é de que a alta seja de 6,3% no mesmo intervalo.