O globo, n. 31334, 22/05/2019. Economia, p. 18

 

Bolsonaro brinca sobre Previdência com crianças

Marcello Corrêa

Geralda Doca

22/05/2019

 

 

Presidente diz a estudantes que eles vão garantir aposentadoria dos mais velhos e é corrigido pelo ministro Paulo Guedes, que nega e lembra que novo modelo dispensa a contribuição. Prazo para emendas no projeto em comissão foi prorrogado até dia 30

O presidente Jair Bolsonaro aproveitou uma cerimônia da qual participaram alunos do ensino fundamental para falar sobre a reforma da Previdência. Após o ato de hasteamento da bandeira no Palácio da Alvorada, ele disse que a aposentadoria dos ministros dependeria do trabalho dos estudantes:

—Até vocês, quando estiverem trabalhando, vocês vão garantir a nossa aposentadoria, desse pessoal que está aqui atrás. Então, nós precisamos bem formar vocês — disse o presidente, interrompido por risos dos ministros.

Também rindo, o ministro da Economia, Paulo Guedes, fez sinal de negativo com a mão, lembrando que o regime de capitalização dispensaria essa contribuição. Bolsonaro se referia ao atual sistema de repartição, em que os que estão trabalhando contribuem para pagar os benefícios dos inativos.

—Nós vamos libertá-los deste peso —disse Guedes.

Em seguida, o presidente fez referência ao novo sistema de capitalização, que vem sendo contestado por parlamentares. No modelo, cada trabalhador seria responsável pela própria poupança, que financiaria sua aposentadoria no futuro. A capitalização seria voltada apenas para novos entrantes no mercado de trabalho.

—Nós estamos tentando aqui. Não vou explicar aqui. Uma outra forma de aposentadoria, mas não vai ser de uma hora para outra — continuou Bolsonaro, emendando outra brincadeira com seu ministro da Economia: —O Paulo Guedes vai depender do INSS com toda certeza, está quase se aposentando.

Em busca de um acordo para aprovar a reforma da Previdência na Comissão Especial da Câmara, a equipe econômica já decidiu que, se for necessário, vai abrir mão das mudanças propostas no pagamento do Benefício de Prestação Continuada (BPC) e de exigir o pagamento de uma contribuição previdenciária dos trabalhadores rurais. Segundo um integrante do governo, a economia projetada com essas medidas em dez anos, de R$ 42,8 bilhões, não compensa o desgaste político.

Outro ponto que deve ser retirado da proposta em favor de sua aprovação são as mudanças na regra de pagamento do abono salarial. Pela reforma, esse valor passaria a ser restrito a quem ganha até um salário mínimo e não mais até dois salários mínimos. A restrição impactaria 24 milhões de trabalhadores que hoje recebem o abono e representaria uma economia de R$ 17,6 bilhões.

O presidente da Comissão Especial, deputado Marcelo Ramos (PR-AM) informou que, diante das dificuldades dos parlamentares em coletar assinaturas para emendas, o prazo para apresentação de modificações no texto foi ampliado para dia 30. Inicialmente iria até dia 23. A proposta já recebeu 16 emendas. Segundo Ramos, a ampliação do prazo não prejudica a tramitação da reforma na comissão porque vai coincidir com o prazo para encerramento das audiências públicas.

O relator na comissão, deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), afirmou que apresentará o texto substitutivo até 15 de junho, podendo antecipar a entrega do parecer para a primeira semana de junho. O plano do governo é votar a reforma antes do recesso parlamentar, em julho.