Título: Dilma usa apagão em críticas
Autor: Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 12/09/2012, Economia, p. 11

Presidente aproveita cerimônia para citar %u201Csérios problemas de abastecimento%u201Ddeixados pelo governo de Fernando Henrique Cardoso

Quem esperava que a cerimônia no Palácio do Planalto fosse o protocolar anúncio de um pacote energético se surpreendeu com o tom do discurso da presidente Dilma Rousseff, que transformou o púlpito do evento em uma trincheira de guerra. Em retaliação ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que em artigo publicado em jornais afirmou que seu sucessor, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teria deixado "herança pesada" para Dilma, a chefe do Executivo usou o cargo para rebater todas as críticas feitas pelo líder, sem citá-lo nominalmente uma única vez.

Em uma série de ataques direcionados ao governo tucano e em especial ao ex-presidente FHC, Dilma avisou que a gestão petista vai "acabar com os monopólios criados no passado", mencionando que esses foram responsáveis por custos logísticos distorcidos. O discurso repete o tom enérgico do pronunciamento presidencial feito no último dia 6, véspera da Independência do Brasil. Na ocasião, o PSDB divulgou uma nota à imprensa em que acusava a presidente de usar a máquina pública para "atacar adversários e fazer propaganda eleitoral".

A chefe de Estado usou o discurso de ontem para elogiar o governo do ex-presidente Lula, e chegou a classificar sua passagem pelo Ministério de Minas e Energia, entre 2003 e 2005, como "um grande trabalho realizado no nosso país". Citando o governo tucano, a presidente afirmou que recebeu "um país com sérios problemas de abastecimento de energia, que amargara oito meses de racionamento". "Esses resultaram em grandes prejuízos para as empresas do setor elétrico, como para as demais empresas do país, que impuseram restrições à qualidade de vida da população", disse.

Dilma afirmou que o governo Lula teve de "reconstruir o setor energético", mencionando tratar-se de uma área "fundamental para qualquer estratégia de desenvolvimento e até de sobrevivência para uma nação". Nesse ponto do discurso, ela citou os recentes apagões enfrentados pela Índia, país que integra, com o Brasil, o chamado Bric — grupo de nações em desenvolvimento, que inclui também a Rússia e a China.

A menção de Dilma à "importância das hidrelétricas" foi uma alusão à defesa do megaprojeto da usina de Belo Monte, alvo de críticas de ambientalistas. Classificadas como "velhas senhoras, algumas com mais de 60 anos", as hidrelétricas são, na visão da presidente, o grande trunfo do governo federal. Para ela, a redução da energia elétrica anunciada ontem "só foi possível por causa das hidrelétricas, uma energia longeva".