Título: Reajuste de combustível virá cedo ou tarde
Autor: Oliveira, Priscila
Fonte: Correio Braziliense, 12/09/2012, Economia, p. 12

No Congresso, presidente da Petrobras se diz constrangida com as atuais cotações das ações da empresa e garante que prejuízo do segundo trimestre não se repetirá

No mesmo dia em que o governo anunciou a redução do custo de energia às famílias e às empresas, a presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, afirmou, em audiência na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado(CAE), que os combustíveis devem ser reajustados. Segundo ela, a correção dos preços da gasolina e do diesel não deve ser feita de imediato, mas é importante ter em mente que a companhia busca convergência com os valores praticados no exterior.

Na avaliação dela, o aumento dos combustíveis é fundamental para que a estatal cumpra seu plano de investimentos, de US$ 236 bilhões, nos próximos cinco anos. "Não acreditamos que a paridade imediata dos preços seja saudável para o país. O efeito de alta de preço do combustível na economia é grande", afirmou Graça Foster. Pelo que já sinalizou o governo, o reajuste poderá sair no fim deste ano ou no início de 2013, quando entrará em vigor a redução da conta de luz. Um aumento compensará o outro na inflação.

A defasagem dos preços da gasolina nas refinarias brasileiras em relação aos dos Estados Unidos é de 27,2%, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). A do diesel, de 27,7%. A diferença ocorre porque os preços dos combustíveis no mercado norte-americano flutuam de acordo com as cotações do petróleo nas bolsas internacionais. Já no Brasil, os valores seguem a política do governo, controlador da Petrobras, de não impactar a inflação e facilitar o caminho do Banco Central para o corte da taxa básica de juros (Selic).

Recentemente, o Palácio do Planalto permitiu que a estatal reajustasse os preços da gasolina e do diesel nas refinarias, mas compensou os aumentos com a redução da Cide, imposto que incide sobre o setor. Para não criar expectativas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ontem que não há aumento de preço dos combustíveis "no horizonte".

Promessas O fato de o governo estar segurando novos reajustes dos combustíveis vem custando caro à Petrobras, cujas ações despencaram nas bolsas de valores, sobretudo depois de a empresa ter registrado, entre abril e junho, o primeiro prejuízo em 13 anos. Não à toa, Graça Foster afirmou estar constrangida com as cotações dos papéis da companhia, que, a seu ver, voltarão para um patamar "justo". Para isso, ela assegurou que a petrolífera não voltará a ter perdas.

"É bastante constrangedor quando a gente conversa sobre o valor das ações. Elas estão muito, muito abaixo do valor real. Mas temos um trabalho focado na conclusão dos projetos e na produção. Certamente, por consequência, o valor voltará ao patamar correto, o patamar justo, de antes da época da capitalização da empresa (ocorrida em 2010)", disse a executiva. Ela assegurou que o prejuízo de R$ 1,3 bilhão do segundo trimestre do ano foi causado por uma conjunção de fatores que não se repetirão, como a alta no dólar, que elevou a dívida da empresa. Diante dessa promessa, recomendou aos investidores que comprem mais ações da estatal.

A presidente da Petrobras disse ainda serem inverídicas as recentes denúncias encaminhadas ao Ministério Público, pela Polícia Federal, de que a empresa estaria despejando toneladas de resíduos tóxicos no mar sem tratamento adequado. O relatório da PF afirma que a estatal não respeita a legislação sobre o tratamento e o descarte da água tóxica — chamada de "água de produção" ou "água negra" —, que se mistura ao óleo prospectado nas unidades marítimas de produção. "Nós seguimos regras muito claras, que estão redigidas, explícitas e são tão exigentes como as dos Estados Unidos e da Europa", frisou.