Título: Separatismo ganha força
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Fonte: Correio Braziliense, 12/09/2012, Economia, p. 15

Dificuldades econômicas na Espanha reacendem movimento que luta pela independência da Catalunha

Barcelona — O agravamento da crise na Espanha está fazendo ressurgir antigas questões políticas e movimentos separatistas que pareciam haver desaparecido nos tempos de bonança econômica. Ontem, cerca de 1,5 milhão de pessoas marcharam pelas ruas de Barcelona para pedir o desligamento da Catalunha do resto do país. Convocada pela Assembleia Nacional Catalã (ANC), uma organização que luta pela autonomia, a manifestação congestionou toda a região central da cidade.

Portando faixas pedindo independência e carregando a bandeira catalã — com listras vermelhas e amarelas e uma estrela branca sobre fundo azul — os participantes gritavam palavras de ordem em favor da soberania política. "O que quer esta multidão? Um novo Estado na Europa! O que quer essa gente? Catalunha independente!", proclamavam, usando a língua local.

Apesar de rica, essa região do nordeste da Espanha é atualmente a mais endividada do país. A dívida pública de 42 bilhões de euros corresponde a 21% do Produto Interno Bruto (PIB) regional, e o desemprego, como nas demais províncias, é um dos principais flagelos da população. Recentemente, sem conseguir rolar seus débitos, a Catalunha pediu uma ajuda de 5 bilhões de euros ao governo central.

Liberdade

Os líderes catalães acusam Madri de impor um sistema fiscal injusto que aumenta as dificuldades econômicas locais. Horas antes do início da marcha, o presidente regional, o nacionalista Artur Mas, disse que pretende negociar um novo modelo de impostos com o primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy, em reunião marcada para amanhã na capital espanhola. "Contudo, se não houver acordo, a busca pela liberdade estará aberta", advertiu.

Seguindo a política de austeridade que já provocou cortes de programas sociais e aposentadorias, além de aumento de tributos, o governo central impôs às chamadas comunidades autônomas um limite de 1,5% para o deficit público neste ano. Cumprir a meta exigirá grande sacrifício à Catalunha, que em 2011 teve um saldo negativo de 3,9% nas suas contas. medida que a crise se aprofunda, a pregação separatista encontra terreno cada vez mais fértil e ressentimentos seculares vêm à tona. Segundo um levantamento do diário La Vanguardia, 51,1% dos catalães votariam hoje pela independência em caso de um referendo, contra 36% em março de 2001.

"Há uma série de fatores que fazem com que eu esteja aqui", afirmou Arnau Camí, um estudante de marketing de 21 anos. "A crise mostrou que somos diferentes da Espanha e que só a independência pode nos levar adiante", completou. "Somos totalmente explorados e o dinheiro de nossos impostos se estanca em Madri", disse Eva García, uma estudante de história também de 21 anos. Personalidades da vida política, cultural e esportiva catalã engrossaram a manifestação, como o presidente do consagrado Futebol Clube Barcelona, Sandro Rosell, que disse ter participado da marcha "a título pessoal".

País lidera desemprego A taxa de desemprego nos 34 países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) alcançou 8% em julho, frente a 7,9% no mês anterior. No total, havia 47,9 milhões de pessoas desempregadas, 13,1 milhões mais que em julho de 2008, ano em que teve início a crise econômica mundial. A maior taxa continuou sendo a da Espanha: 25,1%, um aumento de 0,2 ponto percentual com relação ao mês anterior. Em seguida vêm Portugal (15,7%) e Irlanda (14,9%).