O globo, n. 31333, 21/05/2019. País, p. 6

 

Janaina Paschoal ameaça sair da bancada do PSL

Bruno Góes

Marco Grillo

Sérgio Roxo

21/05/2019

 

 

Deputada estadual de São Paulo deixa grupo de WhatsApp com colegas da sigla e afirma que parlamentares governistas precisam mudar estratégia para dar resposta a críticas sofridas por Bolsonaro

Com sucessivas tentativas frustradas de organizar sua base parlamentar, o presidente Jair Bolsonaro viu ontem as desavenças no seu partido, o PSL, atingirem um novo nível. A deputada estadual Janaina Paschoal (PSL), que foi cotada até para ser vice-presidente, levantou a possibilidade de deixar a bancada de seu partido por não concordar com atos convocados por aliados do governo em resposta às manifestações da semana passada com críticas aos cortes na educação.

De noite, no Twitter, Janaina informou que não sairá do partido, mas apenas do grupo de WhatsApp do qual faz parte com outros parlamentares do PSL.

Os desentendimentos públicos marcam o campo governista desde o início do ano. De troca de acusações por WhatsApp entre deputados, inclusive o filho do presidente, a disputas entre líderes, os parlamentares ligados às pautas de Bolsonaro vêm divergindo publicamente nas redes sociais.

Depois do racha entre militares e integrantes da ala radical do Palácio do Planalto, que levou o vice-presidente, Hamilton Mourão, e o ministro Santos Cruz (Secretaria de Governo) para a mira do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), novos episódios já estão provocando fissuras internas. Janaina reclamou no Twitter sobre os protestos, que incluem na pauta críticas diretas ao Congresso.

“Pelo amor de Deus, parem as convocações! Essas pessoas precisam de um choque de realidade. Não tem sentido quem está com o poder convocar manifestações!

Raciocinem! Eu só peço o básico! Reflitam!”, escreveu Janaina.

Em mensagem aos colegas de bancada na Assembleia Legislativa de São Paulo, a parlamentar afirmou que eles estavam “cegos”. Ela completou afirmando que deixaria o grupo de WhatsApp e ia ver como faria para deixar a bancada. “Acho que os ajudei na eleição, mas preciso pensar no país. Isso tudo é responsabilidade”, afirmou.

As desavenças já haviam movimentado o fim de semana, quando a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), e a deputada Carla Zambelli (PSL-SP) trocaram ataques no Twitter. Carla acusou a colega de não ter se posicionado de maneira firme contra as alterações que foram feitas na MP durante análise na comissão especial — o texto aprovado tirou o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) da alçada do ministro Sergio Moro (Justiça) e criou mais um ministério. Em resposta, Joice fez uma ironia: “Eu conheço matemática básica e sei que sem a maioria não se aprova nada”.

Alinhada com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, Joice era a favor do acordo feito com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e que agradava aos partidos do centrão. A ideia era levar a MP ao plenário, aceitar a derrota da saída do Coaf da Justiça e evitar um problema maior.

Deputados do PSL discordaram e costuraram para que não houvesse votação junto com partidos independentes defensores da manutenção do Coaf na Justiça. Há uma parcela, inclusive, que prefere a votação nominal, em uma tentativa de constranger publicamente os parlamentares que votariam “contra Moro”.

O impasse levou ao risco real de que a MP perca a validade, e Bolsonaro seja obrigado a governar com 29 ministérios, estrutura do governo de Michel Temer. Isso ocorrerá se o Congresso não concluir o trâmite até o dia 3 de junho.

Outro ponto de incômodo é a atuação de Onyx, acusado com frequência de não dar a atenção devida aos parlamentares. Depois de afirmar que os deputados que anunciaram a suposta desistência de Bolsonaro de cortar recursos da educação queriam na verdade ter “ganhos políticos”, o chefe da Casa Civil precisará administrar outro problema: a chance de ser convocado a prestar explicações na Câmara, em articulação liderada pelo próprio PSL.

Ao vivo e a cores

Líder da sigla, Delegado Waldir (GO) mantém a disposição de levar o assunto à frente, mesmo com os apelos de Joice.

— Está tudo organizado, vamos tratar disso na reunião de líderes amanhã (hoje). Ele (Onyx)vai ter que explicar o que quis dizer — afirmou Waldir.

Mesmo com os choques constantes, o deputado minimiza os últimos acontecimentos. Para ele, os conflitos fazem parte da dinâmica do partido:

—Nós fazemos tudo ao vivo e a cores. A lavação de roupa suja é ao vivo. Não tem problema.