Título: Irã causa atrito entre EUA e Israel
Autor: Luna, Thais de
Fonte: Correio Braziliense, 12/09/2012, Mundo, p. 19

Premiê Benjamin Netanyahu cobra de Washington que fixe prazo para uma solução diplomática. Assessor diz que pedido de reunião com Obama foi rejeitado pela Casa Branca

Divergências sobre como lidar com uma ameaça comum — o programa nuclear iraniano — provocaram mais um mal-estar entre Estados Unidos e Israel e impediram que os dois aliados confirmassem um encontro entre o presidente Barack Obama e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que estará nos EUA no fim do mês para a Assembleia Geral das Nações Unidas. Netanyahu respondeu duramente, ontem, a declarações feitas na véspera pela secretária de Estado Hillary Clinton, que reiterou a posição de não fixar prazos para opção diplomática no impasse com Teerã. Horas depois, um funcionário israelense de alto nível disse à agência de notícias France-Presse que o pedido de reunião teria sido negado, por conta da "agenda muito carregada do presidente", mas a Casa Branca desmentiu prontamente que tenha rejeitado alguma proposta de Israel.

O pivô da discórdia entre Washington e seu principal aliado no Oriente Médio foi a recusa de Hillary a definir um prazo para que o Irã acate as resoluções do Conselho de Segurança da ONU que determinam a suspensão das atividades de enriquecimento de urânio no país. A secretária descartou, igualmente, a ideia de estabelecer algum tipo de limite tolerável — uma "linha vermelha" — que, uma vez ultrapassado, justificaria uma ação militar contra o regime islâmico. "O mundo diz a Israel: "Espere, ainda há tempo". E eu digo: "Esperar pelo quê? Até quando?"", respondeu Netanyahu. "Aqueles que se recusam a estabelecer "linhas vermelhas" para o Irã não têm direito moral de estabelecer uma "linha vermelha" para nós", protestou o premiê.

Netanyahu, que acena com a possibilidade de Israel atacar unilateralmente, criticou os defensores incondicionais da diplomacia por na prática "incentivarem" o regime iraniano a seguir com os planos — desmentidos por Teerã — de construir armas nucleares. "Se eles souberem que não há limites ou prazos, o que farão? Exatamente o que estão fazendo: continuar sem qualquer interferência para obter capacidades nucleares e, a partir daí, bombas atômicas", afirmou. Dias antes, em resposta a declarações semelhantes da parte de Netanyahu, a porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, havia respondido que Obama está "comprometido" a impedir que isso ocorra, mas reiterou a posição americana de que "não é útil estabelecer prazos ou linhas vermelhas".

Desencontros Annie Tracy Samuel, pesquisadora do Programa de Segurança Internacional da Harvard Kennedy School (EUA), analisa o novo mal-estar como mais uma rodada nos desencontros entre os dois governos desde a posse de Obama, em 2009. "A fala de Netanyahu parece refletir sua contínua frustração com a política dos EUA em relação ao Irã. O premiê tenta empurrar Washington para estabelecer prazos ou "linhas vermelhas" nas negociações com Teerã, pois teme que o regime islâmico esteja usando as conversações para ganhar tempo enquanto continua com seu projeto atômico." Uri Marantz, cientista político da Universidade de Michigan, completa: "Essencialmente, o que Netanyahu está dizendo (para Obama) é: "Seja sério sobre seus compromissos de defender Israel ou podemos agir para nos defender sem seu conhecimento ou consenso"".

Segundo Marantz, as declarações do premiê também soam como uma tentativa de justificar as diversas ameaças israelenses de atacar as instalações nucleares iranianas, embora Teerã assegure que seu projeto atômico tem apenas fins pacíficos, para geração de eletricidade e aplicações médicas. "Se Israel eventualmente lançar um ataque preventivo contra o Irã, terá de explicar suas ações e angariar apoio internacional", ponderou o estudioso.