O globo, n. 31331, 19/05/2019. País, p. 4

 

No Whatsapp, a reação governista

Pedro Capetti

19/05/2019

 

 

Decisivos na campanha, grupos bolsonaristas agora atuam para desfazer crises do governo

A estratégia digital no WhatsApp que ajudou a eleger o presidente Jair Bolsonaro permanece em atividade. A tática é a mesma de meses atrás: grupos pró-governo tentam resolver crises explorando pautas ideológicas e contra-atacam setores como a oposição e o Judiciário. Em momentos de baixa popularidade, até mesmo o presidente retorna à plataforma, que ganha verniz de canal oficial. A mensagem apócrifa, encaminhada por Bolsonaro na sexta-feira a contatos pessoais no WhatsApp, que classifica o país como “ingovernável fora de conchavos”, circulou em grupos, mobilizando novamente o batalhão de apoiadores.

De toque em toque, o exército digital —e informal —busca se organizar em uma das semanas mais difíceis da gestão. No início deste mês, após o ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciar o contingenciamento de 30% nos repasses de três instituições de ensino, o WhatsApp foi inundado de fotos antigas de pessoas nuas, capas de monografia das ciências humanas sobre sexualidade e pichações em locais descontextualizados. Das 30 imagens mais compartilhadas em WhatsApps pró-governo em maio, 17 eram referentes ao que bolsonaristas chamaram de “balbúrdia” nas universidades federais. Os dados são do projeto Eleições sem Fake, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que monitora cerca de 350 grupos na internet desde o ano passado.

A concentração de mensagens se repetiu, em menor grau, no decreto de armas e em ataques ao Supremo Tribunal Federal. Na sexta, das cinco mensagens mais compartilhadas no grupos acompanhados pelo Monitor do Whatsapp da UFMG, quatro estavam relacionados à mensagem encaminhada por Bolsonaro. Nos grupos, o texto foi editado, ressaltando, logo no início, que a mensagem foi repassada pelo presidente. Também é acompanhado de uma convocação para manifestação marcada para o dia 26 de maio.

Apoio em massa fake

Para especialistas, o efeito prático dessa estratégia é mostrar que as falas do presidente recebem apoio em massa da população, ainda que não encontrem respaldo comprovado na opinião pública. A tática tem sido a utilização de imagens muitas vezes verdadeiras, mas sem o contexto em que foram captadas, ou até mesmo ataques diretos. O método, muitas vezes, resulta em desinformação, uma vez que distorce ou omite fatos.

— Percebemos que, de repente, chega um determinado tópico e ele é inundado. Um certo tema se torna o assunto do WhatsApp. Isso acontecia muito na eleição, e percebemos esse tipo de padrão. De repente veio essa inundação novamente, com essas imagens —avalia o professor de Ciência da Computação Fabrício Benevenuto, responsável pela plataforma. Desde 2018, o pesquisador da UFF Viktor Chagas analisa 150 grupos pró-Bolsonaro no WhatsApp.

Após um período de menor interação, com a saída de usuários no pós-eleição, ele percebeu, no início do ano, uma rearticulação da engrenagem. A estratégia segue a mesma, com células piramidais de apoio divididas entre os grupos “de ataque”, em que o administrador publica um determinado link que deve ser disparado em massa; e os grupos públicos, de maior organicidade e com mais de um moderador, nos quais é permitido interagir. Números de telefones do exterior seguem presentes nesses grupos. Temas morais têm mais destaque na ação dos grupos, aponta Chagas:

— É interessante ver como esses grupos se articulam em função das estratégias governamentais. No momento em que Bolsonaro aciona determinado tema, sobretudo moral, essa rede é articulada para ganhar maior repercussão. Vimos isso no carnaval, no episódio do “golden

shower”. Esses temas morais são os que causam maior impacto, acionam um conjunto de afetos que mobilizam o sentimento conservador e reacionário que constitui o coletivo desses grupos. Para Chagas, as diferenças entre o movimento na eleição e agora estão relacionadas ao fluxo de informações entre os usuários. Antes ocorriam todos ao mesmo tempo. Agora, são ciclos que podem compor uma agenda maior. Segundo ele, no entanto, ainda não é possível detalhar o funcionamento dessa engrenagem:

— Há um tratamento profissionalizado das redes. Por quem ele é conduzido, como ele é executado, ainda é difícil obter respostas. Oficialmente, o governo federal usa um sistema de divulgação de informações pelo WhatsApp, que é dividido em três canais: para notícias sobre o Palácio do Planalto e a agenda do presidente, destinado a profissionais de imprensa; para conteúdos de interesse de estados e municípios, voltado a autoridades; e para assuntos de interesse dos servidores, como capacitação, concursos e serviços.

A publicação de Bolsonaro, na última sexta, passa ao largo do caminho institucional. Foi por meio de um desses canais que um servidor do Planalto divulgou por engano, segundo a Secretaria de Comunicação Social (Secom), um vídeo comemorativo do golpe de 1964, no último dia 31 de março. (Colaborou Gustavo Maia)

Bolha permanente

Grupos pro-governo continuaram ativas apos as eleiçoes

Ataques ao STF

O cardápio do STF, que ainda recorreu para manter a compra, é um escárnio. Um menosprezo total à inteligência do brasileiro e aos trabalhadores e pagadores de impostos. Tinha que prender todos. Aí o STM decide quem fica preso, quem vai ser fuzilado e quem vai ser enforcado em praça pública. Não é maldade não. Servirá de exemplo para as próxima gerações. Ataques aos ministros do Supremo Tribunal Federal são recorrentes nos grupos acompanhados pela plataforma Monitor do WhatsApp, da UFMG. No dia 9 de maio, após o STF recorrer à Justiça para manter licitacão para comprar lagosta, a imagem acima foi a segunda mais compartilhada nesses grupos

A balbúrdia

SOBRE O POLÊMICO CORTE DE VERBAS DAS UNIVERSIDADES. Pra você, que ficou o dia inteiro enchendo o saco depois que o Ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciou o corte de 30% das verbas da UnB, UFF e UFBA e ficou ironizando do que seria a BALBÚRDIA mencionada pelo Ministro, aí está uma pequena amostra. Temos que ter em mente que esses arruaceiros seguram as vagas GRATUITAS por 10, 12, 15 anos. PARABÉNS MINISTRO! Pela coragem, e que o MEU dinheiro seja direcionado aos verdadeiros alunos das federais, alunos que de fato estão estudando e evoluindo. Após o ministro da Educação, Abraham Weintraub, anunciar contingenciamento de verbas, no dia 30 de abril, o Monitor do WhatsApp foi inundado por fotos relacionadas às universidades. Das 30 imagens mais compartilhadas no WhatsApp em maio, 17 são referentes ao que bolsonaristas chamaram de “balbúrdia”

Defesa do decreto de armas

No dia 8 de maio, após Bolsonaro assinar o decreto de armas, imagens de apreensões feitas pela polícia começaram a circular. Duas das seis mensagens eram relacionadas ao tema, mas são ligadas a apreensões passadas feita pela Polícia Militar. Outras imagens sobre pontos do decreto também circularam nesses grupos

A reforma da previdência

Após a aprovação do texto da Reforma da Previdência na Comissão de Constituição e Justiça, a mensagem mais compartilhada no Monitor estava relacionada ao fim dos privilégios ao Legislativo e Judiciário. Outra mensagem, sobre a economia da reforma, foi a sexta mais compartilhada dentro da plataforma

Como são feitas as análises

Análise das informações do Monitor do WhatsApp, plataforma da UFMG que acompanha 350 grupos abertos do aplicativo de conversa, mostra ataques constantes de grupos pró-governo a temas relacionados a costumes e a fim de privilégios. Esses assuntos estão entre os mais frequentes nesses grupos. Cerca de 18.500 pessoas são monitoradas. Conteúdos como fotos, vídeos, áudios e textos são agregados pelo site.

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Boatos nas redes têm conexão com pautas do Planalto

Marlen Couto

19/05/2019

 

 

Fato ou Fake desmentiu mensagens falsas relacionadas ao combate à corrupção e com ataques a universidades federais

As mensagens falsas favoráveis ao governo mais disseminadas nas redes sociais e verificadas pelo Fato ou Fake, serviço de checagem do Grupo Globo, têm ligação com as principais agendas e pautas do presidente Jair Bolsonaro. Nos últimos dez dias, o Fato ou Fake desmentiu, por exemplo, medidas falsamente atribuídas à atual gestão relacionadas ao combate à corrupção e à impunidade, uma das principais bandeiras do presidente.

Um dos boatos dizia que Bolsonaro determinou a inclusão do CPF nas apostas da Mega-Sena, com o objetivo de combater fraudes. Não houve, no entanto, nenhuma portaria, decreto ou orientação da Presidência nesse sentido. Outro texto compartilhado entre apoiadores do presidente afirmava que o ministro da Justiça, Sergio Moro, mandou sancionar uma lei que aumenta o rigor da pena para o motorista que causar acidente com vítima dirigindo embriagado. Apesar de existir uma lei sobre o tema, o texto é de 19 de dezembro de 2017, quando Moro era juiz federal, e foi sancionado por Michel Temer.

Outra iniciativa da gestão anterior recentemente atribuída a Bolsonaro foram as obras na BR-163, no trecho entre Jaciara e Cuiabá, no Mato Grosso. Um vídeo com imagens da rodovia afirmava que a BR estava sem asfalto há 30 anos e que “agora Bolsonaro está fazendo com cimento de primeira qualidade”. Mas as imagens compartilhadas fora de contexto são de 2016 e a duplicação da via, iniciada em 2014, foi finalizada no ano passado.

Nos dias que antecederam as manifestações de estudantes contra cortes na Educação pelo país, o Fato ou Fake também desmentiu quatro boatos com ataques a universidades federais. Um deles, com mais de 38 mil compartilhamentos, afirmava que o corte de verbas para as instituições ocorreu porque “não conseguiram comprovar de que forma foram usados 30% dos recursos recebidos nos últimos anos”. Porém, o Ministério da Educação explicou que os cortes fazem parte de uma restrição orçamentária. Não há, portanto, relação com qualquer desvio de verbas.