O globo, n. 31330, 18/05/2019. País, p. 11

 

Dirceu se entrega à PF em Curitiba cinco horas após prazo

18/05/2019

 

 

Ex-ministro culpou mau tempo pelo atraso e não foi considerado foragido

O ex-ministro José Dirceu se entregou ontem à noite à Polícia Federal, em Curitiba, onde voltou a ser preso após a manutenção de sua pena pelo Tribunal Regional Federal (TRF-4). O petista chegou à cidade mais de cinco horas depois do prazo estipulado pela Justiça, que havia determinado que o ex-ministro tinha que se apresentar ontem até as 16h. A Polícia Federal, no entanto, informou que não chegou a considerá-lo foragido

porque seus advogados comunicaram sobre o atraso em razão do mau tempo na viagem de carro entre Brasília e a capital paranaense.

Na ação pela qual foi condenado na Lava-Jato, Dirceu é acusado de receber propina em um contrato superfaturado da Petrobras com a empresa Apolo Tubulars, entre 2009 e 2012. Antes de se entregar, o petista enviou um áudio a amigos próximos dizendo que, enquanto estiver na cadeia, vai ler mais e manter a saúde. “Vamos ver se conseguimos justiça a curto prazo, e vou ler mais, manter a saúde. Fiquem aí na trincheira de vocês que é também a nossa. Vamos à luta. O Brasil já está mudando, o vulcão está em erupção, um vulcão de jovens e mulheres”, disse.

Jantar de despedida

Na véspera da decisão do TRF-4, que negou seu recurso,

Dirceu já havia dito a um amigo que tinha certeza de que o Tribunal não acataria a tese de sua defesa.

— Vão me julgar amanhã e vão me prender —relatou. Na noite da última quartafeira, o ex-ministro decidiu se despedir e saiu de casa com a mulher, Simone, e a filha caçula

Maria Antônia para um dos poucos restaurantes de Brasília que costumava frequentar, o Fulô di Jirimum, na Vila Planalto. Uma hora depois, 200 pessoas, a maioria políticos do PT, já estavam no local ao som de uma banda de MPB. Nas mesas, cerveja e pratos nordestinos. Dirceu não quis beber, mas falou. Repetiu que suas chances de não voltar à prisão eram remotas e fez críticas ao governo de Jair Bolsonaro. O senador Humberto Costa (PT-PE) e o deputado federal Paulo Pimenta (PTRS) também discursaram. Já eram mais de 2h da madrugada quando os últimos convidados, entre eles Dirceu, deixavam o local. Essa foi a segunda despedida do petista na mesma semana. No domingo, foi para São Paulo almoçar com as filhas. Apesar de todos saberem que seu próximo encontro tinha grande chance de ser em um presídio, a volta de Dirceu para atrás das grades não foi tema da conversa. Também não houve choro.