O globo, n. 31329, 17/05/2019. Mundo, p. 23

 

Bolsonaro recebe prêmio de Personalidade do Ano em Dallas

Henrique Gomes Batista

Paola de Orte

17/05/2019

 

 

Em homenagem da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, presidente se confunde com seu próprio bordão

O presidente Jair Bolsonaro recebeu ontem a homenagem da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, que lhe concedeu o título de Personalidade do Ano, em Dallas, no Texas, após a polêmica com o prefeito de Nova York, Bill de Blasio, que acabou afastando-o da cidade. Na cerimônia, o presidente mostrou novamente preocupação com a situação política na Argentina e na Venezuela e elogiou a atual política em relação aos EUA, antes “tratados como se fossem inimigos”.

Mas, após 11 minutos, Bolsonaro acabou se confundindo e errando seu próprio bordão ao tentar adaptá-lo para finalizar o discurso com uma homenagem aos EUA:

—Termino com meu chavão de sempre. Brasil e Estados Unidos acima de tudo, Brasil acima de todos —disse, trocando “Deus” por Brasil.

Momentos de tietagem

O presidente ressaltou as dificuldades do povo venezuelano, que “está fugindo da violência, da fome e da miséria”, mas pediu que “não se esqueçam da nossa Argentina, que está indo para um caminho bastante complicado”. Bolsonaro manifestou de novo o temor de que a expresidente Cristina Kirchner volte ao poder nas eleições de outubro. O presidente afirmou que viajará em breve à Argentina e disse que buscará “colaborar com o país”, assegurando que não irá se intrometer em assuntos locais.

Bolsonaro também elogiou a parceria com o governo de Donald Trump e lamentou não ter ido a Nova York. O presidente cancelou a visita à cidade e transferiu a agenda para Dallas após críticas do prefeito Bill de Blasio. Foi substituído no evento de Nova York pelo governador de São Paulo, João Doria, que mandou um recado para De Blasio no discurso e pediu que o americano fosse gentil com o presidente do Brasil.

—No Brasil, a política até de há pouco, era de antagonismo a países como os EUA. Os senhores eram tratados como se fossem inimigos nossos. O Brasil de hoje é amigo dos Estados Unidos, o Brasil de hoje respeita os Estados Unidos e o Brasil de hoje quer o povo americano e os empresários americanos ao nosso lado —disse o presidente ao receber o prêmio.

Reiterando seu “amor” pelos nova-iorquinos, ele lamentou o ocorrido nos últimos dias.

—Não posso ir à casa de uma pessoa onde sua família não me queira bem.

Durante toda a sua estadia em Dallas, Bolsonaro encontrou um clima festivo. Grupos de brasileiros esperavam o presidente com mensagens de apoio e demonstração de tietagem e carinho. Apesar de alguns momentos de protestos —em uma vez os críticos estavam em número maior que os apoiadores —os grupos de brasileiros de verde e amarelo eram mais presentes.

Desta maneira, Bolsonaro conseguiu atingir um dos objetivos de sua viagem: ser bem recebido nos EUA, após diversos protestos e a rejeição do prefeito de Nova York.

Ontem, diante de uma plateia de empresários, disse ter “prestado continência” à bandeira americana, o que foi criticado nas redes sociais opositoras como um sinal de subserviência do presidente.

Sua quinta viagem internacional como presidente (ele já esteve na Suíça, EUA, Chile e Israel) foi marcada pelo improviso, por ter sido marcada em cima da hora. Com confirmações de agendas ocorrendo com poucas horas de antecedência, o presidente não assinou nenhum acordo, tratado e sequer visitou instituições públicas ou empresas.