Correio braziliense, n. 20461, 29/05/2019. Política, p. 4

 

Acusados de lavar quase R$ 1 bi

Renato Souza

29/05/2019

 

 

Uma nova fase da Operação Lava-Jato, autorizada pelo juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, desmontou um esquema suspeito de lavar R$ 989 milhões por meio do sistema bancário. De acordo com as investigações, dois gerentes do Bradesco, Tânia Maria Aragão de Souza Fonseca e Robson Luiz Cunha Silva, e o doleiro Júlio César de Andrade faziam a movimentação ilegal — de acordo com a Polícia Federal, dinheiro de origem ilícita era enviado para contas abertas em paraísos fiscais.

Foram expedidos mandados de prisão contra o trio, mas somente Tânia Fonseca acabou detida, na Barra da Tijuca, área nobre do Rio. Os outros dois alvos não foram localizados pelas equipes policiais, que saíram às ruas nas primeiras horas do dia.

As diligências tiveram início no ano passado, no âmbito da Operação Câmbio, desligo, que identificou uma quadrilha integrada por doleiros. Entre os esquemas beneficiados pelos desvios está o chefiado pelo ex-governador do Rio Sérgio Cabral e por Dario Masser, conhecido como o “doleiro dos doleiros”.

Em junho do ano passado, a operação levou para a cadeia 30 doleiros. De acordo com as investigações, eles enviavam dinheiro para três mil empresas offshore (em paraísos fiscais), divididas por 52 países. Na época, a PF apontou que o esquema movimentou U$ 1,6 bilhão (R$ 6,5 bilhões). Para enganar as autoridades, os envolvidos usavam uma ação chamada de dólar-cabo, em que dinheiro é recebido no Brasil e compensado no exterior. Na prática, os doleiros pagavam boletos, emitiam cheques de comércio, enviavam moeda em espécie para o exterior. Com isso, o Banco Central não conseguia rastrear os recursos. O dinheiro usado tem origem em esquemas de corrupção, desvios dos cofres públicos, sonegação fiscal e lavagem.

Procurado pela reportagem, o Bradesco afirmou que “tomou conhecimento do caso pela imprensa e que “as informações, quando oficialmente disponíveis, serão apuradas internamente”. A instituição bancária também afirmou que “se coloca à disposição das autoridades no sentido da plena colaboração e do esclarecimento sobre as apurações que estão sendo realizadas” e que “cumpre rigorosamente com as normas de conduta ética e governança vigentes para a atividade”.