Título: Revisão para pior
Autor: Hessel, Rosana
Fonte: Correio Braziliense, 08/09/2012, Economia, p. 11

Depois de registrar dados pouco animadores sobre o desempenho da indústria até julho de 2012, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) decidiu revisar as projeções de crescimento para o Produto Interno Bruto (PIB) deste ano e fechar as de 2013, que não serão tão otimistas quanto as do governo, que aponta para avanço de 4,5%. "Será preciso uma aceleração muito forte da atividade para chegarmos aos 4,5%. Realmente, no ritmo atual, será difícil atingir esse patamar", disse o economista Flávio Castelo Branco, gerente executivo de Política Econômica da CNI. "A euforia acabou e não vai se repetir tão cedo", sentenciou. Ele lembrou que o mundo, incluindo a economia brasileira, teve um grande ciclo de expansão até 2008, que dificilmente será retomado. "Desde a crise daquele ano, tivemos uma recuperação cíclica e, no setor industrial, houve, principalmente, uma tendência de estagnação. Agora, o caminho para o crescimento se dará pelo aumento da competitividade e do investimento", destacou Castelo Branco. Para a CNI, um passo importante foi dado com a redução de até 28% no custo da energia elétrica às empresas, medida anunciada anteontem pela presidente Dilma Rousseff e que será detalhada na próxima terça-feira.

O governo acredita que está no caminho certo para resgatar a confiança dos empresários, que se mantém em baixa mesmo com a contínua queda da taxa básica de juros (Selic). "O corte de juros está chegando ao fim. O governo também não tem muito mais o que fazer no câmbio. Portanto, há pouco espaços para manobras. Assim, daqui por diante, os estímulos deverão vir dos projetos de infraestrutura e da redução dos custos de produção, como o da energia, dos encargos sobre a folha de salários e da pesada carga tributária, que freia o consumo", afirmou o economista.

Infraestrutura Os novos números da CNI serão divulgados na próxima semana. Em julho, a entidade já havia reduzido a expectativa para o PIB deste ano, de 3% para 2,1%. A tendência é de que a projeção fique entre 1,5% e 1,8%, como crê todo o mercado financeiro, diante do pífio avanço da atividade no segundo trimestre, de 0,4%. "Esse resultado veio em linha do que a gente esperava, mas vamos rever nossos dados", disse Castelo Branco.

Segundo ele, os esforços do governo com os recentes pacotes de concessões na área de infraestrutura anunciados pelo governo, como os de rodovias e ferrovias, não estão sendo ignorados pelo empresariado. O problema é que tudo é feito de forma muito lenta, frustrando as expectativas. No seu entender, ainda está difícil para as empresas serem usadas em um projeto de investimento mais agressivo. "Os estoques ainda estão elevados e não há ambiente que estimule os investimentos", afirmou o economista da CNI.