Título: Artistas inovam em meio à tradição
Autor: Paganini, Arthur; Hassel, Rosaona
Fonte: Correio Braziliense, 08/09/2012, Cidades, p. 22

Em meio a toda pompa e circunstância que envolve as celebrações militares, uma turma de artistas quebrou o protocolo durante o desfile de Sete de Setembro, salpicando o Eixo Monumental com uma profusão de cores e referências da cultura nacional. Pela primeira vez, o governo federal abriu espaço para um cortejo artístico, parte integrante do festival de Teatro Brasileiro, em edição especial que homenageia o teatro de rua. A empreitada ficou a cargo do mítico ator e diretor teatral Hugo Rodas.

A missão não foi fácil, mas o resultado "ficou muito melhor do que o esperado", avaliou Rodas. Ele teve apenas um ensaio para colocar a ideia no prumo e precisou lidar com as restrições impostas pela organização do desfile: não seria permitido usar nenhum objeto com rodas na avenida nem criar carros alegóricos, evoluções, inventar paradinhas na bateria que tocava ou alterações do gênero. Mesmo assim, seu bloco fez bonito na avenida. "A resposta do público foi incrível", destacou o diretor, aprovando sua primeira experiência carnavalesca.

À frente dos cerca de 400 integrantes da trupe, atores da cidade abriram alas, vestidos de garis. Entre eles, estava Amir Haddad, personagem icônico do teatro de rua, criador do grupo cênico Tá na rua e de uma infinidade de peças, cortejos e autos encenados em espaços públicos. Sentado em sua cadeira de rodas, ele, de vez em quando, se erguia, abria os braços e era ovacionado pela plateia, aos gritos de "já ganhou", como se um Carnaval antecipado consagrasse seu campeão. "O mais bonito de tudo é ter um cortejo de natureza artística dentro de uma festa militar. Estou muito feliz que o governo tenha absorvido essa ideia", afirmou Amir Haddad.

Outro integrante do cortejo — que incluiu artistas de grupos como Nós do bambu, Meninos de Ceilândia, Boi do seu Teodoro, entre outros —, o ator Emerson Dourado sustentava bandeirolas juninas, em referências às cinco regiões do país . "É um momento ímpar, por podermos fazer um ato político dentro da programação oficial, mostrando que nós, artistas, precisamos de mais espaço em lugares cênicos e não cênicos", afirmou.

A folia durou cerca de meia hora e acabou com uma grande confraternização no estacionamento do Teatro Nacional. Uma hora depois da dispersão, os tambores do grupo feminino de percussão Batalá ainda ecoavam pelo lugar.