O globo, n. 31327, 15/05/2019. Mundo, p. 26

 

Eduardo Bolsonaro defende bombas nucleares

Natália Portinari

15/05/2019

 

 

Em evento na Escola Superior de Guerra, deputado e filho do presidente diz que Brasil deve desenvolver armas para ser ‘levado mais a sério’ e que o ‘politicamente correto’ o impede de falar sobre possível guerra com Venezuela

Em evento da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, da qualé presidente, Eduardo Bolsonaro (PSL- SP) defendeu ontem a posse de armas nucleares e disseque o“politicamente correto” o impede de falar abertamente sobre a possibilidade de guerra coma Venezuela. A reunião foi um encontro do parlamentar com alunos da Escola Superior de Guerra (ESG), onde estudam militares de Exército, Marinha e Aeronáutica.

— São bombas nucleares que garantem a paz. Se nós já tivéssemos os submarinos nucleares já finalizados, que têm uma economia muito maior dentro d’água; se nós tivéssemos um efetivo maior, talvez fôssemos levados mais a sério pelo (presidente da Venezuela, Nicolás) Maduro, ou temidos pela China ou pela Rússia —afirmou.

Eduardo frisou, porém, que não há debate no Congresso sobre o tema no momento. O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, assinado por 189 países, foi endossado pelo Brasil no governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1998. O Brasil também faz parte do Tratado de Tlatelolco, que veta o desenvolvimento de armas nucleares pelos países na América Latina e Caribe e foi assinado pelo conjunto das nações da região em 1968, com exceção de Cuba, que o ratificou em 2002.

—Esse assunto não é pauta nesse momento, eu sequer vejo debate nesse sentido. Agentes abeque, se o Brasil quiser atropelar essa convenção, tem uma série de sanções, é um tema muito complicado. Mas acredito que possa voltar ao debate aqui —ponderou Eduardo.

O deputado citou ainda Índia e Paquistão, dos poucos países que não assinaram o tratado global de não proliferação, como exemplos positivos.

—Paquistão e Índia, como é a relação dos dois? Se só um tivesse bomba nuclear, a relação não seria a mesma. Sou entusiasta dessa visão. Vão dizer que eu sou agressivo ou que quero tocar fogo no mundo, mas enfim... De fato. Por que o mundo inteiro respeita os Estados Unidos? —questionou. —Explodiram o World Trade Center, o que eles fizeram? Passaram por cima de tudo quanto é veto e invadiram o Iraque.

"Maduro é maluco"

O deputado ignorou o fato de que a justificativa dada pelos EUA para a invasão foi a suposta posse — nunca provada — de armas de destruição em massa pelo regime de Saddam Hussein, não uma cumplicidade com o 11 de Setembro.

Aos militares presentes no evento, Eduardo ressaltou que, em um eventual conflito com a Venezuela, eles teriam um papel importante e que as pessoas só dão valor às Forças Armadas “quando precisam”, já que há uma crença generalizada de que o Brasil é um país pacifista, que não entra em guerra. O deputado federal ainda chamou Maduro de um “maluco associado a terroristas”.

— Pois bem. Estamos tendo um problema com a Venezuela, e o politicamente correto me impede de falar algumas coisas, então tenho que falar que está tudo muito bem, que nós nunca entraremos em guerra e podem ficar tranquilos. É claro, é uma ironia o que eu estou falando —disse. —Do lado de lá da fronteira tem um maluco associado a terroristas e ao narcotráfico. A gente sabe que, a qualquer momento, se isso daí evoluir para um quadro pior, que é o que ninguém deseja, quem vai entrar em ação são principalmente os senhores.